segunda-feira, 24 de março de 2008

“SIM, NÓS PODEMOS”

Soluções simples e factíveis não exigem grandes somas de recursos financeiros.

Por
José Lemos
Engenheiro Agrônomo. Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Ex-Secretario de Assuntos Estratégicos e de Agricultura do Maranhão em 2005/2006. lemos@ufc.br. O Artigo pode também ser lido nos endereços

Esta é a frase predominante na campanha do Senador negro Barack Obama na disputa em que busca ser designado para ser o candidato do Partido Democrata nas eleições deste ano na maior economia do planeta, que passa por momentos difíceis, em grande parte, pelo despreparo intelectual e gerencial do atual presidente. A disputa este ano ao cargo mais poderoso, e de maior prestígio no mundo, terá um condimento adicional: pela primeira vez uma mulher ou um negro o disputarão por um dos grandes partidos políticos norte-americanos.
Mas a passagem acima foi colocada para destacar a frase que tanto impacto vem causando na campanha do Senador Obama. Tornou-se verdadeiro “grito de guerra” dos seus adeptos (que não são poucos) por ele possuir uma retórica fluente, firme e postura sedutora de grandes massas. A frase “Sim, nós podemos” bem que pode servir de mote para qualquer uma das economias pobres que dispõem de potencial para deslanchar um ciclo virtuoso de progresso social e econômico, inclusive a maranhense.
Nos países desenvolvidos, sobretudo da Europa, existem grupos de consumidores interessados em adquirir bens egressos de economias pobres, produzidos por grupos sociais em busca de melhores qualidades de vida. Há uma fatia expressiva de mercado para itens produzidos sem a agressão ao ambiente. São os chamados “fairtrade” (comércio justo) que priorizam a aquisição de bens que agregam valor social e ambiental na sua composição.
Como seriam esses bens? Seriam artesanatos produzidos por associações cadastradas e com o seu trabalho sendo reconhecido como de interesse social. Seriam demandas por tecidos ou por fios de algodão coloridos, já bastante produzidos na Paraíba, mas com potencial para expansão para outros Estados. Seriam bens egressos de áreas nativas da Amazônia ou do Nordeste que são cultivados ou extraídos utilizando manejo adequado, preservando a fauna e a flora nativas. Cita-se, por exemplo, o caso da juçara no Maranhão (ou o açaí como é conhecido mundo afora). O fruto da juçareira tem larga demanda nesses mercados tanto como alimento saudável e como produto energético utilizado em academias de escultura do corpo. Da juçareira manejada de forma correta, mantendo três palmeiras por touceira (“mãe”, “filha” e “neta”), desbastando as excedentes produz-se o palmito de forma sustentável. A juçareira por ser monocotiledônea, tem um sistema radicular denso, que é excelente para segurar erosão e recompor as matas ciliares de rios e de outros corpos de águas superficiais que estejam em agonia. Por essas características a juçara é um excelente item para compor a cesta de bens para o “fairtrade” .
No Maranhão existe uma experiência exitosa de um grupo de agricultores e extrativistas familiares que já participam de “fairtrade”. Trata-se da Cooperativa Agroextrativista de Lago do Junco (COOPALJ). Esta cooperativa adquire as amêndoas das quebradeiras de coco babaçu através de oito (8) cantinas localizadas em pontos estratégicos do município. As quebradeiras de coco entregam a sua produção de amêndoas nessas cantinas e recebem um preço diferenciado para cima (em relação ao que é praticado nos mercados locais). Elas podem optar em receber o pagamento em dinheiro ou em mercadorias. Como a Cooperativa adquire os mantimentos com descontos, são repassados aos associados por um preço diferenciado para baixo (também em relação aos mercados locais). Um caminhão da Cooperativa recolhe as amêndoas e leva para a sede. Junto com as amêndoas são coletados os resíduos, que são o epicarpo e endocarpo, de elevado poder calorífico. Esses resíduos alimentam as fornalhas que transformarão as amêndoas em óleo bruto. Todo o óleo é exportado para a Inglaterra através do “fairtrade”. A demanda é cativa e os preços são diferenciados porque os importadores conhecem todo o sistema de produção solidária. Todos os sócios recebem as sobras que são distribuídas de forma proporcional, depois de cobertas as despesas operacionais da Cooperativa.
É bastante provável que o biocombustível utilizado no Boeing 747 que voou de Londres para Amsterdã no final do mês passado tenha sido fabricado a partir do óleo de babaçu produzido pela COOPALJ que movimenta recursos superiores ao FPM de Lago do Junco. Trata-se de uma grande experiência que os maranhenses deveriam conhecer e que talvez valha a pena ser adotada como inspiração e modelo. Como aquela, podem ser desenhadas muitas alternativas de produção solidária que tem mercados cativos através dos “fairtrade”. Como diria o Senador Obama, “Sim, Nós Podemos”. Eu acrescentaria: Basta que queiramos e tomemos decisões ousadas, com responsabilidade e competência técnica, pois soluções simples e factíveis não exigem grandes somas de recursos financeiros.

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