domingo, 25 de dezembro de 2011

No que transformaram o Natal

José Lemos Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Escreve aos sábados neste espaço. Os dias que antecedem o Natal são carregados de emoções especiais. No Natal fica-se feliz em ter por perto as pessoas queridas. Às vezes não é possível reunir todas, mas fazemos o possível para compensar as ausências com boas lembranças. Cria-se um clima que torna quase impossível não se cair nas armadilhas do lugar comum e das fases prontas, quando desejamos felicidades às pessoas, mesmo às estranhas. É o “clima natalino.” Neste clima é que quero agradecer, do fundo do meu coração, à direção do O Imparcial [de S. Luís, Maranhão] que, mantendo comigo um compromisso informal que já consome mais de cinco (5) anos, publica semanalmente, sempre aos sábados, artigos para os leitores do jornal. Textos sem pretensões maiores, que não a de contribuir, modestamente, para a reflexão dos leitores acerca de temas que estão na ordem do dia. Um trabalho que, embora consumindo algumas horas do meu cotidiano, me dá muito prazer, e tenho me esforçado para sempre mandar textos inéditos. Pode-se repetir o tema, mas jamais o conteúdo em que é abordado. Normalmente o processo de criação do artigo começa nas manhãs das quintas-feiras, bem cedinho, enquanto me exercito para manter a forma física e mental. Às tardes daquele dia, suspendo as minhas tarefas docentes para começar escrever o texto. A inspiração do tema que discorrerei pode vir da leitura de jornais; de informação feitas por um organismo oficial do Brasil ou do exterior; da observação do cotidiano; da indignação causada por falcatruas de políticos divulgadas pela imprensa; do que produzo em pesquisa na Academia; ou mesmo da tentação de falar de emoções, como é o caso deste artigo que será publicado nesta véspera de Natal. Uma vez decidida a temática, sento e escrevo de uma só vez o que vem na cabeça. Espécie de “brain storm” (tempestade de idéias convergentes para o tema). Faço a primeira escrita de um só fôlego. Salvo o arquivo e, nas sextas feiras pela manhã, faço a “lapidação” do texto tentando trazê-lo para o tamanho do espaço que o jornal disponibiliza. À tarde faço os últimos retoques antes de enviá-lo para a publicação. Envio também para alguns estudantes, para colegas espalhados desde o Rio Grande do Sul ao Acre. Alguns deles têm a gentileza de fazerem criticas e sugestões que agrego para os futuros textos. Neste artigo quero agradecer também aos leitores do O Imparcial, ao tempo em que lhes mando, carinhosamente, a minha mensagem de que tenham um Natal cheio de Luz e de Paz. Que todos possam reunir as famílias e os amigos para momentos de afagos. Por isso também queria refletir sobre o Natal, tal como eu vivenciei, quando ainda criança e adolescente em São Luís, e no que se transformou o festejo nos dias de hoje. Por aquela época as crianças, sobretudo as carentes, como era o meu caso, esperavam o Papai Noel sem muita convicção de que ele viria, porque sabiam que o “Bom Velhinho” não costumava freqüentar as crianças das famílias mais humildes. Mas o Natal era uma festa que se centrava no Aniversariante do dia. Uma festa cristã por excelência. Por causa disso havia eventos teatrais como os “Pastorais” que eram encenados por várias partes da cidade. Eu acompanhei alguns com os olhos brilhantes. As famílias, sobretudo as mais humildes, construíam bonitos e sugestivos Presépios que ficavam na sala. O primeiro e mais importante compartimento daquelas casas muito simples e sem mobília. Os donos das casas ficavam orgulhosos em verem estampada nos olhos e na expressão, a alegria dos visitantes, que reverenciavam aquele pequeno “Templo de Louvação” ao mais importante Aniversariante do mês. O Presépio era armado nos primeiros dias de dezembro e, no dia seis de janeiro (dia dos Santos Reis), era feita a “queima das palhinhas”. Oportunidade em que se reuniam parentes e vizinhos. Ao final daquele belo ritual de orações e de cantorias, eram servidos bolos caseiros de diferentes sabores, devidamente irrigados pelo nosso guaraná Jesus. Quantas lembranças gostosas! Os rituais natalinos mudaram muito nos dias de hoje. Há muitas luzes que deixam as cidades e, sobretudo, as vitrines das lojas mais bonitas e atrativas, pois este é o objetivo. Não tem mais presépios nas casas, salvo em persistentes famílias que ainda preservam aquela bela tradição. O Aniversariante do dia de Natal é praticamente esquecido. O comercio tomou conta das festas natalinas. As diferentes mídias esmeram-se em destacar quanto o faturamento do ano será maior do que no ano anterior. As crianças de famílias mais abastadas são precocemente expostas a um consumismo exorbitante. As crianças carentes, agora mais numerosas, sofrem com o bombardeio da propaganda que exibe brinquedos que sabem jamais o Papai Noel ousará deixar sob as suas redes. Assim o Natal se transfigurou numa festa que é, a um só tempo, a apologia ao consumismo, mas também, expõe, com crueldade, a ferida da apartação social que se observa neste imenso Brasil.

Diálogo sobre transformação da sociedade

Troquei mensagens com um amigo acerca de nossa intervenção para melhorar a sociedade. A conversa foi boa e tocou em pontos como método de trabalho, melhor hora de agir, concepções de pessoa humana e de sociedade, diferenças religiosas. Veja em que você concorda. Meu amigo acha que primeiro vem a transformação pessoal Concordo com você neste aspecto, mas acho que não é ao mesmo tempo. Talvez quase ao mesmo tempo. Ou então: a coletividade representa a média dos esforços pessoais. Digo que na vida tudo tem de ser feito ao mesmo tempo Meu grande, A natureza nos dá modelos de processamento de várias realidades de vida e na vida. Dela podemos tirar lições para nosso mundo pessoal e social, sem dúvida, e é nisso que o ambientalismo atual aposta. A planta depende do meio [solo, ventos, luz e outros elementos], recebe do solo nutrientes e carbono, devolve oxigênio e material que aduba. Tudo ao mesmo tempo, agora. Entretanto, ela tem um tempo para processar elementos, florir e amadurecer os frutos. Na mesma planta, há ciclos de processamento simultâneo e outros que começam em uma e terminam em outra estação. Só algumas árvore dão frutos o tempo todo. Precisamos de sabedoria para distinguir o que devemos processar continuamente daquilo que demanda fazer, tipo uma coisa hoje, outra amanhã. Opto por mudanças simultâneas no pessoal e no social, pois enquanto construímos torres aprendemos a construir e aperfeiçoamos as técnicas da construção. Isso de modo genérico. Há coisas, entretanto, que só fazemos bem em fases posteriores. Com cinco anos eu não faria o discurso que pronunciei há pouco... mas faria um no nível daquela idade. Em resumo: prefiro fugir da tentação de nada fazer, alegando estar em preparação, argumentando que primeiro devo me transformar, para depois ajudar na transformação do mundo. Neste caso, prefiro encarar que ocorre tudo ao mesmo tempo, agora. Meu interlocutor continua a discussão Resumindo minha opinião a respeito das últimas discussões: Na verdade, eu não sou dono de nada, apenas das minhas virtudes e dos meus vícios. As pessoas apenas administram temporariamente os recursos de que julgam ser donas. Eu posso, em razão dos meus esforços, honestamente, aumentar a quantidade de recursos administrados, para benefício principalmente dos outros. A riqueza e a pobreza são duas grandes provações. Elas testam muitas virtudes e vícios. Algumas pessoas pensam que valem pelo que têm. É uma ilusão! Nós valemos pelo que somos! Minhas palavras: É isso mesmo, Amigo! As relações humanas têm suas leis, frutos de comportamentos e aceitos socialmente, “naturalizados” pela repetição. A sociedade nos transmite certas crenças de que esses são comportamentos certos e dignos de serem imitados. Assim, os Silvios Santos da vida podem nem se dar conta de que comandam uma engrenagem pela qual sugam riquezas do trabalho mal pago de seus semelhantes. Também nós trabalhadores podemos achar natural os gerentes de um grande banco ou de outra empresa qualquer [os ceos] ganharem “os tubos”, quando não precisam de tanto para sua sobrevivência. Nós nem sempre percebemos que os gerentes de hoje são os capatazes dos tempos da escravidão à moda antiga e que estamos em outro sistema escravagista. Em tal sistema, a “folga” alguns e o “aperto” de bilhões de seres humanos nos parecem algo natural, mas não é: são frutos da sociabilidade econômica engendrada por nós nos 3 últimos séculos... Podemos ser pessoalmente virtuosos, mas estamos em um sistema iníquo, no qual, às vezes saboreamos com prazer pratos que nossos algozes prepararam com nossos próprios cérebros => Hanibal [kkk]. Alegre-se, porém, porque isso não é uma maldição dos deuses e podemos construir uma sociedade melhor – de dentro da “matrix”, transformá-la. Feliz Natal! Provocação de meu amigo: Acho que você está com uma visão um pouco dicotômica, com relação a patrões e empregados. Todos temos nossas culpas e responsabilidades, em qualquer posição social que estejamos. Cabe a nós superá-las, não só lutando por um mundo melhor, mas sendo pessoas melhores. Meu "discurso": Amigo, prepare-se. Essa conversa vai ser longa. kkk Também não há dicotomia entre “lutar por um mundo melhor e ser pessoas melhores”. Até porque somos seres integrais e integrados no meio em que vivemos. Como disse alguém, “quem se eleva, eleva o mundo”, ou seja, quanto melhor a pessoa, melhor o meio a seu redor, pois ela “irradia” melhorias no ambiente em que está. Estamos de acordo nisso. Esta é a parte pessoal da análise do mundo real em que vivemos. Enquanto humanidade, criamos realidades que nos oprimem, muitas das quais nasceram com a finalidade de nos libertar de certas amarras. Exemplo rápido: criamos a democracia para nos livrar da tirania monárquica. Quem disse que os presidentes dos EUA não são tiranos atuais? Ou seja: a democracia criou seu contrário. Eles jamais admitirão isso, e tentam nos passar como real a ilusão de que eles são modelo de democracia. Conclusão: há uma tirania real que tentam nos passar [isso é pura ideologia] como o melhor dos mundos. Precisamos fugir dessa armadilha. O mesmo se aplica à economia: conjunto de relações de exploração em que uns instalam empresas que só funcionam “bem” se outros vendem seu trabalho por um preço abaixo do valor. É assim que funciona, mesmo que o dono e o empregado sejam, individualmente, santos e bem intencionados. O “sistema” criado por nós funciona assim, por mais que isso nos seja repulsivo. Há motivo de esperança, sim: porque poderemos criar outro sistema, até a partir desse, assim como a borboleta evolui da lagarta. Entretanto, só chegaremos à borboleta, se admitirmos a realidade lagarta. Não inventei isso, porque isso existe, da mesma forma como não criei a dicotomia patrão-empregado, iníqua como ela é. Ela é assim, independente de minha vontade de que ela não o seja. Agora: como superá-la sem admiti-la? Os donos do sistema querem fazer o trabalhador crer que a bomba atômica é uma bolinha de árvore de natal, porém isso é pura ideologia. Precisamos sair da ideologia [mundo das aparências] e enfrentar o real como ele é, por mais que isso nos doa. Para ficar bem claro: admitir este real não significa demonizar os empresários e angelicar os empregados. Ambos podem estar no mesmo patamar, tentando superar essa realidade; como podem estar se explorando mutuamente, a ponto de o oprimido de hoje ser o tirano de depois de amanhã e vice-versa. [como você disse, Todos temos nossas culpas e responsabilidades]. Outra possibilidade: ambos serem vítimas nesta “canoa furada”, sem o saber, e, por nem saberem, se satanizarem mutuamente. Outra hipótese: sabem, mas fingem que não é com eles. Na perspectiva da superação desse estado de coisas, temos algumas responsabilidades irrefutáveis: contribuir para que outros se dêem conta do mundo real; testar experiências que construam um mundo novo; fazer tais testes sem violência; contribuir para que quem se torna consciente do mundo real não degringole para a violência, o que acontece com certa freqüentemente, até porque a violência aparece como solução fácil. Ter a sabedoria de não condenar por antecipação os violentos, estes muitas às vezes em reação àquela outra violência institucionalizada, mas em vez da condenação, tentarmos descobrir o que está por trás da violência dos violentos, se não é aquela violência maior, para tentarmos extingui-la e “converter” os violentos de ambos os lados, pois todos dois tanto causam como sofrem violências. Não é meu papel convencer você. Estou convencido de que algo precisa ser feito e estou fazendo, mas com a humildade de admitir que posso até estar fazendo errado, e, ao mesmo tempo, com a esperança de estar fazendo o que precisa realmente ser feito para melhorar o mundo, o que é tarefa coletiva: para melhorar o mundo, o amor de todo mundo, grita um grupo de Fortaleza. Palavras de meu amigo: Nós somos imperfeitos por que o sistema é iníquo? Ou o sistema é iníquo por que somos imperfeitos? De qualquer forma, se mudarmos os homens mudaremos o sistema. Pode ser que a revolução comece de dentro pra fora. A revolução moral preceda a revolução social, política e econômica. Minha opinião: Eu gostaria de ouvi-lo mais acerca de meu longo discurso. Quando você entra nesse plano de sistema criado por Deus, a discussão para, os argumentos emudecem. Eu ainda gostaria de ouvir suas concordâncias, sugestões e discordância dentro do sistema criado pelo homem, como forma de instigarmos nossa mente, criatividade, no sentido de ajudarmos "a mudar o sistema iníquo e aceitar o sistema perfeito". É por aqui mesmo. Também acredito que "As mudanças podem ser graduais, mas acontecem. Que trabalhemos pelas mudanças necessárias e que sigamos com fé no futuro". Opinião de meu interlocutor: O sistema criado pelos homens é iníquo. Mas o sistema criado por Deus é perfeito. Aquele está dentro deste. Ter consciência disto ajuda a mudar o sistema iníquo e aceitar o sistema perfeito. O que precisa ser feito será feito. As mudanças podem ser graduais, mas acontecem. Que trabalhemos pelas mudanças necessárias e que sigamos com fé no futuro. Minhas palavras a respeito: Do ponto de vista cristão, como de várias religiões, o homem é um ser apartado de seu Criador e tudo o que ele inventa tem a marca dessa alienação. Joio e trigo formam o todo, individual e social se influenciam mutuamente. É o mesmo que a nova visão de mundo proposta para as ciências chama de holismo, daí as ações precisarem ser ao mesmo tempo de transformação social e individual. Agostinho Neto, aquele revolucionário de Angola compreendeu isso, ao escrever que “não basta que a nossa luta seja justa e pura; é necessário que a justiça e a pureza estejam em nossos corações”. Juntos aí o social e o pessoal.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

“Cidade dos agrotóxicos” tem o dobro da taxa mundial de câncer

Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprova relatório sobre contaminação por agrotóxicos Da Agência Câmara de Notícias, via Mariana Starling 9 de dezembro de 2011 às 12:34 O relatório de Padre João apresenta várias sugestões para controlar o uso de agrotóxicos. A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, dia 7 de dezembro, relatório da subcomissão que analisou as consequências do uso de defensivos químicos para a saúde humana e o ambiente. O relatório da Subcomissão sobre o Uso de Agrotóxicos e suas Consequências à Saúde será transformado em projetos de lei e em recomendações para os órgãos de governo. Resultado de seis meses de trabalho, o parecer do deputado Padre João (PT-MG) aponta a correlação entre o aumento da incidência de câncer e o uso desses produtos na agricultura. A cidade mineira de Unaí está entre os exemplos. Com presença marcante do agronegócio, o município registra 1.260 novos casos da doença por ano a cada 100 mil habitantes. A incidência mundial média é de 600 casos por 100 mil habitantes no mesmo período. Contaminação O texto aprovado menciona também estudo realizado na cidade de Lucas do Rio Verde (MT) que constatou a presença desses compostos no leite de 100% das nutrizes (mulheres que estão amamentando) analisadas. “Além das proteínas, vitaminas e anticorpos, a amamentação dos recém-nascidos de Lucas do Rio Verde também fornece agrotóxicos”, afirma Padre João. Na pesquisa também foram observadas, segundo o relatório, malformações em 33% dos anfíbios de um curso d’água da região e de 26% em outro. No grupo de controle, o índice teria ficado em 6% de casos. Propostas Como forma de reduzir o que chama de “crescente envenenamento dos campos”, o relator apresentou proposta para reduzir de forma gradativa os benefícios fiscais e tributários concedidos aos agrotóxicos. Segundo o texto, hoje o produto conta com redução de até 60% do ICMS e isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS/Pasep e Cofins. Sugere-se ainda a adoção de incentivos – como mecanismos tributários e linhas de crédito e financiamento público – à produção agroecológica. “Há exemplos de que no longo prazo esse tipo de agricultura é viável”, sustenta o relator. Recolhimento de embalagens Padre João explicou que há problemas sérios relacionados a registro, comercialização e rotulagem dos agrotóxicos no País. Apesar de exigido por lei (9.974/00), o recolhimento e a destinação adequada das embalagens de agrotóxicos também seriam falhos, de acordo com a subcomissão. O relator destacou que existem também irregularidades no recolhimento obrigatório de embalagens vazias desses produtos. Os deputados da comissão constataram que no Amapá, por exemplo, não existe sequer sistema de recolhimento. “As pessoas acham que estão se alimentando bem porque na mesa tem verdura, legumes, frutas, mas todos têm certo percentual de agrotóxico e alguns com percentual além do tolerável, além do permitido. Em algumas culturas, os resíduos são de agrotóxicos proibidos para aquela cultura.” Segundo a Anvisa, o pimentão, o morango e o pepino lideram o ranking dos alimentos com maior número de amostras contaminadas por agrotóxico em 2010. Controle rigoroso A subcomissão constatou ainda que não há segurança no controle da comercialização dos agrotóxicos, porque as informações do receituário agroeconômico, previsto em lei, simplesmente não chegam até os órgãos do governo. Com isso, nem estados nem União possuem dados concretos sobre o mercado dos agrotóxicos no Brasil. O relatório aprovado recomenda que o controle e a fiscalização do setor sejam mais duros. O texto aponta também a necessidade de mais técnicos e fiscais, que hoje não chegam a 100 para cuidar de todo o território nacional. Padre João também propõe que a receita, hoje em duas vias, seja emitida com cinco cópias – uma para o agricultor, uma para o comerciante, e as três outras para os órgãos de fiscalização do governo. Há ainda uma sugestão para que se adote para os agrotóxicos um sistema de controle semelhante ao existente para os remédios controlados. Consumo de agrotóxicos O relator lembrou que atualmente o Brasil ocupa a primeira posição no volume consumido de substâncias agrotóxicas em todo o mundo. “Sendo a nossa agricultura fortemente embasada no uso de substâncias químicas para o controle de pragas e doenças vegetais e de ervas invasoras, quanto maior a produção e a área plantada, maior vem sendo o volume de agroquímicos utilizados. Mas o fato a ser destacado é que no Brasil, o aumento do consumo é superior ao aumento da produção agrícola, ampliando ainda mais a preocupação quanto ao tema.” Padre João ressaltou ainda em seu relatório que paralelamente ao aumento no consumo, o Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem constatado a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos acima dos limites máximos recomendados e a presença de produtos não permitidos para determinados alimentos. “Afora isso, nas fiscalizações junto às empresas produtoras se observam recorrentemente algumas irregularidades. Os desvios são certamente sentidos pelo solo, pela água, pelo ar e nas condições de saúde dos seres humanos”, acrescentou. Outras sugestões da subcomissão de agrotóxicos Como resultado da subcomissão que analisou o uso de agrotóxicos no País, instalada em maio deste ano, surgiram ainda outras propostas para tornar o controle e a fiscalização do setor mais rígidos e capacitar o setor de saúde. Entre as providências a serem tomadas constam: - venda de agrotóxicos feita somente com capacitação do produtor que compra o produto; - mudança no prontuário de atendimento médico, para identificar intoxicações por agrotóxicos; - contratação de mais fiscais e técnicos, que hoje não chegam a 100 para cuidar de todo o território nacional; - oferecimento de assistência técnica específica a produtores rurais para o uso de agrotóxicos; - adequação na grade curricular de cursos na área de saúde, para maior capacitação na área de toxicologia; - maior fiscalização dos rótulos dos agrotóxicos; - controle da contaminação das águas pela Agência Nacional de Águas (ANA).