sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Maranhão: Trajetória de Progresso Interrompida

José Lemos*

O Maranhão tem terras férteis, tem clima privilegiado, tem a segunda maior costa entre os estados brasileiros, tem regime pluviométrico intermediário entre o excesso de chuvas da Amazônia e a secura do Nordeste semi-árido. O Maranhão tem uma rede hidrográfica privilegiada e um subsolo riquíssimo.

Nesse estado encontramos, em síntese, praticamente todos os ecossistemas que prevalecem no Brasil: Pantanal na Baixada Ocidental do estado; Cerrados, Litoral, Amazônia, Sertão com pelo menos 46 municípios com características de semi-árido. Tem Deserto nos imensos Lençóis Maranhenses de paisagem árida, mas bela e apta para ser explorada em turismo de aventura. O Maranhão tem uma das maiores áreas de manguezais do planeta, um dos ecossistemas mais ricos em beleza e biodiversidade.

No Maranhão a natureza se manifesta em plenitude. Quando a floresta nativa é eliminada emergem as palmeiras de babaçu, uma riqueza ainda por ser explorada, mas que já consegue fomentar o sustento de milhares de famílias maranhenses em que a única fonte de renda monetária é extraída dos seus frutos: O coco do babaçu. Dele, uma vez retirada as suas amêndoas (de múltiplas utilidades, inclusive para a produção de biodiesel), produz-se um carvão de elevado poder calorífico que pode e deve fazer parte da matriz energética das zonas rurais paupérrimas onde ainda se usa a lenha e o carvão de madeira (cada vez mais escassa) para o cozimento de alimentos e para a fornalha de padarias, olarias e outros empreendimentos de todos os portes.

O Maranhão dispõe de uma população ávida por encontrar o seu caminho. Um povo que, infelizmente, ainda se contenta com muito pouco. Gente que foi deixada com baixa escolaridade e desinformada, justamente para viabilizar o enriquecimento de alguns poucos que retiram da sua ignorância a sua fonte de poder, enriquecimento, arrogância, prepotência, para arregimentar bajuladores e difamar adversários.

Não obstante todo o seu potencial, o Maranhão é um estado empobrecido, infeliz dadas as escolhas que lhe são impostas pela força do dinheiro, da propaganda enganosa, de um sistema político distorcido, e por uma justiça parcial, que lhe impôs governante sem votos, e que não julga recursos contra essa gente. Recursos que hibernam em gavetas, sabe-se lá por quais motivações.

O Maranhão experimentou, nos anos noventa, do século passado, um dos piores períodos de toda a sua trajetória econômica e social. Mesmo no imediato pós-guerra, não se observou situação tão dramática como aquela pelo qual o Estado passou naquela década, A década perdida para a maioria dos maranhenses, mas não para aqueles que dominaram o Estado (os de sempre) que ficaram mais ricos e mais poderosos.

O desastre administrativo que aconteceu nos anos noventa culminou com o Maranhão entrando no novo milênio com todos os seus indicadores sociais e econômicos mais ruins do que em qualquer outro estado da Federação.

Com efeito, em 2000 o Maranhão detinha o pior IDH e o maior Índice de Exclusão Social entre os estados brasileiros. O PIB per capita era o menor do Brasil e não passava de miseráveis R$1.615,77 por ano, que representava apenas 89% do salário mínimo daquele ano. A escolaridade média dos maranhenses em 2000 era de 4,1 anos. O estado tinha a maior taxa de analfabetos do Brasil.

Entre abril de 2002 e abril de 2009 assumiram governantes com outra visão. Governos que, fazendo o que seria o óbvio, como incentivar as vocações do estado, criar escolas de nível médio em todos os seus 217 municípios, contratar professores, fazer programas de combate ao analfabetismo, reverteram aquele panorama sombrio. Simples assim. Óbvio demais para quem não consegue enxergar um palmo adiante dos interesses familiares e dos amigos.

Como decorrência daquele curto período de governo (2002/2008) a escolaridade média dos Maranhenses saltou em 2008 para 6,3 anos e a taxa de analfabetismo de maiores de 10 anos regrediu significativamente. Ainda era muito alta (17,6%), mas o estado já não estava mais na triste posição de ser líder neste indicador degradante. Situação que foi transferida para os companheiros de infortúnio do Piauí e das Alagoas.

O IBGE acaba de divulgar o PIB dos estados para 2008. Pois bem o Maranhão foi o segundo estado brasileiro a apresentar a maior taxa anual de crescimento entre 2000 e 2008 deste indicador (17,5% ao ano). Apenas Tocantins, com taxa anual de crescimento do PIB per capita de 20,2% o superou. Os maranhenses chegaram em 2008 com um PIB per capita que não era o menor do Brasil (já não o foi desde 2005), cujo valor de R$6.103,66 representava 122,6% do salário mínimo daquele ano. Ainda muito baixo, mas, sem duvida, bem melhor do que o desastre que foi deixado em 2000 e em 2001. Naquele ritmo, projetamos que o Maranhão chegaria em 2010 com um PIB per capita de R$8.426,87, o que representaria 138% do salário mínimo daquele ano.

Infelizmente esta marca não foi alcançada, pela vontade da Justiça que houve por bem destituir um Governo legitimado pelo voto da maioria dos maranhenses e colocar no poder quem perdeu a eleição em 2006. Exatamente aqueles responsáveis pela década perdida dos anos noventa. A letargia do governo instalado em abril de 2009 no Estado fornece indícios fortes para essas previsões. Até porque melhorar a vida dos maranhenses nunca foi o objetivo dessa gente.

Aos maranhenses pobres não restará alternativas a não ser fazer o que fizeram mais de um milhão deles que, durante a década de noventa, emigraram para locais menos ruins do que aquele imposto pelos "donatários" do estado. Pobre Maranhão!

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*Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre” já na terceira edição. Acesse: www.lemos.pro.br e lemos@ufc.br