sexta-feira, 21 de março de 2008

Haverá Água para Todos?

Texto-reflexão para o Dia Mundial das Águas, 22 de março. A data foi criada pela ONU, por determinação da 2ª Conferência Internacional sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, a Rio 92.

Pesquisa de
Vólia Barreira


Nos últimos 60 anos a população mundial duplicou. No mesmo período, o consumo de água pelas diferentes atividades humanas aumentou em 7 vezes, enquanto a quantidade de água existente permaneceu igual. O aumento da população urbana, aliado à poluição e ao mau uso da água, compõe um quadro preocupante. Garantir água de boa qualidade nas grandes cidades, será um dos principais desafios deste século.
Estresse hídrico é a relação entre a disponibilidade natural e os diversos usos que o homem faz da água, como a produção de alimentos, o abastecimento público, a geração de energia, a diluição de esgotos, entre tantos outros. O estresse hídrico já é uma realidade em várias metrópoles mundiais.
Com as previsões de alterações climáticas no cenário mundial, ocorrerão mudanças nos regimes de chuvas em vários locais do planeta, inclusive no Brasil, que prenunciam um cenário ainda mais sombrio de restrição do acesso à água em um futuro próximo, com proporções gigantescas, caso as previsões se confirmem nas próximas décadas.
O Brasil, que possui 12% de toda a água limpa do planeta, é um dos países que mais desperdiçam água no mundo.
Um estudo divulgado em novembro passado pelo Instituto Socioambiental – ISA, lançou luz sobre a situação do abastecimento público e do saneamento básico nas 27 capitais brasileiras. O levantamento revela que 45% da água retirada dos mananciais das capitais são desperdiçados em vazamentos, submedições e fraudes. A quantidade de água jogada fora é estimada em 6,14 bilhões de litros por dia (o equivalente a 2.457 piscinas olímpicas) e seria suficiente para atender ao consumo diário de 38 milhões de pessoas – isto é, toda a população de um país como a Argentina!


Alguns dados da pesquisa são preocupantes:

ABASTECIMENTO. Apenas seis das 27 capitais, atendem à totalidade de sua população; apesar da média de cobertura ser de 90%, Porto Velho, Macapá e Rio Branco cobrem apenas 30,6%, 58,5% e 56,2% de suas populações, respectivamente.
CONSUMO. A média de consumo per capita nas capitais é de 150 litros por dia, acima portanto, do recomendado pela ONU, que é de 110 litros/dia; São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória apresentam os maiores consumos: mais de 220 litros/habitante/dia.
PERDA (por vazamentos e outros fatores). A água perdida diariamente nas capitais seria suficiente para abastecer 38 milhões de pessoas/dia; em termos percentuais, a campeã do desperdício é Porto velho, com 78,8% do total; em termos de volume perdido, o Rio de Janeiro ganha, jogando fora diariamente um volume igual ao de 618 piscinas olímpicas. Em Fortaleza, a perda de água chega a 47,9%, equivalente a 99 piscinas olímpicas, o que daria para abastecer uma população de 2.077.621 pessoas por dia!
Outro ponto que o estudo avaliou foi a situação do esgotamento sanitário nas grandes cidade do País. O descaso e a ausência de investimentos no setor, em especial nas áreas urbanas, são flagrantes. Quase metade da população residente nas capitais brasileiras (45%) tem seus esgotos despejados nos rios e no mar sem qualquer tratamento. E uma parcela significativa dessa população (13 milhões de habitantes) não dispõe sequer da coleta dos resíduos, convivendo de perto – nas portas ou nos fundos das casas – com a imundície e a poluição. Manaus, Belém e Rio Branco possuem os piores índices, com 3% dos seus moradores atendidos pelo serviço.
Cerca de 50% dos habitantes de Fortaleza não têm acesso à coleta e tratamento de esgoto. Lixo, enchentes, contaminação dos mananciais, água sem tratamento e doenças apresentam uma relação estreita. Diarréia, dengue, febre tifóide e malária, que resultam em milhares de mortes anuais, principalmente de crianças, são transmitidas por água contaminada por esgotos humanos, dejetos animais e lixo. Nada menos que 70% das internações na rede pública de saúde estão relacionadas com doenças transmitidas pela água!
Um dos maiores trunfos do Brasil em relação a garantia de abastecimento é o Aqüífero Guaraní, maior reserva de água doce subterrânea do mundo. Do potencial e água renovável que circula nesse reservatório, entre 24% e 48% podem ser explorados.
No entanto esse fabuloso recurso não está isento de problemas. Primeiro, devido à contaminação, que já vem ocorrendo em decorrência de vários fatores, entre eles, o grande número de poços operados e abandonados sem tecnologia adequada. Depois, porque a área do Guarani se distribui por vários territórios: 70% no Brasil e o restante em argentina, Paraguai e Uruguai.Tal peculiaridade torna necessário uma ação conjunta dos 4 países no sentido de defender sua soberania sobre o aquífero, e regular seu uso de forma justa e parcimoniosa.
Para que seja assegurada a sustentabilidade no abastecimento de água nas grandes cidades mundiais, é fundamental que os governantes adotem políticas públicas que promovam a proteção dos mananciais, a ampliação das áreas permeáveis, a diminuição dos desperdícios e perdas, juntamente com a racionalização e o uso mais equitativo desse recurso fundamental para a vida no planeta.
Para proteger os mananciais, é necessário frear a expansão da mancha urbana para as capitais, garantir condições de vida adequadas para os moradores e investir em saneamento. Também é fundamental proteger e ampliar as áreas com cobertura vegetal e valorizar os serviços oferecidos em suas imediações, entre eles, o provimento de espaços de lazer para a população.


Fontes: IBGE/2004
Instituto Socioambiental – ISA - http://www.mananciais.org.br/
Revista Le Monde Diplomatique/Brasil - janeiro/2008

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