domingo, 25 de dezembro de 2011

No que transformaram o Natal

José Lemos Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Escreve aos sábados neste espaço. Os dias que antecedem o Natal são carregados de emoções especiais. No Natal fica-se feliz em ter por perto as pessoas queridas. Às vezes não é possível reunir todas, mas fazemos o possível para compensar as ausências com boas lembranças. Cria-se um clima que torna quase impossível não se cair nas armadilhas do lugar comum e das fases prontas, quando desejamos felicidades às pessoas, mesmo às estranhas. É o “clima natalino.” Neste clima é que quero agradecer, do fundo do meu coração, à direção do O Imparcial [de S. Luís, Maranhão] que, mantendo comigo um compromisso informal que já consome mais de cinco (5) anos, publica semanalmente, sempre aos sábados, artigos para os leitores do jornal. Textos sem pretensões maiores, que não a de contribuir, modestamente, para a reflexão dos leitores acerca de temas que estão na ordem do dia. Um trabalho que, embora consumindo algumas horas do meu cotidiano, me dá muito prazer, e tenho me esforçado para sempre mandar textos inéditos. Pode-se repetir o tema, mas jamais o conteúdo em que é abordado. Normalmente o processo de criação do artigo começa nas manhãs das quintas-feiras, bem cedinho, enquanto me exercito para manter a forma física e mental. Às tardes daquele dia, suspendo as minhas tarefas docentes para começar escrever o texto. A inspiração do tema que discorrerei pode vir da leitura de jornais; de informação feitas por um organismo oficial do Brasil ou do exterior; da observação do cotidiano; da indignação causada por falcatruas de políticos divulgadas pela imprensa; do que produzo em pesquisa na Academia; ou mesmo da tentação de falar de emoções, como é o caso deste artigo que será publicado nesta véspera de Natal. Uma vez decidida a temática, sento e escrevo de uma só vez o que vem na cabeça. Espécie de “brain storm” (tempestade de idéias convergentes para o tema). Faço a primeira escrita de um só fôlego. Salvo o arquivo e, nas sextas feiras pela manhã, faço a “lapidação” do texto tentando trazê-lo para o tamanho do espaço que o jornal disponibiliza. À tarde faço os últimos retoques antes de enviá-lo para a publicação. Envio também para alguns estudantes, para colegas espalhados desde o Rio Grande do Sul ao Acre. Alguns deles têm a gentileza de fazerem criticas e sugestões que agrego para os futuros textos. Neste artigo quero agradecer também aos leitores do O Imparcial, ao tempo em que lhes mando, carinhosamente, a minha mensagem de que tenham um Natal cheio de Luz e de Paz. Que todos possam reunir as famílias e os amigos para momentos de afagos. Por isso também queria refletir sobre o Natal, tal como eu vivenciei, quando ainda criança e adolescente em São Luís, e no que se transformou o festejo nos dias de hoje. Por aquela época as crianças, sobretudo as carentes, como era o meu caso, esperavam o Papai Noel sem muita convicção de que ele viria, porque sabiam que o “Bom Velhinho” não costumava freqüentar as crianças das famílias mais humildes. Mas o Natal era uma festa que se centrava no Aniversariante do dia. Uma festa cristã por excelência. Por causa disso havia eventos teatrais como os “Pastorais” que eram encenados por várias partes da cidade. Eu acompanhei alguns com os olhos brilhantes. As famílias, sobretudo as mais humildes, construíam bonitos e sugestivos Presépios que ficavam na sala. O primeiro e mais importante compartimento daquelas casas muito simples e sem mobília. Os donos das casas ficavam orgulhosos em verem estampada nos olhos e na expressão, a alegria dos visitantes, que reverenciavam aquele pequeno “Templo de Louvação” ao mais importante Aniversariante do mês. O Presépio era armado nos primeiros dias de dezembro e, no dia seis de janeiro (dia dos Santos Reis), era feita a “queima das palhinhas”. Oportunidade em que se reuniam parentes e vizinhos. Ao final daquele belo ritual de orações e de cantorias, eram servidos bolos caseiros de diferentes sabores, devidamente irrigados pelo nosso guaraná Jesus. Quantas lembranças gostosas! Os rituais natalinos mudaram muito nos dias de hoje. Há muitas luzes que deixam as cidades e, sobretudo, as vitrines das lojas mais bonitas e atrativas, pois este é o objetivo. Não tem mais presépios nas casas, salvo em persistentes famílias que ainda preservam aquela bela tradição. O Aniversariante do dia de Natal é praticamente esquecido. O comercio tomou conta das festas natalinas. As diferentes mídias esmeram-se em destacar quanto o faturamento do ano será maior do que no ano anterior. As crianças de famílias mais abastadas são precocemente expostas a um consumismo exorbitante. As crianças carentes, agora mais numerosas, sofrem com o bombardeio da propaganda que exibe brinquedos que sabem jamais o Papai Noel ousará deixar sob as suas redes. Assim o Natal se transfigurou numa festa que é, a um só tempo, a apologia ao consumismo, mas também, expõe, com crueldade, a ferida da apartação social que se observa neste imenso Brasil.

Diálogo sobre transformação da sociedade

Troquei mensagens com um amigo acerca de nossa intervenção para melhorar a sociedade. A conversa foi boa e tocou em pontos como método de trabalho, melhor hora de agir, concepções de pessoa humana e de sociedade, diferenças religiosas. Veja em que você concorda. Meu amigo acha que primeiro vem a transformação pessoal Concordo com você neste aspecto, mas acho que não é ao mesmo tempo. Talvez quase ao mesmo tempo. Ou então: a coletividade representa a média dos esforços pessoais. Digo que na vida tudo tem de ser feito ao mesmo tempo Meu grande, A natureza nos dá modelos de processamento de várias realidades de vida e na vida. Dela podemos tirar lições para nosso mundo pessoal e social, sem dúvida, e é nisso que o ambientalismo atual aposta. A planta depende do meio [solo, ventos, luz e outros elementos], recebe do solo nutrientes e carbono, devolve oxigênio e material que aduba. Tudo ao mesmo tempo, agora. Entretanto, ela tem um tempo para processar elementos, florir e amadurecer os frutos. Na mesma planta, há ciclos de processamento simultâneo e outros que começam em uma e terminam em outra estação. Só algumas árvore dão frutos o tempo todo. Precisamos de sabedoria para distinguir o que devemos processar continuamente daquilo que demanda fazer, tipo uma coisa hoje, outra amanhã. Opto por mudanças simultâneas no pessoal e no social, pois enquanto construímos torres aprendemos a construir e aperfeiçoamos as técnicas da construção. Isso de modo genérico. Há coisas, entretanto, que só fazemos bem em fases posteriores. Com cinco anos eu não faria o discurso que pronunciei há pouco... mas faria um no nível daquela idade. Em resumo: prefiro fugir da tentação de nada fazer, alegando estar em preparação, argumentando que primeiro devo me transformar, para depois ajudar na transformação do mundo. Neste caso, prefiro encarar que ocorre tudo ao mesmo tempo, agora. Meu interlocutor continua a discussão Resumindo minha opinião a respeito das últimas discussões: Na verdade, eu não sou dono de nada, apenas das minhas virtudes e dos meus vícios. As pessoas apenas administram temporariamente os recursos de que julgam ser donas. Eu posso, em razão dos meus esforços, honestamente, aumentar a quantidade de recursos administrados, para benefício principalmente dos outros. A riqueza e a pobreza são duas grandes provações. Elas testam muitas virtudes e vícios. Algumas pessoas pensam que valem pelo que têm. É uma ilusão! Nós valemos pelo que somos! Minhas palavras: É isso mesmo, Amigo! As relações humanas têm suas leis, frutos de comportamentos e aceitos socialmente, “naturalizados” pela repetição. A sociedade nos transmite certas crenças de que esses são comportamentos certos e dignos de serem imitados. Assim, os Silvios Santos da vida podem nem se dar conta de que comandam uma engrenagem pela qual sugam riquezas do trabalho mal pago de seus semelhantes. Também nós trabalhadores podemos achar natural os gerentes de um grande banco ou de outra empresa qualquer [os ceos] ganharem “os tubos”, quando não precisam de tanto para sua sobrevivência. Nós nem sempre percebemos que os gerentes de hoje são os capatazes dos tempos da escravidão à moda antiga e que estamos em outro sistema escravagista. Em tal sistema, a “folga” alguns e o “aperto” de bilhões de seres humanos nos parecem algo natural, mas não é: são frutos da sociabilidade econômica engendrada por nós nos 3 últimos séculos... Podemos ser pessoalmente virtuosos, mas estamos em um sistema iníquo, no qual, às vezes saboreamos com prazer pratos que nossos algozes prepararam com nossos próprios cérebros => Hanibal [kkk]. Alegre-se, porém, porque isso não é uma maldição dos deuses e podemos construir uma sociedade melhor – de dentro da “matrix”, transformá-la. Feliz Natal! Provocação de meu amigo: Acho que você está com uma visão um pouco dicotômica, com relação a patrões e empregados. Todos temos nossas culpas e responsabilidades, em qualquer posição social que estejamos. Cabe a nós superá-las, não só lutando por um mundo melhor, mas sendo pessoas melhores. Meu "discurso": Amigo, prepare-se. Essa conversa vai ser longa. kkk Também não há dicotomia entre “lutar por um mundo melhor e ser pessoas melhores”. Até porque somos seres integrais e integrados no meio em que vivemos. Como disse alguém, “quem se eleva, eleva o mundo”, ou seja, quanto melhor a pessoa, melhor o meio a seu redor, pois ela “irradia” melhorias no ambiente em que está. Estamos de acordo nisso. Esta é a parte pessoal da análise do mundo real em que vivemos. Enquanto humanidade, criamos realidades que nos oprimem, muitas das quais nasceram com a finalidade de nos libertar de certas amarras. Exemplo rápido: criamos a democracia para nos livrar da tirania monárquica. Quem disse que os presidentes dos EUA não são tiranos atuais? Ou seja: a democracia criou seu contrário. Eles jamais admitirão isso, e tentam nos passar como real a ilusão de que eles são modelo de democracia. Conclusão: há uma tirania real que tentam nos passar [isso é pura ideologia] como o melhor dos mundos. Precisamos fugir dessa armadilha. O mesmo se aplica à economia: conjunto de relações de exploração em que uns instalam empresas que só funcionam “bem” se outros vendem seu trabalho por um preço abaixo do valor. É assim que funciona, mesmo que o dono e o empregado sejam, individualmente, santos e bem intencionados. O “sistema” criado por nós funciona assim, por mais que isso nos seja repulsivo. Há motivo de esperança, sim: porque poderemos criar outro sistema, até a partir desse, assim como a borboleta evolui da lagarta. Entretanto, só chegaremos à borboleta, se admitirmos a realidade lagarta. Não inventei isso, porque isso existe, da mesma forma como não criei a dicotomia patrão-empregado, iníqua como ela é. Ela é assim, independente de minha vontade de que ela não o seja. Agora: como superá-la sem admiti-la? Os donos do sistema querem fazer o trabalhador crer que a bomba atômica é uma bolinha de árvore de natal, porém isso é pura ideologia. Precisamos sair da ideologia [mundo das aparências] e enfrentar o real como ele é, por mais que isso nos doa. Para ficar bem claro: admitir este real não significa demonizar os empresários e angelicar os empregados. Ambos podem estar no mesmo patamar, tentando superar essa realidade; como podem estar se explorando mutuamente, a ponto de o oprimido de hoje ser o tirano de depois de amanhã e vice-versa. [como você disse, Todos temos nossas culpas e responsabilidades]. Outra possibilidade: ambos serem vítimas nesta “canoa furada”, sem o saber, e, por nem saberem, se satanizarem mutuamente. Outra hipótese: sabem, mas fingem que não é com eles. Na perspectiva da superação desse estado de coisas, temos algumas responsabilidades irrefutáveis: contribuir para que outros se dêem conta do mundo real; testar experiências que construam um mundo novo; fazer tais testes sem violência; contribuir para que quem se torna consciente do mundo real não degringole para a violência, o que acontece com certa freqüentemente, até porque a violência aparece como solução fácil. Ter a sabedoria de não condenar por antecipação os violentos, estes muitas às vezes em reação àquela outra violência institucionalizada, mas em vez da condenação, tentarmos descobrir o que está por trás da violência dos violentos, se não é aquela violência maior, para tentarmos extingui-la e “converter” os violentos de ambos os lados, pois todos dois tanto causam como sofrem violências. Não é meu papel convencer você. Estou convencido de que algo precisa ser feito e estou fazendo, mas com a humildade de admitir que posso até estar fazendo errado, e, ao mesmo tempo, com a esperança de estar fazendo o que precisa realmente ser feito para melhorar o mundo, o que é tarefa coletiva: para melhorar o mundo, o amor de todo mundo, grita um grupo de Fortaleza. Palavras de meu amigo: Nós somos imperfeitos por que o sistema é iníquo? Ou o sistema é iníquo por que somos imperfeitos? De qualquer forma, se mudarmos os homens mudaremos o sistema. Pode ser que a revolução comece de dentro pra fora. A revolução moral preceda a revolução social, política e econômica. Minha opinião: Eu gostaria de ouvi-lo mais acerca de meu longo discurso. Quando você entra nesse plano de sistema criado por Deus, a discussão para, os argumentos emudecem. Eu ainda gostaria de ouvir suas concordâncias, sugestões e discordância dentro do sistema criado pelo homem, como forma de instigarmos nossa mente, criatividade, no sentido de ajudarmos "a mudar o sistema iníquo e aceitar o sistema perfeito". É por aqui mesmo. Também acredito que "As mudanças podem ser graduais, mas acontecem. Que trabalhemos pelas mudanças necessárias e que sigamos com fé no futuro". Opinião de meu interlocutor: O sistema criado pelos homens é iníquo. Mas o sistema criado por Deus é perfeito. Aquele está dentro deste. Ter consciência disto ajuda a mudar o sistema iníquo e aceitar o sistema perfeito. O que precisa ser feito será feito. As mudanças podem ser graduais, mas acontecem. Que trabalhemos pelas mudanças necessárias e que sigamos com fé no futuro. Minhas palavras a respeito: Do ponto de vista cristão, como de várias religiões, o homem é um ser apartado de seu Criador e tudo o que ele inventa tem a marca dessa alienação. Joio e trigo formam o todo, individual e social se influenciam mutuamente. É o mesmo que a nova visão de mundo proposta para as ciências chama de holismo, daí as ações precisarem ser ao mesmo tempo de transformação social e individual. Agostinho Neto, aquele revolucionário de Angola compreendeu isso, ao escrever que “não basta que a nossa luta seja justa e pura; é necessário que a justiça e a pureza estejam em nossos corações”. Juntos aí o social e o pessoal.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

“Cidade dos agrotóxicos” tem o dobro da taxa mundial de câncer

Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprova relatório sobre contaminação por agrotóxicos Da Agência Câmara de Notícias, via Mariana Starling 9 de dezembro de 2011 às 12:34 O relatório de Padre João apresenta várias sugestões para controlar o uso de agrotóxicos. A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, dia 7 de dezembro, relatório da subcomissão que analisou as consequências do uso de defensivos químicos para a saúde humana e o ambiente. O relatório da Subcomissão sobre o Uso de Agrotóxicos e suas Consequências à Saúde será transformado em projetos de lei e em recomendações para os órgãos de governo. Resultado de seis meses de trabalho, o parecer do deputado Padre João (PT-MG) aponta a correlação entre o aumento da incidência de câncer e o uso desses produtos na agricultura. A cidade mineira de Unaí está entre os exemplos. Com presença marcante do agronegócio, o município registra 1.260 novos casos da doença por ano a cada 100 mil habitantes. A incidência mundial média é de 600 casos por 100 mil habitantes no mesmo período. Contaminação O texto aprovado menciona também estudo realizado na cidade de Lucas do Rio Verde (MT) que constatou a presença desses compostos no leite de 100% das nutrizes (mulheres que estão amamentando) analisadas. “Além das proteínas, vitaminas e anticorpos, a amamentação dos recém-nascidos de Lucas do Rio Verde também fornece agrotóxicos”, afirma Padre João. Na pesquisa também foram observadas, segundo o relatório, malformações em 33% dos anfíbios de um curso d’água da região e de 26% em outro. No grupo de controle, o índice teria ficado em 6% de casos. Propostas Como forma de reduzir o que chama de “crescente envenenamento dos campos”, o relator apresentou proposta para reduzir de forma gradativa os benefícios fiscais e tributários concedidos aos agrotóxicos. Segundo o texto, hoje o produto conta com redução de até 60% do ICMS e isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), PIS/Pasep e Cofins. Sugere-se ainda a adoção de incentivos – como mecanismos tributários e linhas de crédito e financiamento público – à produção agroecológica. “Há exemplos de que no longo prazo esse tipo de agricultura é viável”, sustenta o relator. Recolhimento de embalagens Padre João explicou que há problemas sérios relacionados a registro, comercialização e rotulagem dos agrotóxicos no País. Apesar de exigido por lei (9.974/00), o recolhimento e a destinação adequada das embalagens de agrotóxicos também seriam falhos, de acordo com a subcomissão. O relator destacou que existem também irregularidades no recolhimento obrigatório de embalagens vazias desses produtos. Os deputados da comissão constataram que no Amapá, por exemplo, não existe sequer sistema de recolhimento. “As pessoas acham que estão se alimentando bem porque na mesa tem verdura, legumes, frutas, mas todos têm certo percentual de agrotóxico e alguns com percentual além do tolerável, além do permitido. Em algumas culturas, os resíduos são de agrotóxicos proibidos para aquela cultura.” Segundo a Anvisa, o pimentão, o morango e o pepino lideram o ranking dos alimentos com maior número de amostras contaminadas por agrotóxico em 2010. Controle rigoroso A subcomissão constatou ainda que não há segurança no controle da comercialização dos agrotóxicos, porque as informações do receituário agroeconômico, previsto em lei, simplesmente não chegam até os órgãos do governo. Com isso, nem estados nem União possuem dados concretos sobre o mercado dos agrotóxicos no Brasil. O relatório aprovado recomenda que o controle e a fiscalização do setor sejam mais duros. O texto aponta também a necessidade de mais técnicos e fiscais, que hoje não chegam a 100 para cuidar de todo o território nacional. Padre João também propõe que a receita, hoje em duas vias, seja emitida com cinco cópias – uma para o agricultor, uma para o comerciante, e as três outras para os órgãos de fiscalização do governo. Há ainda uma sugestão para que se adote para os agrotóxicos um sistema de controle semelhante ao existente para os remédios controlados. Consumo de agrotóxicos O relator lembrou que atualmente o Brasil ocupa a primeira posição no volume consumido de substâncias agrotóxicas em todo o mundo. “Sendo a nossa agricultura fortemente embasada no uso de substâncias químicas para o controle de pragas e doenças vegetais e de ervas invasoras, quanto maior a produção e a área plantada, maior vem sendo o volume de agroquímicos utilizados. Mas o fato a ser destacado é que no Brasil, o aumento do consumo é superior ao aumento da produção agrícola, ampliando ainda mais a preocupação quanto ao tema.” Padre João ressaltou ainda em seu relatório que paralelamente ao aumento no consumo, o Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem constatado a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos acima dos limites máximos recomendados e a presença de produtos não permitidos para determinados alimentos. “Afora isso, nas fiscalizações junto às empresas produtoras se observam recorrentemente algumas irregularidades. Os desvios são certamente sentidos pelo solo, pela água, pelo ar e nas condições de saúde dos seres humanos”, acrescentou. Outras sugestões da subcomissão de agrotóxicos Como resultado da subcomissão que analisou o uso de agrotóxicos no País, instalada em maio deste ano, surgiram ainda outras propostas para tornar o controle e a fiscalização do setor mais rígidos e capacitar o setor de saúde. Entre as providências a serem tomadas constam: - venda de agrotóxicos feita somente com capacitação do produtor que compra o produto; - mudança no prontuário de atendimento médico, para identificar intoxicações por agrotóxicos; - contratação de mais fiscais e técnicos, que hoje não chegam a 100 para cuidar de todo o território nacional; - oferecimento de assistência técnica específica a produtores rurais para o uso de agrotóxicos; - adequação na grade curricular de cursos na área de saúde, para maior capacitação na área de toxicologia; - maior fiscalização dos rótulos dos agrotóxicos; - controle da contaminação das águas pela Agência Nacional de Águas (ANA).

sábado, 5 de novembro de 2011

Caso Marcelo Freixo: declaração da Anistia Internacional

DECLARAÇÃO DA ANISTIA INTERNACIONAL SOBRE MARCELO FREIXO Anistia Internacional – Declaração Pública Brasil: Fortalecendo a Campanha Internacional contra as Milícias do Rio de Janeiro Conforme noticiado recentemente, o convite que o Deputado Estadual Marcelo Freixo, do Rio de Janeiro, recebeu das organizações Front Line Defenders e Anistia Internacional para viajar à Europa a fim de falar sobre a expansão das milícias, faz parte de uma campanha internacional que já dura alguns anos. Por todo o mundo, ativistas de direitos humanos continuam trabalhando para acabar com a disseminação das milícias no Rio de Janeiro. Trata-se de grupos do crime organizado formados, majoritariamente, por ex-agentes da área de segurança pública ou por agentes da ativa que atuam fora do seu horário de serviço. Essas gangues dominam as vidas de centenas de milhares de moradores das comunidades mais vulneráveis do Rio de Janeiro, extorquindo dinheiro, empreendendo negócios irregulares e ilegais, propagando a violência e instituindo currais eleitorais. Sendo assim, para que se consiga eliminar as milícias, é necessário que se tomem medidas de cunho político combinadas com investigações policiais. Tais ações deverão incluir o combate às atividades econômicas irregulares e ilegais que sustentam esses grupos. Os homens e mulheres que tiveram a coragem de enfrentar essas gangues criminosas costumam viver sob extremo perigo, como ficou demonstrado, recentemente, pelo assassinato da juíza Patrícia Acioli, por integrantes da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Há muitos anos que o Deputado Estadual Marcelo Freixo, um ativista de direitos humanos de longa data, tem sido uma das principais figuras públicas cuja face se destaca na luta contra as milícias. Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado, Marcelo Freixo presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou as atividades desses grupos, resultando em centenas de detenções. Em consequência de seu trabalho, ele vem sofrendo inúmeras ameaças contra sua vida. Por muitos anos, o Deputado tem contribuído com uma campanha internacional que busca informar o mundo a respeito desses grupos e denunciar sua expansão. Com tal propósito, a Front Line Defenders e a Anistia Internacional convidaram Marcelo Freixo a visitar a Europa em apoio a sua campanha, para encontrar-se com autoridades e ativistas de direitos humanos a fim de captar apoios que fortaleçam essa ação internacional. Recentemente, Marcelo Freixo recebeu sete novas ameaças de morte. Essas ameaças evidenciam o perigo iminente que o Deputado enfrenta, sendo causa de imensa pressão sobre ele e sua família. A Front Line Defenders e a Anistia Internacional reconhecem que as autoridades estaduais têm continuamente fornecido proteção armada ao Deputado, e que tal proteção está sendo atualmente reforçada. Entretanto, está na hora de as autoridades federais, estaduais e municipais implementarem as recomendações pendentes da CPI das Milícias, a fim de garantir que todos os cidadãos do Rio de Janeiro possam viver com mais paz e segurança.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Os Olhos de Kadhafi

Artigo de Sandra Helena de Souza, professora de Filosofia e Ética da Universidade de Fortaleza, publicado dia 02.11.11, no jornal O Povo, de Fortaleza (CE, Brasil). Contato: sandraelena@uol.com.br Tentei escapar desse tema, mas ando acossada pela morte e a coincidência desse texto público no dia dos mortos me obriga a enfrentá-lo. O que nos faz humanos? Você pensa que é humano? Então, sinceramente, o que sentiu vendo o assassinato/linchamento de Kadhafi? E quando soube/viu que ele foi abusado sexualmente antes de morrer? Costuma-se dizer que o tratamento digno dado aos criminosos a quem nossos mais arcaicos instintos recomendam a crueldade é sinal claro da civilidade que se impõe contra a barbárie, ainda que repousando sobre ela. Foi assim que aprendi, foi assim que me constituí e isso não por minha própria conta, mas pelos mais nobres valores herdados da assim chamada civilização ocidental, de matriz judaico-cristã. O iluminismo laicizou as melhores pretensões das grandes religiões mundiais e as tornou princípios soberanos, consolidando o que nos acostumamos a chamar de humanidade, em sentido pleno, no afã de nos destacarmos da animalidade infra-humana. Sinceramente, como muitos, acreditei nisso. Por isso não consigo me livrar das apavorantes imagens a que fomos expostos, e continuamos sendo, à exaustão do assassinato festivo de um ser humano. Não preciso mais falar dos aspectos políticos que envolvem essa morte. Importa-me mais compreender o que somos, ao reagirmos tão docilmente diante disso, quando bem sabemos o que está em jogo. Aqui em nosso Estado, recebemos a oferta diária pela televisão de corpos mutilados, afogados, decompostos, torturados, associados aos gritos lancinantes de parentes, tudo isso apresentado como ornamento da liberdade de expressão e de garantia de direitos. Expressões pérfidas, perversas, de engravatados travestidos de defensores da cidadania e intrépidos guardiões da ordem pública. Uma mentira torpe, uma ilegalidade, uma hipocrisia empresarial de resultados funestos, que cinicamente aceitamos. Mas somos bem seletivos nessa aceitação. Designamos para alguns dentre nós essa condição de párias, completamente excluídos das mais ínfimas noções de dignidade. A morte de Kadhafi, ao vivo, foi uma espécie de programa policial em clímax, em escala global. Já estamos anestesiados. Mas assim como os olhos mortos do Che, a reza interrompida pela corda no pescoço de Saddam Hussein, o espetáculo obscuro da morte de Bin Laden, cena filtrada pelos olhos da cúpula americana, são os olhos aterrorizados de Kadhafi que me interrogam, sem cessar. Fomos expostos sem peias a uma cena primária. Adultos, crianças, todos. Uma cena que não nos deixa espaço para a salvífica elaboração da imaginação e construção de narrativas, assim como podemos fazê-lo em relação aos mortos das torres gêmeas. Ali fomos poupados, em nome da “dignidade humana” e da esperança. Que pureza. Você que me lê deve acreditar-se ao abrigo dessa podridão tornada entretenimento, catártico, pois portador de direitos e cidadão de bem. Pois sim. Volto então a perguntar: o que você sentiu ao ver aquelas imagens se é mesmo que sentiu algo. Responda diante de seu espelho, e não espere por Deus, o que nunca responde. O trabalho é nosso, apenas nosso. Os mortos agradecem.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Há Saída: Desocupe o Capitalismo

Convite do Movimento Crítica Radical: Olá, companheir@s Ao chamamento “Ocupe Wall Street”, queremos trocar idéias não só como chegar lá, mas também como ir adiante. Daí renovamos o convite para o debate: DESOCUPE CAPITALISMO! EXISTE SAÍDA PARA AS CATÁSTROFES ECONÔMICA, ECOLÓGICA E DA HUMANIDADE DEBATE COM JORGE PAIVA 27/OUTUBRO – QUINTA-FEIRA – 15H UECE – AUDITÓRIO DO CENTRO DE HUMANIDADES (AV. LUCIANO CARNEIRO) Rua João Gentil, 47 – Pça da Gentilândia – Benfica -- Fortaleza, Ceará, Brasil Fone: 85 30812956 / 85166253 www.criticaradical.org / criticaradical@criticaradical.org Contamos com sua presença e participação! E renovamos o alerta para a importância da leitura do texto de Anselm Jappe sobre a crise do dinheiro (http://www.criticaradical.org/?p=1211) como contribuição ao debate. Um grande abraço Grupo Crítica Radical Pra pensar o impensável Pra fazer o impossível

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Debate sobre conflitos ambientais no Ceará

Rede de Justiça Ambiental realiza debate sobre conflitos e promoção da justiça ambiental no Ceará A Rede Brasileira de Justiça Ambiental, articulação da sociedade civil que reúne movimentos, organizações e ativistas de diversas localidades do país, realizará, na próxima sexta-feira, 28, o debate “Dos Conflitos à promoção da Justiça Ambiental no Ceará”, a partir das 14h, no auditório da ADUFC - Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará, em Fortaleza. A partir do conceito de justiça ambiental, que denuncia a desigualdade dos impactos socioambientais e refere-se ao tratamento justo e ao envolvimento dos grupos sociais nas decisões sobre acesso, ocupação e uso dos recursos naturais em seus territórios, pretende-se dialogar sobre os diversos conflitos vivenciados no Ceará. Para tanto, participarão do debate sujeitos que enfrentam injustiças ambientais, tais como aquelas provocadas pela expansão do agronegócio; pela especulação imobiliária, instalação de eólicas e criação de camarão de cativeiro, na Zona Costeira; devido à possibilidade de mineração de urânio, em Santa Quitéria; bem como às obras da Copa, em Fortaleza, e à construção do porto e de uma usina termelétrica, no Pecém. O debate contará ainda com a presença de Raquel Rigotto, coordenadora do Núcleo Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade, da Universidade Federal do Ceará; Julianna Malerba, mestre em Planejamento Urbano e Regional e integrante da Fase - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional; Dário Bossi, da Rede Justiça nos Trilhos (MA); e Fernando Costa, do Núcleo Amigos da Terra/Brasil. Também integrantes do Colegiado Político da Rede Brasileira de Justiça Ambiental, os/as convidados/as abordarão o histórico dessa articulação e discutirão como essa perspectiva conceitual contribui para a denúncia do atual modelo de desenvolvimento e para fortalecer os enfrentamentos realizados nos territórios. O debate é aberto ao público. Serviço: Debate: “Dos Conflitos à promoção da Justiça Ambiental no Ceará” Data: 28 de outubro (sexta-feira), às 14h. Local: Auditório da ADUFC - Av. da Universidade, 2346. Bairro Benfica. Fortaleza, CE, Brasil. Mais informações: Helena Martins – (85) 87934091 / (85) 99897450 Maiana Maia – (85) 87105628

domingo, 23 de outubro de 2011

Sem Drible às Leis

MARINA SILVA Publicado originalmente na Folha de São Paulo, 20.10.11. Reproduzido aqui com permissão da autora. O velho dito popular que diz que não se discute política, religião e futebol talvez seja só uma senha para o início dos debates, já que são assuntos muito discutidos em todas as rodas. Agora, por exemplo, até eu começo a pensar mais em futebol - tema, aliás, que entrou de vez na pauta política. O problema é que nem sempre o que é bom no campo funciona fora dele. O improviso, a ginga e a jogada genial que decide a partida no último minuto não se aplicam à gestão pública. Nesse campo, o estilo de jogo tem que ser diferente: aberto e visível, com planejamento e visão de longo prazo. O lampejo individual precisa dar lugar ao interesse coletivo, expresso no bom uso do orçamento público. A Copa de 2014 começou em outubro de 2007, quando o Brasil foi escolhido como sede. E imensos desafios adiados agora nos afligem. O Brasil se comprometeu com gastos enormes, e, de uma hora para outra, precisam ser feitos às pressas. O resultado é a lei 12.462/11, que criou o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). Na prática, a norma acelera -ou dribla- os instrumentos de controle da Lei de Licitações Públicas. Preocupante também é ver como se decidiu construir e reformar estádios a custos ainda imprevisíveis, com dinheiro público, para atender a exigências que parecem inquestionáveis. Não é porque amamos o futebol e ansiamos por sediar mais uma Copa que deixaremos de ter um olhar crítico para essas decisões. Cidades-sede correm para cumprir prazos e concluir obras de estádios (ambientalmente corretos?) e de infraestrutura. A sociedade precisa mobilizar-se por visibilidade, ou os resultados não serão os esperados. A Grécia, até hoje, chora os prejuízos da Olimpíada de Atenas (2004). A África do Sul lamenta o que não ganhou com a Copa de 2010. A Fifa, ao fazer a Copa no Brasil, terá grandes lucros ao usar, de alguma forma, nossa "marca", nossa bandeira, que se confunde com o futebol. A Lei Geral da Copa, em discussão no Congresso, precisa expressar nossa soberania. Isenção fiscal para a Fifa e seus parceiros até 2015? Interferência em contratos públicos? Uso exclusivo de termos como "Copa do Brasil"? Supressão da meia-entrada? Perda de direitos do consumidor? Venda de bebidas alcoólicas nos estádios? E, antes que alguém responda, uma outra: foi assim na Alemanha? É preciso que o governo tenha conduta mais firme, de controle de gastos, e de defesa de leis conquistadas após longas lutas sociais. Tarefa que depende do empenho dos órgãos públicos diretamente responsáveis, sobretudo do Ministério do Esporte, que não tem se notabilizado nisso. Tocar as obras. Organizar a Copa. Lidar com a Fifa. E fazer o povo brasileiro ganhar.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Seminário Discute Serviços Ambientais e Urbanismo

O 2º Seminário Internacional sobre Serviços Ambientais parece ser uma tentativa de a Prefeitura de Fortaleza limpar sua imagem. Se foi esta a intenção, haja desastre. No sétimo ano de seu mandato, Luizianne Lins não conseguiu sair da mesmice de seus antecessores e o meio ambiente de Fortaleza continua a ser destruído. Ontem, no primeiro dia, pessoas denunciaram aterramento de riachos onde está projetado o Parque Rachel de Queiroz, nenhuma lagoa com mata ciliar original, inúmeras lagoas aterradas no passado e outras sendo aterradas hoje, em plena administração do PT junto com partidos ditos de esquerda (PSB e PC do B) e conservadores como o PMDB. Fala-se em 300 árvores cortadas por mês, dado a ser confirmado. Neste cenário, haja discursos sobre serviços ambientais e promessas de se realizar um Plano Diretor de Arborização de Fortaleza, plano cujo planejamento se arrasta há anos, no Fórum da Agenda 21 de Fortaleza, um esvaziado espaço integrado pela Prefeitura de Fortaleza, empresários, universidades e movimentos sociais. São mais de 40 entidades representadas, mas a última vez que compareci em julho, estavam presentes 8 pessoas. No seminário internacional, o secretário de Meio Ambiente, Deodato Ramalho, queixou-se de não ter fiscais, dos empresários que constroem sem respeitar o ambiente e da população em geral. Em outras palavras, admitiu que o poder público é refém dessas forças, quando tem a função de impedir os excessos desses dois lados e impor o respeito às leis ambientais, no interesse da coletividade. Anunciou a iniciativa de uma cooperativa plantar milhares de árvores como compensação por emissão de carbono durante evento nacional em Fortaleza como se fosse uma maravilha de ocorrência. E deitou dúvidas em cima de afirmações do Inventário Ambiental de Fortaleza, feito por encomenda da prefeitura. O documento afirma que Fortaleza tinha naquela data apenas 7% de sua cobertura verde original. Entre 1968 e 2003, a cidade perdeu, portanto, cerca de 90% de verde, conforme o estudo. O Inventário foi editado em 2003 pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. Como só em um ano, entre 2010 e 2011, a construção civil cresceu 30% em Fortaleza (dado que Deodato Ramalho me forneceu em entrevista), agora a cidade deve ter bem menos que 7% de seu território como área verde de origem. Fiz uma intervenção no seminário para dar a referência correta do Inventário Ambiental sobre a perda de 90% do verde de Fortaleza, entre 1968 e 2003, pois a Profa. Dra. lúcia Mendes, agrônoma da Uece, pediu ajuda nesse sentido, ao fazer sua palestra sobre "Arborização e Áreas Verdes de Fortaleza, uma Abordagem Histórica". Ela retirara o dado do síte do Movimento Pró-Parque Rachel de Queiroz e não sabia precisar a fonte. Falei que em 20 anos, do Prefeito Cambraia, passando por dois mandatos de Juraci Magalhães até os outros dois de Luizianne Lins, "a cantiga da perua é uma só: é de pior a pior" a situação ambiental de Fortaleza. Sucessivas administrações inoperantes, as construções "comendo" o verde e a sociedade civil gritando por justiça ambiental. Um quadro lamentável que continuou na promissora administração Luizianne, disse eu. Fiz coro a um senhor que falara antes de mim, no sentido de que a prefeitura precisa profissionalizar-se para debelar a hecatombe ambiental que se abate sobre Fortaleza. Terminei com o verso da música que canta: "isso tudo acontecendo e nós aqui na praça dando milho aos pombos".

Mais que serviços ambientais

O presente texto não é uma crítica aos ambientalistas atuais, mas um convite à reflexão sobre até onde realmente podemos – e precisamos – ir, em nossa missão de tornar o Planeta Terra um lugar melhor para todos, afinal, não estamos cuidando do planeta somente para nós humanos, mas para todos os seres que aqui vivem. O pensamento ambiental evoluiu muito nas últimas décadas e os movimentos ambientalistas vem alcançando e sensibilizando cada vez mais pessoas pelo mundo afora. Essa evolução, no entanto permanece limitada, circunspecta à lógica antropocêntrica mantida há milênios, desde que o homem criou a agricultura e domesticou algumas espécies animais. Essa lógica, que considera que a Natureza está aí para nos servir, não pode assegurar a perpetuação da vida no planeta, não evitará que o avanço desenvolvimentista termine um dia com a vida na Terra, ele no máximo trará uma sobrevida, porém, a destruição e a escassez nessa sobrevida continuarão a aumentar. Tal visão antropocêntrica faz com que a maioria de nós humanos queira cuidar da Natureza apenas por medo de perder as vantagens e os ganhos materiais que ela pode oferecer. Por isso hoje o debate ambientalista gira em torno dos negócios verdes, dos chamados serviços ambientais e outros ganhos que pessoas e empresas tem e poderão vir a ter por preservar. As discussões e as decisões sobre proteção ambiental – sob o guarda-chuva do Desenvolvimento Sustentável – são feitas em salas climatizadas, por pessoas que não tem quase nenhum contato com a Natureza e com a multidiversidade de seres que a compõem. Defender a Natureza de verdade é considerar aqueles que defendemos, é enxergar e respeitar cada uma das belas formas de vida que coabitam a Terra conosco, é reintegrarmo-nos com eles, para voltarmos a nos sentir-se parte da grande Teia que conecta todas as formas de vida. Isso requer um processo de mudança interior, onde cada um terá de questionar o conceito de vida e de sacralidade preponderante na sociedade ocidental, que vê a Natureza somente como um amontoado de bichos e plantas sem alma, deixados por Deus para usarmos como quisermos. Essa mudança de pensamento felizmente já está em curso. Muitas pessoas pelo mundo já estão sendo sensibilizadas a esse nível e revendo suas atitudes mesmo no âmbito das ações ambientalistas. É um chamado interior, um apelo que a Terra Viva e Pulsante faz a cada um de nós, um chamado à reconexão com essa Grande Mãe que nos acolhe e nos alimenta. Isso já aparece nos movimentos de permacultura, ecovilas, veganos e adeptos da chamada “simplicidade voluntária”. Alguns requerem atitudes radicais, que seriam inacessíveis para a maioria das pessoas, mas podem inspirar atos mais simples para o cotidiano de todos e também inspirar aqueles que tem o poder de decidir pelo coletivo. Um exemplo simples, de cidadãos comuns, está nos defensores de animais abandonados. Essas pessoas não fazem seu trabalho para ganhar hoje ou no futuro, fazem por pura doação, para o bem dos seres que defendem. Para os tomadores de decisão, o exemplo de Butão, uma pequena nação asiática que trocou o conceito de Produto Interno Bruto pelo de Felicidade Interna Bruta, evitando que o país ingressasse na onda desenvolvimentista e consumista que domina hoje o planeta. São atitudes que transcendem o atropocentrismo e vão além dos limites da visão mercadológica. Estão em sintonia com os princípios que nortearão a Nova Era em que estamos devagarinho adentrando. Antonio Eli Barbosa Terapeuta Holístico ::: 85 9917.8560 www.antonioeli.com.br | twitter.com/antonioeli

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Carta Aberta a Cid Gomes

Reproduzo a carta de Ritacy de Azevedo Teles, por traduzir o meu sentimento. Creio ser o pensamento de milhares de cearenses, levando em conta as manifestações públicas havidas em Fortaleza. Carta aberta ao Governador do Estado do Ceará Excelência, Preciso dizer-lhe publicamente que votei muito mal nas últimas eleições estaduais! Sou professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação e me dedico à profissão intensamente há vinte anos. Votei em Vossa Excelência por o senhor apoiar a campanha de Dilma Roussef. Há quatro revelações que devo fazer aos professores para que possam me desculpar esse ato falho, embora saiba que muitos deles agiram como eu, pois acreditaram em suas propostas de fazer avançar a educação no Estado. É justo que o senhor as conheça! 1. A primeira é a de que, na verdade, não havia, no Ceará, nenhum candidato dos que disputavam mais veementemente o Governo que fosse convincente, apesar do grande aparato midiático. Dos males, porém, viesse o menor. O senhor pelo menos contribuiu na campanha da Presidenta. O meu prejuízo não foi completo. 2. A segunda confissão é a de que, como o senhor, tentei ser esperta, pois votei em alguém de quem, mesmo não esperando um bom mandato, contribuía para o meu objetivo. Reconheço, contudo, que o senhor me superou no lucro de tudo isso, por ter sabido se apoiar na minha candidata para se eleger. 3. A terceira é a de que não esperava ver colegas escrachados, humilhados, surrados, feridos, ensanguentados, desmaiados, tratados sem o mínimo respeito, como se vítimas dos famosos anos de chumbo da Ditadura Militar, principalmente ocorrendo este fato na Assembleia Legislativa, Casa que deveria defender os interesses da classe em vez de, subservientemente, ceder aos seus caprichos. Felizmente a população já sabe que apenas quatro Deputados votaram contrariamente ao plano de Vossa Excelência. Não será só o senhor a perder no próximo pleito, mas também todos os que, ao contrário dos quatro, "ferraram" os professores (Esta é a expressão: "ferraram", pois não consigo ser educada e suave diante de barbaridades e brutalidades). 4. A quarta e última é a de que nunca me orgulhei tanto de ser professora. Estou feliz por saber que os meus colegas, os meus digníssimos colegas estão enfrentando como heróis seu autoritarismo e por saber que teremos avanços a partir de agora, pois a história dos professores cearenses muda a partir de agora, bem como a sua! Continuemos, agora apenas entre nós! Não posso perder a oportunidade de satisfazer a uma curiosidade! Preciso perguntar-lhe: se o estudo do professor não tem valor no Ceará, que valor terá o do aluno? Ah, já sei... o senhor manda distribuir computadores a alguns. Quero lembrar que não são bobos. Vão recebê-los, mas não vão compensar as perdas do ano letivo! Refiro-me à desvalorização da pesquisa e da obtenção de conhecimentos. Os professores, ao se submeterem a cursos como Especializações e Mestrados, desejam adquirir conhecimentos que difundirão para crianças e jovens do nosso Estado. Sei que não devem obter um título apenas nem principalmente para terem algum acréscimo financeiro em seus vencimentos. Seu maior anseio deve ser aprender mais, para ensinar mais e melhor. Esse argumento, porém, não pode dar sustento à desonestidade e à injustiça. O que se deve pagar a mais ao professor especializado, mestre ou doutor por essa conquista e pelos esforços necessários a ela tem que ser justo, e não desrespeitoso. Não deve se assemelhar a uma esmola, como a que o Governo de Vossa Excelência insiste em garantir. É necessário que todos os cearenses, da capital e de todos os outros municípios, saibam que a proposta para essa recompensa é humilhante e que precisaria que fosse decuplicada para corresponder a uma pequena porcentagem do subsidio de Vossa Excelência, que não precisou mostrar diploma nem provar conhecimento algum para governar o Estado. Para ser Governador, basta não ser analfabeto. Algo mais grave! Trato ainda de algo mais grave: do seu desrespeito ao professor. Suas infelizes frases, reveladoras do grande desdém que Vossa Excelência não soube esconder em seu discurso, magoaram a todos nós, e não apenas aos colegas da rede estadual. A sua sugestão de que professores devem trabalhar por amor só poderia ser aceita se eles não comessem; se não quisessem garantir às suas famílias pelo menos uma diminuta parcela dos benefícios que o senhor garante à sua e a si mesmo; se não se vestissem, se não precisassem pagar por energia, água, telefone e, o que já é impossível, se não precisassem de livros e de outros recursos para o seu crescimento intelectual. Não posso deixar de comentar também sobre a sua declaração de que o professor que queira ganhar melhor deve migrar para a escola privada. Vossa Excelência não se preocupa com a evasão dos professores da rede estadual? Isso não seria problema? Outros seriam contratados? Não interessa a permanência dos professores por muito tempo no serviço público, para que projetos tenham continuidade e outros benefícios ocorram? A escola privada realmente se mostra mais justa que a pública para com o professor? Esse pensamento de Vossa Excelência é lastimável! Por que falo tanto? Não tenho interesses partidários nem sou membro da oposição. Mas sou uma professora! E mais: sou especialista e mestra. Não gosto de ver meu esforço desvalorizado. Não adentrei o serviço público de educação. Não tive o desprendimento e o heroísmo dos meus digníssimos colegas da educação pública do Estado do Ceará, os quais respeito muito. Não me considero, porém, culpada por não acompanhá-los em tamanho esforço porque, ao contrário de Vossa Excelência, não concordo que eu deva trabalhar só por amor, mas também por dinheiro. Não digo que a sua visão de que o professor ou qualquer outro profissional deva trabalhar por amor é ingênua, pois ingênua seria eu se assim pensasse. Digo sim que é uma máxima cruel, insensível, revoltante, além de ridícula! Além de respeitar o professor, lamento pelo desdém de que ele é vítima, pelas humilhações a que é submetido. É absurdo um professor precisar destinar-se à Assembleia Legislativa do Ceará para reivindicar desgastantemente um direito garantido por lei que Vossa Excelência insiste em desrespeitar: o direito a um piso salarial de aproximadamente R$ 1100,00. Um apelo... Pense melhor, Excelência. Deixe a sensibilidade superar a arrogância e a indiferença pelas necessidades sociais. Seja prudente! O senhor já perdeu por tudo que tem feito! Um aviso... Não é só o professor da rede estadual que está insatisfeito, mas também o da rede privada de ensino, bem como outros segmentos. Não há causa sem efeito! Sem mais, Ritacy de Azevedo Teles P.S.: O tratamento respeitoso de "Vossa Excelência" é mera convenção gramatical da qual não consigo me desvencilhar. Não deve entendê-lo literalmente

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sobre a Greve dos Professores do Ceará

Contas simples que dizem muita coisa.

AULA DE MATEMÁTICA
Prof. Leonardo Schramm

Hoje vou brincar de professor de matemática. Vou passar alguns problemas para vocês resolverem.

Problema nº1

Um professor trabalha 5 horas diárias, 5 salas com 40 alunos cada. Quantos alunos ele atenderá por dia?
Resposta: 200 alunos dia.
Se considerarmos 22 dias úteis. Quantos alunos ele atenderá por Mês?
Resposta: 4.400 alunos por mês.
Consideremos que nenhum aluno faltou (hahaha) e, que em cada um deles, resolveram pagar ao professor com o dinheiro da pipoca do lanche: 0,80 centavos, diárias. Quanto é a fatura do professor por dia?
R: 160,00 reais diários
Se considerarmos 22 dias úteis. Quanto é faturamento mensal do mesmo professor?
R: Final do mês ele terá a faturado R$ 3.520,00.

Problema nº2

O piso salarial é 1.187 reais, para o professor atender 4.400 alunos mensais. Quanto o professor fatura por cada atendimento?
Resposta: aproximadamente 0,27 mensais
(vixe, valemos menos que o pacote de pipoca)... continuando os exercícios...

Problema nº3

Um professor de padrão de vida simples,solteiro e numa cidade do interior, em atividade, tem as seguintes despesas mensais fixas e variáveis:
Sindicato: R$12,00reais
Aluguel: R$350,00reais ( pra não viver confortável)
Agua/energia elétrica: R$100,00 reais (usando o mínimo)
Acesso à internet: R$60,00 reais
Telefone: R$30,00 reais (com restrições de ligações)
Instituto de previdência: R$150,00 reais
Cesta básica: R$500,00 reais
Transporte: sem dinheiro
Roupas: promocionais
Quanto um professor gasta em um mês?
Total das despesas: R$1202,00
Qual o saldo mensal de um professor?
Saldo mensal: R$1187,00 - 1202= -15 reais, passando necessidades

Agora eu te pergunto:

- Que dinheiro o professor terá para seu fim de semana?
- Quanto o professor poderá gastar com estudos, livros, revistas, etc.
- Quanto vale o trabalho de um professor??
- Isso é bom para o aluno???
- Isso é bom para a educação pública do Brasil??

domingo, 24 de julho de 2011

Desculpe a ausência. CARTA DA TERRA.

Possíveis leitores,

Ando às voltas com a redação final de minha dissertação de mestrado. Daí meu afastamento, meu silêncio. Conto com sua compreensão.

Deixo você com o Preâmbulo da Carta da Terra.

A CARTA DA TERRA

PREÂMBULO


Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a
humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais
interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

A Terra, Nosso Lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental,
redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo
arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano.

Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade considerando em relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza. Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Copa 2014: previstas cerca de 7.000 mortes

Perto de 7 mil pessoas poderão morrer em acidentes de trânsito
durante a Copa de 2014



Em 2014, no ano da Copa do Mundo no Brasil, 45.549 pessoasmorrerão vítimas do trânsito nas ruas e estradas brasileiras, sem considerar a realização do evento. A projeção é do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes (IPC-LFG), baseada na taxa média anual de crescimento de mortes no período de 2000 a 2008, que tem sido de 2,9%, extraída do Centro de Experimentação e Segurança Viária Brasil.

Levando em conta um cenário pessimista, que há muito se desenha com o caos aéreo brasileiro e agora com o atraso nas obras de infraestrutura aeroportuária para a Copa de 2014, é possível considerar que o fluxo viário durante a Copa do Mundo seja parecido com o do Carnaval, quando o tráfego rodoviário aumenta em torno de 40%. “Assim, poderia ser possível considerar que durante a Copa do Mundo no Brasil haveria 5.730 mortesem acidentes de trânsito”, afirma o jurista Luiz Flávio Gomes, criador e presidente do IPC-LFG.

“Porém, com base em estatísticas do Institute Road Safety, da África do Sul, de que houve um crescimento de 20% nos acidentes de trânsito do país somente no período em que obras de melhorias viárias estavam sendo executadas, especificamente para a Copa de 2010, podemos calcular, então, que no Brasil o número de mortes em acidentes deverá ficar próximo a 6.873 na Copa de 2014, computando-se mais este crescimento de 20%, ou seja, aproximadamente 229 mortes por dia”, avalia Luiz Flávio Gomes. Tal situação se reforça em função do atraso nas obras de infraestrutura das principais capitais que sediarão jogos da Copa. “Contudo, a realidade brasileira será mais cruel, uma vez que a Copa do Mundo de 2014 deverá acontecer em meio a um imenso canteiro de obras.”

De acordo com projeção do IPC-LFG, nas copas passadas – Alemanha (2006) e África do Sul (2010) –, houve um aumento de aproximadamente 30%no tráfego rodoviário durante os 30 dias do evento.

OMS – Dados da Organização Mundial da Saúde, de acordo com Luiz Flávio Gomes, projetam que em 2030 os acidentes de trânsito serão a quinta maior causa de mortes em todo o planeta. Hoje eles ocupam a nona colocação.
Para mais informações ou agendamento de entrevista, entrar em contato com Rodrigo Cipriano, da Entrelinhas Comunicação, pelos telefones (11) 3066-7700 ou (11) 9963-9856.

terça-feira, 29 de março de 2011

A Copa 2014 já Atemoriza Pobres em Fortaleza

Recebi e publico aqui em apoio

Terça-feira, 29 de Março de 2011, 20:55


Car@s,
hoje fomos procurados aqui na EPUPP pelos alunos que moram em comunidades de trilhos e que estão recebendo visitas de representantes do governo estadual para apresentar as obras da Copa com pouca ou nenhuma divulgação, sem direito ao debate e com informações muito vagas sobre o que será feito com as famílias removidas, quantas serão etc. Eles pedem o apoio do Comitê para divulgars amplamente que estas ações estão ocorrendo, e agir conjuntamente frente a isso o quanto antes. Já estão sabendo que haverá amanhã uma visita do governo ao Parque Santana com o mesmo objetivo, e outra visita ao Lagamar na sexta-feira.

Abaixo repasso a nota que o pessoal do Lagamar e do Papicu redigiu e pediu para encaminhar:

Os movimentos sociais das comunidades afetadas pelas obras da Copa estão sendo pegas na surdina com projetos absurdos, do VLT, que vão expulsar as comunidades de seus locais de origem. Já passaram pelo Lagamar, Papicu e outros. Basta! Queremos audiência pública com os órgãos responsáveis, Secretaria de Infra-Estrutura do Estado e Município e Secretaria das Regionais, Habitafor.
* Fundação Marcos de Bruim
* Movimento dos Conselhos Populares (MCP)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Cientistas rejeitam projeto de Aldo Rebelo

Fonte: Rede Brasileira de Educação Ambiental -- Rebea [24/02/2011 12:20]

Cientistas rejeitam projeto de Aldo Rebelo sobre Código Florestal

Pesquisadores contestaram os principais argumentos de ruralistas. Estudo completo deve estar disponível em 20 dias.

O grupo de especialistas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC) formado para analisar as mudanças do Código Florestal rejeitou, na última terça-feira (22/2), as principais propostas do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sobre o assunto. “O Código de 1965 precisa, sim, de modificações, mas a solução não está nesse substitutivo”, afirmou José Antônio Aleixo da Silva, coordenador do trabalho e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Elaborado ao longo dos últimos sete meses, o estudo dos pesquisadores está em fase de revisão e deve estar disponível em 20 dias. Reunidos num seminário realizado na Câmara dos Deputados, os cientistas reforçaram a importância das áreas atualmente protegidas pela lei nas propriedades privadas para a manutenção da própria produção
agropecuária e a prevenção das tragédias que vêm ocorrendo no Brasil por causa de enchentes e deslizamentos. Também deixaram claro que o País pode seguir ampliando essa produção com saltos de produtividades e não com o aumento do desmatamento.
O evento reuniucerca de 350 pessoas, entre elas mais de 30 parlamentares, para discutir aspectos jurídicos e científicos do Código Florestal. No seminário, que teve participação de cerca de 350 pessoas, entre elas 34 deputados, foram abordados aspectos jurídicos e científicos das alterações propostas para o Código Florestal. Enquanto o evento ocorria, o deputado Rebelo defendia sua proposta em uma sala a alguns metros de distância (veja entrevista).
Para atacar a lei atual, ele costuma dizer que ela não tem fundamentação científica. Segundo Paulo Adário, representante do Greenpeace no seminário, das 391 pessoas ouvidas pelo deputado para elaborar seu relatório em audiências públicas, apenas 15 eram cientistas. Todos os parlamentares foram convidados a participar do encontro. Um
convite especial para compor a mesa foi feito ao deputado Marcos Montes (DEM-MG), secretário executivo da Frente da Agropecuária, mas ele não compareceu.
“Hoje, o descumprimento do código é muito mais uma questão de planejamento agrícola e ambiental do que uma questão de uma legislação ambiental correta”, defendeu o professor Ricardo Rodrigues, pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Ele contestou um dos principais argumentos dos defensores do projeto de Rebelo: o de que a lei atual é impossível de ser cumprida. Rodrigues fez
um levantamento em regiões canavieiras de São Paulo e descobriu que na maioria dessas propriedades o percentual da área utilizada já atende os limites impostos pela legislação. Lideranças ruralistas, ao contrário, têm repetido que mais de 90% dos produtores estariam na ilegalidade.
Segundo o pesquisador, a demanda por Áreas de Preservação Permanente (APPs) pode ser bem menor do que se imagina. Nas fazendas pesquisadas por ele em São Paulo, ela seria de cerca de 10%. “Se diminuirmos a APP, teremos um grande impacto em termos de biodiversidade e quase nenhuma alteração em termos de impacto econômico para a produção”, afirmou. “Temos de melhorar a agricultura, estabelecendo uma boa política
agrícola, e fazer isso de forma integrada com a política ambiental. É possível produzir com alta tecnologia e sustentabilidade, respeitando mata ciliar e Reserva Legal. Este é o grande desafio no qual o substitutivo não entra”.
A APP é a faixa de vegetação situada ao longo de corpos de água, no topo de morros e em encostas que não pode ser eliminada segundo o Código Florestal atual. O relatório de Rebelo pretende diminuir a faixa mínima de APP de 30 metros para 15 metros. Além disso, prevê medir toda APP a partir do leito do curso de água na época de seca. Atualmente, isso é feito com o leito na época de cheia.
Preservação da vida humana
“Uma coisa comum a todas as pessoas atingidas por inundações e deslizamentos é que elas estão em áreas de risco. Quando olhamos o que o código atual prescreve, assim como o substitutivo, vemos que a maioria dessas áreas não é proibida”, comentou Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e atual secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento Ministério de
Ciência e Tecnologia (MCT).
De acordo com Nobre, locais de risco com declividade acima de 25% não poderiam ser ocupados por casas e prédios. Ele defendeu que, para isso, o novo código florestal faça uma distinção clara entre APPs urbanas e rurais com base no princípio da preservação da vida humana. Uma das principais polêmicas que cerca o projeto de Aldo Rebelo é se ele amplia ou não a possibilidade de ocupações em áreas urbanas de risco. O deputado afirma que não.
Carlos Nobre: Código deveria evitar explicitamente ocupações de risco.
O diretor do Instituto o Direito por um Planeta Verde (IDPV), Gustavo Trindade, lembrou que o projeto de Rebelo prevê que topos de morro deixarão de ser APPs. Ele considerou que, levando em conta a jurisprudência sobre o tema, o relatório deixa, sim, margem para ocupações inseguras. Em sua apresentação, Trindade mostrou que os
descontos previstos pela proposta de Rebelo nas áreas de Reserva Legal (RL) das propriedades podem fazer com que ela chegue a zero em alguns casos. O advogado criticou a proposta de se anistiar quem desmatou ilegalmente até 2008.
A RL é a fração de toda propriedade rural que não pode ser desmatada segundo o código atual. Ela é de 80% no bioma amazônico, de 35% no Cerrado dentro da Amazônia Legal e de 20% no resto do País. “Acho que o seminário serviu para colocar em dúvida, senão para desmontar, alguns dos principais pressupostos do relatório de Aldo
Rebelo”, avaliou Raul Telles do Valle, coordenador adjunto do Programa de Política e Direito Socioambiental (PPDS), do ISA. Ele afirmou que os cientistas deixaram claro que é possível recuperar os passivos ambientais sem que isso prejudique a produção agropecuária nacional. Valle chamou a atenção para a necessidade de políticas agrícolas e de crédito que incentivem e viabilizem o cumprimento da legislação.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Maranhão: Trajetória de Progresso Interrompida

José Lemos*

O Maranhão tem terras férteis, tem clima privilegiado, tem a segunda maior costa entre os estados brasileiros, tem regime pluviométrico intermediário entre o excesso de chuvas da Amazônia e a secura do Nordeste semi-árido. O Maranhão tem uma rede hidrográfica privilegiada e um subsolo riquíssimo.

Nesse estado encontramos, em síntese, praticamente todos os ecossistemas que prevalecem no Brasil: Pantanal na Baixada Ocidental do estado; Cerrados, Litoral, Amazônia, Sertão com pelo menos 46 municípios com características de semi-árido. Tem Deserto nos imensos Lençóis Maranhenses de paisagem árida, mas bela e apta para ser explorada em turismo de aventura. O Maranhão tem uma das maiores áreas de manguezais do planeta, um dos ecossistemas mais ricos em beleza e biodiversidade.

No Maranhão a natureza se manifesta em plenitude. Quando a floresta nativa é eliminada emergem as palmeiras de babaçu, uma riqueza ainda por ser explorada, mas que já consegue fomentar o sustento de milhares de famílias maranhenses em que a única fonte de renda monetária é extraída dos seus frutos: O coco do babaçu. Dele, uma vez retirada as suas amêndoas (de múltiplas utilidades, inclusive para a produção de biodiesel), produz-se um carvão de elevado poder calorífico que pode e deve fazer parte da matriz energética das zonas rurais paupérrimas onde ainda se usa a lenha e o carvão de madeira (cada vez mais escassa) para o cozimento de alimentos e para a fornalha de padarias, olarias e outros empreendimentos de todos os portes.

O Maranhão dispõe de uma população ávida por encontrar o seu caminho. Um povo que, infelizmente, ainda se contenta com muito pouco. Gente que foi deixada com baixa escolaridade e desinformada, justamente para viabilizar o enriquecimento de alguns poucos que retiram da sua ignorância a sua fonte de poder, enriquecimento, arrogância, prepotência, para arregimentar bajuladores e difamar adversários.

Não obstante todo o seu potencial, o Maranhão é um estado empobrecido, infeliz dadas as escolhas que lhe são impostas pela força do dinheiro, da propaganda enganosa, de um sistema político distorcido, e por uma justiça parcial, que lhe impôs governante sem votos, e que não julga recursos contra essa gente. Recursos que hibernam em gavetas, sabe-se lá por quais motivações.

O Maranhão experimentou, nos anos noventa, do século passado, um dos piores períodos de toda a sua trajetória econômica e social. Mesmo no imediato pós-guerra, não se observou situação tão dramática como aquela pelo qual o Estado passou naquela década, A década perdida para a maioria dos maranhenses, mas não para aqueles que dominaram o Estado (os de sempre) que ficaram mais ricos e mais poderosos.

O desastre administrativo que aconteceu nos anos noventa culminou com o Maranhão entrando no novo milênio com todos os seus indicadores sociais e econômicos mais ruins do que em qualquer outro estado da Federação.

Com efeito, em 2000 o Maranhão detinha o pior IDH e o maior Índice de Exclusão Social entre os estados brasileiros. O PIB per capita era o menor do Brasil e não passava de miseráveis R$1.615,77 por ano, que representava apenas 89% do salário mínimo daquele ano. A escolaridade média dos maranhenses em 2000 era de 4,1 anos. O estado tinha a maior taxa de analfabetos do Brasil.

Entre abril de 2002 e abril de 2009 assumiram governantes com outra visão. Governos que, fazendo o que seria o óbvio, como incentivar as vocações do estado, criar escolas de nível médio em todos os seus 217 municípios, contratar professores, fazer programas de combate ao analfabetismo, reverteram aquele panorama sombrio. Simples assim. Óbvio demais para quem não consegue enxergar um palmo adiante dos interesses familiares e dos amigos.

Como decorrência daquele curto período de governo (2002/2008) a escolaridade média dos Maranhenses saltou em 2008 para 6,3 anos e a taxa de analfabetismo de maiores de 10 anos regrediu significativamente. Ainda era muito alta (17,6%), mas o estado já não estava mais na triste posição de ser líder neste indicador degradante. Situação que foi transferida para os companheiros de infortúnio do Piauí e das Alagoas.

O IBGE acaba de divulgar o PIB dos estados para 2008. Pois bem o Maranhão foi o segundo estado brasileiro a apresentar a maior taxa anual de crescimento entre 2000 e 2008 deste indicador (17,5% ao ano). Apenas Tocantins, com taxa anual de crescimento do PIB per capita de 20,2% o superou. Os maranhenses chegaram em 2008 com um PIB per capita que não era o menor do Brasil (já não o foi desde 2005), cujo valor de R$6.103,66 representava 122,6% do salário mínimo daquele ano. Ainda muito baixo, mas, sem duvida, bem melhor do que o desastre que foi deixado em 2000 e em 2001. Naquele ritmo, projetamos que o Maranhão chegaria em 2010 com um PIB per capita de R$8.426,87, o que representaria 138% do salário mínimo daquele ano.

Infelizmente esta marca não foi alcançada, pela vontade da Justiça que houve por bem destituir um Governo legitimado pelo voto da maioria dos maranhenses e colocar no poder quem perdeu a eleição em 2006. Exatamente aqueles responsáveis pela década perdida dos anos noventa. A letargia do governo instalado em abril de 2009 no Estado fornece indícios fortes para essas previsões. Até porque melhorar a vida dos maranhenses nunca foi o objetivo dessa gente.

Aos maranhenses pobres não restará alternativas a não ser fazer o que fizeram mais de um milhão deles que, durante a década de noventa, emigraram para locais menos ruins do que aquele imposto pelos "donatários" do estado. Pobre Maranhão!

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*Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre” já na terceira edição. Acesse: www.lemos.pro.br e lemos@ufc.br