segunda-feira, 26 de abril de 2010

Jornalistas comentam cobertura da execução de José Maria

Reproduzo aqui e-mails que recebi, até porque concordo plenamente com seus conteúdos. Eles falam por si.

Ademir Costa

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Daniel Fonsêca
Data: 26 de abril de 2010 00:04
Assunto: Carta ao O POVO | Cotidiano
Para: Plinio , ombudsman.opovo@gmail.com, ombudsman@opovo.com.br, taniaalves@opovo.com.br, Rita Célia Faheina , ritacelia@opovo.com.br, rosa@opovo.com.br


Prezadas (os) colegas,

Faço questão de, mesmo passados três dias, registrar minha integral concordância com a carta enviada por Janaína de Paula. E adiciono: é um passo dado pelo jornal O Povo para fortalecer um postura que muito já o diferenciou do ponto de vista editorial - como a causa indígena, por exemplo. Precisa-se, mais do que nunca, de pessoas que cultivem sensibilidade, respeito e cuidado, presentes numa matéria sobre um fato denso como esse - pelo tema de que trata e por envolver a vida exemplar que foi a de Zé Maria.

Mais do que simplesmente repercutir uma morte violenta com marcas de pistolagem - o que facilmente seria enquadrado na editoria de Polícia -, o jornal optou por destacar o assassinato do líder Zé Maria como um fato do cotidiano, contando a história de um missionário de um novo mundo. Em vez de entrevistar inspetores, delegados e secretário, os repórteres (com destaque para Rita) foram conferir detalhes das redes, dos laços e das lutas construídos e vividos por Zé Maria.

Ao invés de apequenar Tomé, o "lugarejo acanhado" de que Janaína fala, o jornal O Povo o tornou grande como são os desafios daqueles que conduzem a vida como numa piracema, para replicá-la ao final de jornadas. Essa era a intenção deste grande Zé Maria e de tanto outros que, de Almofala a Batoque, de Caetanos de Cima a Curral Velho, de Xingu a Madalena, defendem, no mínimo, que sejam revelados, saindo de uma invisibilidade que tanto os oprime do ponto de vista simbólico - às vezes tão cruel quanto os ataques "objetivos".

O jornal O Povo acerta, ainda, ao referir-se a Zé Maria como "ambientalista", um lutador de causas sociais, um líder comunitário, como de fato era, e não como uma pessoa que podia ter inimigos por motivos sem fim, como costumam rechear as matérias policiais. Isso porque a questão ambiental, como foi evidenciado nos textos, é central na vida de Zé Maria, que já era uma referência para muitos que lidam diariamente com esses temas em nosso estado. Essa provavelmente foi a real causa do extermínio político havido em Limoeiro.

Se, de um lado, o jornal O Povo tem de ser reverenciado neste momento pela sensibilidade e extremo profissionalismo - com a sempre necessária sensibilidade -, fica a responsabilidade de sempre ter, na lide cotidiana com as matérias, a permanente possibilidade de seguir esse caminho. A invisibilidade a que são submetidos amplos segmentos sociais muitas vezes é mais nefasta do que abordagens que por vezes não agradam aos movimentos sociais. Porque estas pelo menos os mostram.

Parabéns Rita Célia, Rosa e Landry! Parabéns, Tânia! Parabéns, equipe do O Povo! Sigam assim, com as vibrações dos povos, das lutas sociais, das questões que afligem a muitas e muitos amiúde, do Cotidiano que revela a nós, colegas, militantes políticos e demais leitores (as), que vale a pena fazer jornalismo, que vale a pena lutar, que vale a pena viver como viveu Zé Maria.

É isso que esperamos, sinceramente, de todos (as) vocês.

Forte abraço,

Daniel Fonsêca
jornalista

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Janaina Paula
Data: 23 de abril de 2010 13:12
Assunto: Carta ao O POVO
Para: dasantigas1@gmail.com, taniaalves@opovo.com.br, fatima@opovo.com.br, juliana@opovo.com.br


Caros Editores,

Gostaria de parabenizar o Jornal O POVO pela excelente cobertura na edição de hoje da brutal execução do militante ambientalista da Chapada do Apodi, José Maria Filho. A manchete é precisa, o texto da Ritinha reproduz com sensibilidade a emoção que arrebatou aquela pequena capela, na comunidade do Tomé, o editorial do Valdemar Menezes tem a contundência necessária para que não nos dobremos a impunidade.

Deu saudades dos meus tempos de redação, dos dias em que eu acreditava que tecendo naquelas páginas as histórias de anônimos heróis, dos tantos zés, dos “ninguéns”, eu também faria a roda do mundo girar, girar mais aprumada. Hoje retomei esse sentimento ao abrir o jornal, como tantos que experimentei ao visitar na tarde de ontem, pela primeira vez, a Comunidade do Tomé. Um lugarejo acanhado que viu desfilar a fala inconformada da “igreja progressista”, o choro silencioso dos amigos e parentes, um certo estado de abandono daquele que se sente quando se perde alguém que passa pela vida imerso em intensidades.

Uma morte anunciada, a do Zé, anunciada por ele próprio: “se eu morrer e vocês derem continuidade à luta, morro feliz”. Ele queria nos dizer que mais vale uma vida bem vivida, que a morte em vida. Morrer na nossa própria pequenez e, pior, imersos na indiferença que nos consome e nos faz alheios ao mundo.

Espero que essa seja a primeira de uma série de matérias até que pistoleiros e principalmente os mandantes respondam por esse crime. E que a gente possa dar voz a tantos outros zés, para que não se veja a triste repetição de uma morte anunciada.

Janaina de Paula

domingo, 25 de abril de 2010

Belo Monte: a volta triunfante da ditadura militar?

Por Leonardo Boff

O governo Lula possui méritos inegáveis na questão social. Mas na questão ambiental é de uma inconsciência e de um atraso palmar. Ao analisar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temos a impressão de sermos devolvidos ao século XIX. É a mesma mentalidade que vê a natureza como mera reserva de recursos, base para alavancar projetos faraônicos, levados avante a ferro e fogo, dentro de um modelo de crescimento ultrapassado que favorece as grandes empresas à custa da depredação da natureza e da criação de muita pobreza.

Este modelo está sendo questionado no mundo inteiro por desestabilizar o planeta Terra como um todo e mesmo assim é assumido pelo PAC sem qualquer escrúpulo. A discussão com as populações afetadas e com a sociedade foi pífia. Impera a lógica autoritária; primeiro decide-se depois se convoca a audiência pública. Pois é exatamente isto que está ocorrendo com o projeto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, estado do Pará.

Tudo está sendo levado aos trambolhões, atropelando processos, ocultando o importante parecer 114/09 de dezembro de 2009, emitido pelo IBAMA (órgão que cuida das questões ambientais), contrário à construção da usina, e a opinião da maioria dos ambientalistas nacionais e internacionais que dizem ser este projeto um grave equívoco com conseqüências ambientais imprevisíveis.

O Ministério Público Federal que encaminhou processos de embargo, eventualmente levando a questão a foros internacionais, sofreu coação da Advocacia Geral da União (AGU), com o apoio público do presidente, de processar os procuradores e promotores destas ações por abuso de poder.

Esse projeto vem da ditadura militar dos anos 70. Sob pressão dos indígenas apoiados pelo cantor Sting em parceria com o cacique Raoni foi engavetado em 1989. Agora, com a licença prévia concedida no dia 1º de fevereiro, o projeto da ditadura pôde voltar triunfalmente, apresentado pelo governo como a maior obra do PAC.

Neste projeto tudo é megalômano: inundação de 51.600 hectares de floresta, com um espelho d’água de 516 km², desvio do rio com a construção de dois canais de 500m de largura e 30 km de comprimento, deixando 100 km de leito seco,  submergindo a parte mais bela do Xingu, a Volta Grande e um terço de Altamira, com um custo entre 17 e 30 bilhões de reais, desalojando cerca de 20 mil pessoas e atraindo para as obras cerca de 80 mil trabalhadores para produzir 11.233 MW de energia no tempo das cheias (4 meses) e somente 4 mil MW no resto do ano, para, por fim, transportá-la até 5 mil km de distância.

Esse gigantismo, típico de mentes tecnocráticas, beira a insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, valorizando matrizes energéticas alternativas, baseadas na água, no vento, no sol e na biomassa. E tudo isso nós temos em abundância. Considerando as opiniões dos especialistas podemos dizer: a usina hidrelétrica de Monte Belo é tecnicamente desaconselhável, exageradamente cara, ecologicamente desastrosa, socialmente perversa, perturbadora da floresta amazônica e uma grave agressão ao sistema-Terra.

Este projeto se caracteriza pelo desrespeito às dezenas de etnias indígenas que lá vivem há milhares de anos e que sequer foram ouvidas; desrespeito à floresta amazônica cuja vocação não é produzir energia elétrica mas bens e serviços naturais de grande valor econômico; desrespeito aos técnicos do IBAMA e a outras autoridades científicas contrárias a esse empreendimento; desrespeito à consciência ecológica que devido às ameaças que pesam sobre o sistema da vida pedem extremo cuidado com as florestas; desrespeito ao Bem Comum da Terra e da Humanidade, a nova centralidade das políticas mundiais.

Se houvesse um Tribunal Mundial de Crimes contra a Terra, como está sendo projetado por um grupo altamente qualificado que estuda a reinvenção da ONU sob a coordenação de Miguel d’Escoto, ex-presidente da Assembléia (2008-2009), seguramente os promotores da hidrelétrica de Belo Monte estariam na mira deste tribunal.

Ainda há tempo de frear a construção desta monstruosidade, porque há alternativas melhores. Não queremos que se realizem as palavras do bispo Dom Erwin Kräutler, defensor dos indígenas e contra Belo Monte: "Lula entrará na história como o grande depredador da Amazônia e o coveiro dos povos indígenas e ribeirinhos do Xingu".

Leonardo Boff, teólogo, é representante e co-redator da Carta da Terra. 24-Fev-2010

FÓRUM TRANSNACIONAL DA EMANCIPAÇÃO HUMANA

Recebi e lhe repasso como apoio na divulgação. O evento, sua origem e o histórico do Mivimento Crítica Radical em Fortaleza justificam a esperança de bons frutos desta semente.

Desafios culturais do Século XXI, limite histórico do capitalismo, crise global e seus desdobramentos no Nordeste e Brasil, devastação ambiental, o sujeito e suas aventuras, crítica radical, audácia antifetichista e nova relação social

PROJETO

Período: 01 a 05 de agosto de 2010

Local: Concha Acústica – Universidade Federal do Ceará - Fortaleza - Brasil

I – IDENTIFICAÇÃO DO EVENTO

Título do Evento: FÓRUM TRANSNACIONAL DA EMANCIPAÇÃO HUMANA - Desafios Culturais do Século XXI, Limite Histórico do Capitalismo, Crise Global e Seus Desdobramentos no Nordeste e Brasil, Devastação Ambiental, o Sujeito e Suas Aventuras, Crítica Radical, Audácia Antifetichista e Nova Relação Social.

Proponente: Instituto Crítica Radical – Fortaleza

Realização: Instituto Crítica Radical, Universidade Federal do Ceará – UFC e Universidade Estadual do Ceará – UECE.

Apoio: Outras Universidades, órgãos públicos e entidades

Duração: 48 horas

Período: entre 01 a 05 de agosto de 2010

Público Alvo: pesquisadores(as), professores(as), estudantes, trabalhadores(as),

integrantes dos diversos movimentos sociais, artistas, intelectuais e indivíduos em geral do Brasil e de vários países.

Conferencistas: Robert Kurz (ensaísta alemão e editor da Revista EXIT), Anselm Jappe (Doutor em Filosofia e Ciências Sociais, professor e ensaísta alemão), Roswitha Scholz (pedagoga, ensaísta alemã e editora da Revista EXIT), Tereza Ricci (Doutora em Literatura, professora e ensaísta italiana), Jorge Paiva (ensaísta e integrante do Instituto Crítica Radical de Fortaleza), Gérard Briche (Doutor em Filosofia, professor e ensaísta francês), Moishe Postone (Doutor em História, professor e ensaísta americano) e Richard Dawkins (Doutor em Biologia, professor e divulgador da ciência - a confirmar), James Lovelock (a confirmar), José Saramago (a Confirmar). Os (as) conferencistas são autores(as) de artigos e livros, alguns dos quais já publicados no Brasil.

Coordenadores do Evento – Maria Luiza Fontenele (Socióloga, professora aposentada da UFC e integrante da União das Mulheres Cearenses – UMC), Rosa Fonseca (Socióloga, Ms. em Educação e integrante do Grupo Crítica Radical) e Jorge Paiva (Instituto Crítica Radical).

Local do Evento - Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Fortaleza - Ceará - Brasil

II – O EVENTO

Fortaleza tem sido palco e origem de vários eventos anuais de dimensões e repercussões inéditas para a cidade e país. Entre elas cabe destacar: Seminário Internacional Crítica Radical, Superação do Capitalismo e a Emancipação Humana (CEFET- CEARÁ /2.000), Seminário Internacional Crítica Radical, Crise e Emancipação – Para superação da história das relações fetichistas (Bienal Internacional do Livro – Centro de Convenções/2004), Simpósio Internacional - De que amanhã se trata? Ciência, Cultura e Desafios Contemporâneos no Olhar da Crítica Emancipatória (SPBC – UECE/2005) e o Seminário FETICHISMO E EMANCIPAÇÃO - 150 anos dos Grundrisse (Karl Marx) e A Origem das Espécies (Charles Darwin) (UFC/2008).

A realização desses eventos sempre contou com um número significativo de participantes ensejando acalorados debates. Todas essas iniciativas fazem parte de uma proposta que vinha sendo desenvolvida pelo Instituto Filosofia da Práxis em parceria com universidades e outras instituições que, entrelaçando o mundo acadêmico e aqueles(as) que refletem e compõem os movimentos sociais, se propôs a discutir a realidade do mundo presente, a partir de um ponto de vista capaz de dar conta da crise real do que se tornou comum chamar o mundo globalizado.

No centro dos debates travados nesses eventos, a atualidade da crítica da economia política na ótica da teoria crítica radical, ou seja, com Marx para além de Marx, com particular ênfase na crítica do valor, da dissociação e do fetichismo da mercadoria e seu sujeito, centrada na crise da moderna sociedade produtora de mercadorias.

No segundo semestre de 2007, o Instituto e o grupo Crítica Radical lançaram a proposta de realizar em 2008, por ocasião dos 40 anos do maio de 68, em Paris, um encontro de caráter transnacional. O objetivo era debater a crise atual à luz da crítica radical do valor-dissociação, fetichismo e sujeito, bem como a necessidade da construção de um novo movimento social de caráter transnacional emancipatório para superar a história das relações fetichistas. A idéia era revisitar o maio francês, em particular o movimento situacionista, estabelecendo nexos com a teoria crítica radical na atualidade tendo em vista fornecer elementos para uma práxis inovadora em plano mundial. A proposta não se concretizou, mas oportunizou a que no primeiro semestre de 2008, uma equipe de integrantes do Instituto e do grupo Crítica Radical, participasse de várias reuniões e encontros na Europa (Portugal, França e Itália) e em seguida no Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) desenvolvendo esforços para a articulação desse encontro.
O abalo financeiro no segundo semestre de 2008 e seus desdobramentos, reflexo da crise da barreira histórica do sistema, gerou uma grande perplexidade entre economistas, executivos, teóricos de diversos matizes e ideólogos do capitalismo e sua modernização. Essa circunstância, sem dúvida alguma, contribuiu para despertar nas pessoas um interesse maior pelas análises que, com bastante antecedência, já vinham sendo feitas pela crítica radical.

No Fórum Social Mundial/2009, em Belém, a idéia da realização de um fórum transnacional antifetichista, apresentada num debate acerca da natureza da crise atual, contou com a adesão de um expressivo contingente de pessoas que participavam de uma acalorada discussão sobre a superação da crise. Neste espaço, foi debatida a urgente superação da paralisia do pensamento moderno e pós-moderno e construção de um novo movimento de transformação de toda a sociedade capaz de sair da imanência e ultrapassar o sistema produtor de mercadorias. Todos(as) presentes assumiram, com base nesse compromisso, a organização e realização de um fórum para o mês de agosto de 2010 em Fortaleza.

Vale ressaltar que essa proposta começa a ter uma grande amplitude na medida em que ao hoje Instituto Crítica Radical se somam outras entidades e instituições na promoção do evento em plano local, nacional e internacional.

Assim, a realização do evento proposto dá prosseguimento à tarefa de enfrentar a chamada “crise de paradigmas” que continua permeando a atual produção nas ciências humanas em suas diversas especializações. Com esse propósito discutirá as categorias fundantes do sistema produtor de mercadorias na ótica da crítica radical, englobando no debate as diversas contribuições e tradições dessa escola de pensamento que são originárias da percepção de um duplo Marx, ou seja, o Marx exotérico e o Marx esotérico.

III – JUSTIFICATIVA

O Fórum justifica-se, principalmente, pelo esforço de divulgar e debater as mais recentes elaborações, reflexões e pesquisas de uma crítica social avançada. Cabe destacar, em particular, o estudo e aprofundamento teórico da crítica radical do valor-dissociação, fetichismo da mercadoria, sujeito, trabalho, política, Estado, mercado, dinheiro, economia, direito, nação, etc. Desta revolução teórica constituiu-se um campo indispensável para uma crítica e uma práxis social inovadoras. O Fórum justifica-se também porque ampliará o alcance da divulgação dessas elaborações em plano mundial, estendendo para além-mar a concretização da atividade de extensão universitária e um momento para tornar público o resultado de pesquisas relacionadas ao instigante temário.

Tais elaborações remetem para a Inglaterra do século XIX, na época o laboratório mais avançado do modo de produção capitalista, onde a crítica radical descobre a célula germinal desse sistema, a mercadoria. Frente à dinâmica do capitalismo, cujo apogeu empolgou e modernizou o mundo e que hoje esbarrou no seu limite histórico, a crítica radical explica sua lógica com base no fundamento da produção burguesa, o valor-dissociação, bem como a natureza da crise atual.

No entanto, no mundo dominado pelo fetichismo da mercadoria, esta nova abordagem teórica apresentada nos Grundrisse com seu desdobramento principalmente no primeiro capítulo de O Capital atravessou os tempos como proscrita. O próprio autor dessas obras contribuiu para isso ao desenvolver a idéia da história como história da luta de classes cujo desfecho desembocou na modernização capitalista e, hoje, no seu colapso.

A interpretação da história como história das relações fetichistas permaneceu alheia e inquietante não só para o marxismo do movimento operário, mas também para a intelectualidade, em particular para socialistas e comunistas, bem como para membros dos partidos políticos, sindicatos, artistas, cientistas, trabalhadores, feministas, ecologistas, jornalistas, juventude, etc.

Mas, se antes inexistiam publicações, reflexões e práxis voltadas para essa teoria ainda desconhecida, hoje nos deparamos com uma situação completamente diferente e estimuladora. Agora, a atitude de reprimir, esconder e desqualificar a crítica radical do fetichismo começa a ser superada. E, com isso, irrompe um movimento teórico tendo como fundamento a negação do sistema; vem à luz a sua abordagem acerca da irracionalidade do moderno sistema produtor de mercadorias; surge, enfim, a critica radical que capta a lógica destrutiva do processo de acumulação capitalista em seus fundamentos e limites e aponta para a sua superação.

O desenvolvimento, a divulgação e o estudo desta teoria e a construção de um movimento social de novo tipo nela fundamentada, coincidem com o aprofundamento e acirramento da crise que traz à superfície os limites da lógica do sistema produtor de mercadorias. Evidencia-se, com isso, a possibilidade da superação do sistema capitalista, que surge, agora, compreensível e factível após a revelação dos seus segredos mais importantes.

Esses aspectos ganharão muito mais abrangência com a realização do Fórum Transnacional da Emancipação Humana que já vem despertando a sensibilidade, a curiosidade e a imaginação em todas as pessoas interessadas e preocupadas no desenvolvimento de atividades científicas e culturais voltadas para o conhecimento e enfrentamento dos desafios colocados para a humanidade e o planeta neste novo século.

A realização do Fórum pretende também contribuir de forma especial para uma maior e melhor apreensão do mundo dos que compõem os movimentos sociais, aqui e alhures, como uma forma de potencializar suas ações transformadoras.

IV – OBJETIVOS GERAIS

Apresentar e debater as idéias que fundamentam a análise do impasse da sociedade atual que desemboca no colapso do capitalismo e que, por essa razão, constitui uma ameaça à humanidade e ao planeta, cujo desfecho pode ser o autoaniquilamento da humanidade e a destruição da natureza. Isto reflete uma sociedade que, em conseqüência do fetichismo da abstração real do valor-dissociação, não tem consciência de si mesma, não decide livremente, não utiliza suas potencialidades, não consegue organizar diretamente sua própria forma de socialização. A causa desse fracasso foi captada e anunciada pela crítica radical cujo olhar, teórico e prático, se volta agora para a suplantação do sistema. No entanto, até agora não havia nenhuma convocação transnacional para superarmos essa situação. Mas, encarar e responder a estes desafios tornou-se incontornável. Nesse sentido, urge construirmos um ambiente favorável para o pensar e o agir emancipatórios.

Esse é o objetivo do Fórum Transnacional da Emancipação Humana.

Um fórum que pretende encarar o fundamento lógico do sistema, seu desenrolar no tempo histórico e sua barreira mundialmente apresentada pela crise atual. Um encontro que tem como fundamento a revolução teórica da crítica radical do valor-dissociação. Um evento que vai desencadear o processo de construção de um movimento social emancipatório que transcenda o sistema produtor de mercadorias e inaugure uma nova relação social. Uma oportunidade para o encontro do impensável com o impossível para ultrapassarmos a história das relações fetichistas. Enfim, um fórum que tem como objetivo a conquista da sociedade da emancipação humana.

Esses objetivos norteiam a realização do evento, certamente ampliado em suas pretensões pelo acúmulo do debate e da expectativa da contribuição de outros pensadores e/ou correntes de pensamento. Ao mesmo tempo objetiva-se a articulação de movimentos sociais, coletivos e instituições de ensino, pesquisa e extensão com vistas à construção de um novo movimento social transnacional emancipatório.

Com a realização deste Fórum Transnacional da Emancipação Humana se pretende avançar na compreensão crítica do mundo e fundamentar a atividade teórica e prática dos movimentos sociais que se colocam no terreno da transformação das condições de dominação fetichista sobre os seres humanos.

V – OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Contribuir para que integrantes dos movimentos sociais de vários países, em particular da nossa cidade e estado, possam apropriar-se da problemática decorrente de uma dominação sem sujeito que leva o ser humano a um não sabe, mas faz, convertendo-o em morto-vivo, conferindo um poder sobrenatural às mercadorias, através de uma abstração real que é o verdadeiro sujeito das relações humanas. Tal conceito de fetichismo, central na análise crítica radical da sociedade contemporânea, esboça os fundamentos de uma crítica social renovada, uma verdadeira revolução teórica que atinge inclusive aqueles(as) que não tiveram acesso a uma formação de tipo acadêmica, mas cuja experiência e reflexão lhes permitem apropriar-se e contribuir para a concretização dos objetivos gerais almejados.

Difundir novas idéias e conceitos abrangentes com base na crítica radical do valor, do fetichismo, da dissociação e das formas de práxis social a eles correspondentes, a fim de complementar a formação de profissionais de ensino e intelectuais ligados à área, bem como contribuir para a renovação da reflexão filosófica, histórica, ecológica, científica e cultural do Ceará, do Brasil e do mundo.

Integrar as ações de ensino pesquisa e extensão universitárias às reflexões e iniciativas práticas dos movimentos sociais inovadores.

Divulgar elementos significativos para uma compreensão crítica da nossa cultura e arte, tendo em vista sensibilizar o maior número de pessoas para a beleza e a diversidade cultural do nosso estado e país.

Fomentar um espaço permanente de confiança, camaradagem e cooperação entre indivíduos, grupos e movimentos sociais tendo em vista a criação de um movimento de caráter transnacional para uma ação comum coletiva na perspectiva emancipatória.

Contribuir para a realização desse encontro para discutir uma agenda comum e a organização de um movimento em rede, de caráter transnacional, no sentido da emancipação humana.

VI – METODOLOGIA:

Com o objetivo de fomentar o debate dessa nova abordagem teórica, cuja ausência é gritante na atualidade e, ao mesmo tempo, criar processos de organização e luta contínuos e agregadores, propõe-se uma metodologia com vistas a estabelecer uma dinâmica de conhecimento mútuo e discussão coletiva dos participantes do fórum no seu conjunto. O espaço da Concha Acústica com o entorno do Campus do Benfica da UFC constitui um ambiente mais do que apropriado para o livre debate desses desafios. No entanto, para garantir que o evento cumpra seus elevados objetivos ao abrigo do Sol e da chuva, a Concha Acústica que completa 50 anos (03/outubro/59) precisa de uma cobertura. O ideal seria comemorarmos seu aniversário com uma cobertura permanente conversível. Com isso, possibilitaríamos a realização de inúmeras outras atividades que poderão ser ali plenamente desenvolvidas.

VII – PROGRAMAÇÃO

– Até 01/08/10 – Realização de pré-fóruns como preparação aos desafios temáticos propostos numa combinação permanente entre reflexão e atividade.
– Dia 01/08/10 – Abertura do fórum com performance, música e filme (Assim caminhou a humanidade) e conferência sobre a temática geral.
– Dias 02,03,04 e 05 – Conferências, debates, mesas- redondas, encontros,
exposições, mostras, lançamentos, etc.
– Dia 05 – Encerramento do fórum com manifestações artísticas e culturais.

PAI NOSSO DOS MÁRTIRES














A execução de Zé Maria Filho, em Limoeiro do Norte, no Ceará entra no rol dos que tombaram por gritar pela vida. Sobre o assunto, veja outras postagens neste blog




Composição e interpretação: Zé Vicente

Pai nosso, dos pobres marginalizados
Pai nosso, dos mártires, dos torturados.
Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida,
Teu nome é glorificado, quando a justiça é nossa medida.
Teu reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão.
Maldita toda a violência que devora a vida pela repressão!
Ô,ô,ô,ô, / Ô,ô,ô,ô!

Queremos fazer Tua vontade, és o verdadeiro Deus libertador.
Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor.
Pedimos-Te o pão da vida, o pão da segurança, o pão das multidões,
O pão que traz humanidade, que constrói o homem em vez de canhões!
Ô,ô,ô,ô, / Ô,ô,ô,ô!

Perdoa-nos quando por medo ficamos calados diante da morte,
Perdoa e destrói os reinos em que a corrupção é a lei mais forte.
Protege-nos da crueldade, do esquadrão da morte, dos prevalecidos
Pai nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos!
Pai nosso, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos!
Ô,ô,ô,ô, / Ô,ô,ô,ô!

Pai nosso, dos pobres marginalizados.
Pai nosso, dos mártires, dos torturados.



CONFISSÕES DO LATIFÚNDIO


Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada.
Por onde passei, plantei a morte matada.
Por onde passei, matei a tribo calada, a roça suada, a terra esperada...
Por onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada.


Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da diocese católica de São Félix do Araguaia

sábado, 24 de abril de 2010

Muito mais que Pedofilia

Texto de Dom Odilo P. Scherer - jornal O Estado de S.Paulo
10 de abril de 2010 | 0h 00

As notícias sobre pedofilia envolvendo membros do clero difundiram-se de modo insistente. Tristes fatos, infelizmente, existiram no passado e existem no presente. Não preciso discorrer sobre as cenas escabrosas de Arapiraca... A Igreja vive dias difíceis, em que aparece exposto o seu lado humano mais frágil e necessitado de conversão. De Jesus aprendemos: "Ai daqueles que escandalizam um desses pequeninos!" E de São Paulo ouvimos: "Não foi isso que aprendestes de Cristo."
As palavras dirigidas pelo papa Bento XVI aos católicos da Irlanda servem também para os católicos do Brasil e de qualquer outro país, especialmente aquelas dirigidas às vítimas de abusos e aos seus abusadores. Dizer que é lamentável, deplorável, vergonhoso é pouco! Em nenhum catecismo, livro de orientação religiosa, moral ou comportamental da Igreja isso jamais foi aprovado ou ensinado. Além do dano causado às vítimas, é imenso o dano à própria Igreja.

O mundo tem razão de esperar da Igreja notícias melhores? dos padres, religiosos e de todos os cristãos, conforme a recomendação de Jesus a seus discípulos: "Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles, vendo vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus!" Inútil divagar com teorias doutas sobre as influências da mentalidade moral permissiva sobre os comportamentos individuais, até em ambientes eclesiásticos. Talvez conseguiríamos compreender melhor por que as coisas acontecem, mas ainda nada teríamos mudado.

Há quem logo tenha a solução, sempre pronta, à espera de aplicação: É só acabar com o celibato dos padres que tudo se resolve! Ora, será que o problema tem que ver somente com celibatários? E ficaria bem jogar nos braços da mulher um homem com taras desenfreadas, que também para os casados fazem desonra? Mulher nenhuma merece isso! E ninguém creia que esse seja um problema somente de padres: a maioria absoluta dos abusos sexuais de crianças acontece debaixo do teto familiar e no círculo do parentesco. O problema é bem mais amplo.

Ouso recordar algo que pode escandalizar alguns até mais que a própria pedofilia: É preciso valorizar novamente os mandamentos da Lei de Deus, que recomendam atitudes e comportamentos castos, de acordo com o próprio estado de vida. Não me refiro a tabus ou repressões "castradoras", mas apenas a comportamentos dignos e respeitosos em relação à sexualidade. Tanto em relação aos outros como a si próprio. Que outra solução teríamos? Talvez o vale-tudo e o "libera geral", aceitando e até recomendando como "normais" comportamentos aberrantes e inomináveis, como esses que agora se condenam?

As notícias tristes desses dias ajudarão a Igreja a se purificar e a ficar muito mais atenta à formação do seu clero. Essa orientação foi dada há mais tempo pelo papa Bento XVI, quando ainda era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Por isso mesmo, considero inaceitável e injusto que se pretenda agora responsabilizar pessoalmente o papa pelo que acontece. Além de ser ridículo e fora da realidade, é uma forma oportunista de jogar no descrédito toda a Igreja Católica. Deve responder pelos seus atos perante Deus e a sociedade quem os praticou. Como disse São Paulo: Examine-se cada um a si mesmo. E quem estiver de pé, cuide para não cair.

A Igreja é como um grande corpo: quando um membro está doente, todo o corpo sofre. O bom é que os membros sadios, graças a Deus, são a imensa maioria. Também do clero. Por isso ela será capaz de se refazer dos seus males, para dedicar o melhor de suas energias à boa notícia: para confortar os doentes; visitar os presos nas cadeias; dar atenção aos abandonados nas ruas e debaixo dos viadutos; para ser solidária com os pobres das periferias urbanas, das favelas e cortiços. Ela continuará ao lado dos drogados e das vítimas do comércio de morte, dos aidéticos e de todo tipo de chagados; e continuará a acolher nos cotolengos criaturas rejeitadas pelos "controles de qualidade" estéticos aplicados ao ser humano; a suscitar pessoas, como Dom Luciano e dra. Zilda Arns, para dedicarem a vida ao cuidado de crianças e adolescentes em situação de risco; e, a exemplo de Madre Teresa de Calcutá, ainda irá recolher nos lixões pessoas caídas e rejeitadas, para lavar suas feridas e permitir-lhes morrer com dignidade, sobre um lençol limpo, cercadas de carinho.

Continuará a mover milhares de iniciativas de solidariedade em momentos de catástrofes, como no Haiti; a estar com os índios e camponeses desprotegidos, mesmo quando também seus padres e freiras acabam assassinados. E continuará a clamar por justiça social e a denunciar o egoísmo que se fecha às necessidades do próximo. Ainda defenderá a dignidade do ser humano contra toda forma de desrespeito e agressão, e não deixará de afirmar que o aborto intencional é um ato imoral, como o assassinato, a matança nas guerras, os atentados e genocídios. E sempre anunciará que a dignidade humana também requer comportamentos dignos e conformes à natureza, também na esfera sexual; e que a Lei de Deus não foi abolida, pois está gravada de maneira indelével na coração e na consciência de cada um.

Mas ela o fará com toda humildade, falando em primeiro lugar para si mesma, bem sabendo que é santa pelo Santo que a habita, e pecadora em cada um de seus membros. Todos são chamados à conversão constante e à santidade de vida. Não falará a partir de seus próprios méritos, consciente de trazer um tesouro em vasos de barro, mas consciente também de que, apesar do barro, o tesouro é precioso, e ela quer compartilhá-lo com toda a humanidade. Essa é sua fraqueza e sua grandeza!

Dom Odilo P. Scherer
Ccardeal-Arcebispo de São Paulo

A Resposta de Gaia

Prof. Cadu Silva

Terremotos, tsunamis, enchentes, nevascas, tempestades, tornados, secas, icebergs gigantes deslocados são apenas conceitos isolados se observarmos estes fenômenos de forma isolada. Mas, se observarmos o conjunto podemos perceber uma ligação complexa, que pode comprovar a teoria Gaia.
Quando eu era criança, sempre fui fascinado por estes eventos, e desde então o fascínio somente cresceu. Perguntava a meu pai, sêo Messias, se teríamos algum destes no Brasil, ele respondia que no Brasil só enchentes como as do Rio São Francisco, as quais pudemos presenciar na casa de meu avô, sêo Eduardo, e as secas do sertão, as quais pude presenciar em Porto da Folha, nas terras do outro avô, sêo Alcides.
Mas porque eu não poderia ver os outros fenômenos no Brasil?
Os terremotos pelo fato de que o nosso país está exatamente no meio de uma placa tectônica, a Sul-Americana, e os eventos deste tipo, os mais perigosos, ocorrem nas extremidades (nas bordas da placa), por conta do atrito entre placas. No entanto, mesmo nestas condições, já ocorreram terremotos no Brasil, os maiores abalos foram registrados em: em 1922, São Paulo (5.1 na escala Richter); em 1955, no Espírito Santo (6.3 na escala de Richter) e Mato Grosso (6.6 na escala de Richter); no Ceará, em 1980 (5.2 na escala de Richter); no Amazonas, em 1983 (5.5 na escala de Richter); no Rio Grande do Norte, em 1986 (5.1 na escala de Richter); em Minas Gerais, 2007, quando foi registrada a primeira morte causada por um abalo sísmico no Brasil (6.6 na escala de Richter); e em 2008 quando vários Estados (São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais) tremeram (5.2 na escala Richter).
E se a placa romper? então teremos uma longa rachadura, que vai começar a balançar nosso Brasil. Mas, segundo a maioria dos cientistas do nosso tempo, isso é quase impossível, da mesma forma que o pólo sul não derreteria, e pasmem, ele está derretendo. Nos três primeiros meses de 2010, já tivemos três terremotos significativos, o primeiro no Haiti, onde o país acabou de ser destruído e perdemos cerca de 200 mil vidas. O segundo no Chile, e o terceiro na Turquia, estes dois últimos sem a dimensão do Haiti, mas com a destruição que deixa qualquer nação desorientada.
Falando em icebergs, qual o problema deles ficarem soltos pelos oceanos? Muitos podem até responder que o Titanic já afundou mesmo! Mas, neste ponto existe outro fenômeno chamado correntes marítimas ou correntes oceânicas, que são caracterizados pelo fluxo ordenado ou não das águas pelos oceanos. Essas correntes decorrem do movimento rotacional da terra, dos ventos e da densidade das águas (quentes ou frias, salgadas ou doces, portanto leves ou pesadas). É como se fossem rios ou grandes tubos dentro dos oceanos. Essas correntes influenciam a pesca, as marés e o clima, tudo num delicado equilíbrio, que estamos próximos a perder.
A movimentação de icebergs nos oceanos, que nos últimos anos passaram a acontecer com maior freqüência, pode alterar significativamente o movimento dessas correntes marítimas, mudando sua densidade de quente para fria, ou vice-versa. Em fevereiro de 2010, um iceberg do tamanho das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas soltou-se e está a deriva no mar, cientistas do mundo todo alertaram para a possibilidade de grandes alterações nas correntes oceânicas.
Esses icebergs, nem se comparam ao que o Titanic se chocou, pois aquele era um pequeno bloquinho de gelo, se comparado. Estamos falando de uma nova era, quando icebergs são maiores que cidades inteiras, e tudo isto está sendo causado pelo aquecimento global.
A imprensa e a mídia estão confusas, e confundido a população, muitos divulgam que enchentes e tsunamis se dão por conta do aquecimento global. Os tsunamis acontecem quando o epicentro de um terremoto ocorre perto ou no meio do mar, causando ondas gigantes que viajam a cerca de 950 km/hora até chegar ao continente e devastar tudo. As enchentes são naturais desde tempo dos egípcios, quando o Rio Nilo inundava grandes áreas e tornava-as férteis.
A questão é que nos últimos anos as enchentes são cada vez mais poderosas, por conta da intensidade das chuvas. Mas porque a intensidade das chuvas mudaram nos últimos anos? uma das respostas está na mudança das correntes oceânicas, que também influenciam correntes de ar, e ai tudo muda. Nevascas, enchentes, chuvas, secas: não podemos mais prever qual será a intensidade ou o local, tudo vai mudar. Como dizia Antonio Conselheiro: o sertão vai virar mar, e o mar virar sertão. Começo a refletir sobre o que ele dizia.
No meio desta confusão temos o pensamento científico, religioso, e popular num emaranhado de mitos e teorias, todos tentando explicar a fúria da natureza. Diziam que em 2000 o mundo iria acabar, nesta história eu nunca acreditei, mas hoje, acredito fielmente que a raça humana e muitas outras espécies estão gravemente ameaçadas.
O planeta Terra não vai acabar, ou ser destruído, continuará como existe a milhões de anos. O causador de toda essa confusão chama-se ser humano, e este sim será varrido da face da terra se continuar a tratar Gaia (a mãe Terra) da maneira como vem tratando. A única entidade ou ser capaz de destruir o homem é Gaia, digamos que alinhada com o próprio Deus, numa harmonia conjunta.
Todos esses fenômenos estão interligados numa teia maior do que a religião, do que a ciência e do que o pensamento popular, maior do que todos juntos, esses fenômenos alinhados serão capazes de eliminar o homem da Terra, é uma resposta de Gaia a todo mau que lhe causamos.
Resta perguntar: o que podemos fazer? será que já é tarde demais? Quando o arrependimento é sincero o perdão pode ser concedido, e tudo voltará ao normal (eita ESPERANÇA, é aúltima que morre). Neste momento precisamos de atitudes racionais e emocionadas, de pensamentos religiosos, populares e científicos, não mais importa de onde venha e como venha, só importa que seja a favor da continuidade das espécies no planeta, de todas as espécies.
E ainda querem continuar a implantar usinas nucleares no Brasil! Aqui no Nordeste! Deveríamos estar estudando a desativação das que já existem em Angra e não querendo construir outras. Mas esta história de energia nuclear eu vou contar depois com maiores detalhes.
Gaia, perdoe esses homens que só pensam em poder, e dê as suas futuras gerações maior inteligência, poder de percepção, e a possibilidade da consciência.

Autor: Professor Cadu Silva, Aracaju, 07 de março de 2010 (momentos após o terremoto da Turquia). Publicado com a permissão dele.

3º Dia Internacional de Histórias de Vida










3º Dia Internacional de Histórias de Vida
16 de maio de 2010

Caros amigos,

Há dois anos nós celebramos o primeiro Dia Internacional de Histórias de Vida, no dia 16 de maio de 2008 e o interesse por este movimento vem crescendo desde então. Em 2009, mais de 200 organizações em 20 países do mundo realizaram ações para celebrar o Dia, trazendo à luz incontáveis organizações e projetos voltados para o trabalho com histórias de vida.
Estas duas celebrações anuais confirmaram o potencial do trabalho com histórias de vida de promover o diálogo e respeitar a diversidade em nossas sociedades. Através das centenas de relatos, áudios e vídeos que foram publicados no site ausculti.org, vimos diversos exemplos na prática de como histórias de vida podem expandir o processo de democratização e transformação da cultura.
Queremos dar continuidade a esta construção convidando indivíduos e organizações a participar do terceiro ano de celebração do Dia Internacional de Histórias de Vida, no dia 16 de maio de 2010!
Como nos anos anteriores, nós o convidamos a realizar uma ação nessa data, que pode ser:
· Círculos de história em escolas, centros comunitários, casas e igrejas
· Contação de histórias abertas ao público
· Publicação e exibição de histórias em imagem, texto, áudio e vídeo
· Eventos de celebração de contadores de história locais, organizações e educadores
· Visitas a organizações que trabalhem com histórias de vida
· Encontros on-line para troca, publicação e gravação de histórias
· Exibição de filmes, documentários, publicações e programas de rádio sobre história oral e sobre compartilhamento de histórias

Este projeto se tornou possível pela colaboração constante da Rede Internacional de Museus da Pessoa (Brasil, Portugal, Estados Unidos e Canadá) e do Center for Digital Storytelling (Estados Unidos, Canadá, Dinamarca e África do Sul).
Em uma reunião recente das duas organizações em São Paulo, Joe Lambert, fundador e diretor do Center for Digital Storytelling, reafirmou que “O interesse e envolvimento com o trabalho com histórias de vida continua a crescer. Em todo lugar onde nossa organização esteve no ano passado, China, Guatemala, Coréia e Índia, da tundra gelada do Ártico Canadense às florestas tropicais do Congo, estamos vendo um interesse cada vez maior em nossas metodologias e práticas. Estamos também testemunhando o desenvolvimento de novos métodos de captura e compartilhamento de histórias e novas formas de utilização das histórias para a promoção da mudança social e da democracia. Mesmo em meio às dificuldades de trabalhar neste período de crise financeira internacional, as pessoas estão vendo e ouvindo as histórias umas das outras e isso é vital para o desenvolvimento de sociedades coesas.”
Karen Worcman, fundadora do Museu da Pessoa explicou, “O projeto do Dia Internacional se tornou uma fonte muito rica de diálogo entre pessoas de todo o mundo. Pudemos reunir um grande número de práticas no trabalho com histórias de vida em diferentes continentes: de estudiosos em história oral a produtores de documentários e programas de rádio, educadores locais e artistas de base comunitária, pessoas trabalhando com desenvolvimento, direitos humanos e saúde pública. Sentimos que é necessário dar continuidade a este projeto a fim de garantir que todos nós possamos continuar informados sobre cada uma das incríveis práticas que vem sendo criadas e para compartilhar histórias inspiradoras deste campo”.
O Dia é uma oportunidade para você e para a sua organização conhecer e compartilhar histórias com outras pessoas no mundo. Pedimos que você envie este convite para seus colegas e amigos que também compartilham desse ideal. Também o convidamos a se inscrever e contribuir no blog www.ausculti.org deste ano. Se você já participou no blog no ano passado, entre lá e veja como adicionar informações e novos arquivos ao seu perfil já criado.
Aqui está uma das histórias postadas no site ausculti.org no ano passado. Ela foi produzida pelo TRAX, de Melbourne, Austrália e por si só mostra a importância de contar e ouvir histórias.
Em anexo a este e-mail está o logo da campanha. Nos ajude a divulgar esta idéia repassando esta carta e adicionando o logo da campanha ao seu site. Para mais informações escreva para internacional@museudapessoa.net.
Agradecemos seu apoio e interesse neste projeto.
Estamos muito animados e ansiosos para ouvir suas histórias!


FONTE:
Sobrado Dr. José Lourenço
Rua Major Facundo, 154 - Centro
(85)3101.8826

sexta-feira, 23 de abril de 2010

"MATARAM MAIS UM IRMÃO"

Assassinato de José Maria tem "caráter de execução"

A advogada Maiana Maia, que acompanha o caso do assassinato do trabalhador rural José Maria Filho, em Limoeiro do Norte, conversou na manhã desta quinta-feira (22/04) com o delegado José Fernandes. "Ficou bem claro o caráter de execução, principalmente pela quantidade de tiros (19), todos do peito para cima e muito certeiros", diz Maiana.

A advogada diz que existe muito medo na região, o que tem dificultado o processo de investigação. "Não houve ninguém para testemunhar ainda", diz. O promotor Alexandre Aragão, em conversa com Maiana e com o advogado Davi Aragão, que também assessora movimentos sociais, destacou a necessidade de haver grande repercussão em torno do assassinato de José Maria.

Muito provavelmente, de acordo com o promotor, essa foi a primeira execução relacionada com a questão socioambiental e trabalhista na região, já marcada por crimes de pistolagem envolvendo conflitos pessoais e familiares. José Maria era presidente da Associação dos Desapropriados Trabalhadores Rurais Sem Terra – Chapada do Apodi.

Segundo Mariana Maia, a necrópsia já foi realizada no município de Canindé, e o corpo já está retornando a Limoeiro do Norte. Às 16h desta quinta-feira (22), acontece a missa de corpo presente e, às 17h, o enterro. Também já estão a caminho da cidade vários ônibus de Fortaleza e de outros municípios do interior com lideranças de movimentos populares.

SAIU NO BLOG DO COLEGA JORNALISTA ELIOMAR DE LIMA


Movimentos sociais de Limoeiro do Norte (Vale Jaguaribano) divulgaram, nesta quinta-feira, nota de repúdio ao assassinato de José Maria de Tomé, líder comunitário desse município. Confira a nota:
UM GRITO DE DENÚNCIA, UMA NOTA CONTRA A VIOLÊNCIA: JUSTIÇA AO COMPANHEIRO JOSÉ MARIA FILHO
Um crime provoca indignação e perplexidade: o assassinato de Zé Maria, 44 anos, ocorrido neste dia 21 de abril de 2010. Ele era presidente da Associação Comunitária São João do Tomé, presidente da Associação dos Desapropriados Trabalhadores Rurais Sem Terra – Chapada do Apodi, liderança do movimento social – filho da comunidade do Sítio Tomé – Limoeiro do Norte – CE,. As razões do assassinato se encontram no bojo dos conflitos provocados pela presença do agrohidronegócio, instalado em meados da década de 1990 na região jaguaribana. Esses conflitos trouxeram uma realidade de profundas injustiças sociais para a nossa região. A comunidade de Tomé bem como outras que se localizam na Chapada do Apodi sofrem o descaso e o desrespeito dos órgãos públicos e a irresponsabilidade das grandes empresas que se fixaram na Chapada e que atentam contra o meio ambiente e a saúde da coletividade.
Desde o início, Zé Maria se envolveu nas diferentes lutas contra essas injustiças, estando presente no Grito dos Excluídos, no Fórum Regional e seminários contra os Agrotóxicos, discutindo a problemática do uso da água. Sua voz ecoou em todo o Vale do Jaguaribe através das emissoras de rádio denunciando as violações dos direitos humanos que vitimam as comunidades da Chapada do Apodi.
A sua solidariedade inconteste o impulsionava ao debate e a denúncia cotidiana. Assumindo a defesa dos interesses coletivos, o bravo companheiro levou a todos os locais e momentos significativos das lutas os problemas dos trabalhadores rurais sem terra da Chapada do Apodí, as angústias e incertezas de centenas de famílias que recebem água contaminada e os infortúnios de dezenas de famílias que moram em casa de taipa na Comunidade do Tomé.
Este envolvimento o fez vítima. Vítima de quem? De que? Vítima dos conflitos (terra, água, agrotóxico) gerados pelo modelo de desenvolvimento do agrohidronegócio e, também, da inoperância e da negligência dos poderes públicos em solucionar esses conflitos.
Nos capítulos de nossa história muitos foram os/as companheiros/as que tombaram vítimas da expansão do agronegócio, da ganância desenfreada dos senhores do capital e da virulência social dos poderosos. Dentre eles/elas podemos citar o ecossocialista Chico Mendes, Pe. Josimo defensor da reforma agrária, a sindicalista Margarida Alves e a missionária Ir. Dorothy Stang. Seja com o seu exemplo de vida, seja na forma como lhe ceifaram a vida, Zé Maria assemelha-se a todos/as eles/as. E assim como a luta e a memória dos bravos lutadores não foram apagadas com a violência perpetrada por seus assassinos, também não serão esquecidos os teus gritos contra o agrotóxico, a tua defesa pela vida. É na Campanha da Fraternidade deste ano de 2010 que nos inspiramos para continuar a defesa dos direitos humanos, atentando para o ensinamento de Jesus: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro ( Mt. 6, 24).
É com essa determinação que os movimentos e instituições que assinam esta nota vêm a público se solidarizar com a família do companheiro e com toda a Comunidade do Sítio Tomé, repudiar todas as formas de violência, exigir a apuração rigorosa do crime e a punição dos culpados.
Limoeiro do Norte, 21 de abril de 2010.
CÁRITAS DIOCESANA DE LIMOEIRO DO NORTE
NÚCLEO TRAMAS – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
RENAPE – REDE NACIONAL DE ADVOGADO POPULAR
MAB – MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGEM
CPT – COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – DIOCESE DE L. DO NORTE
PASTORAIS SOCIAIS – DIOCESE DE LIMOEIRO DO NORTE
MST – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM-TERRA
FAFIDAM – FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS

Categoria(s): Ceará, Direitos Humanos, Ecologia e Meio Ambiente, Reforma agrária por Eliomar de Lima

REAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO MISSÃO TREMEMBÉ

Aos prezados companheiros de Limoeiro do Norte e de todo Vale do Jaguaribe,
que nos enviam essa Nota com a comunicação de mais uma violência nessas terras já marcadas pela força dos que se julgam donos da lei, do poder de mando nessa e
noutras regiões do nosso Ceará, do nosso Nordeste, do nosso Brasil.

Essa região foi onde aconteceu a luta de resistência indígena nos idos do século XVIII e XIX, e onde foram trucidados os lutadores daquela época. Eles foram silenciados mas não perderam a guerra, pois estão vivos através dos seus parentes, dos novos lutadores que continuam firmes, resisitindo, lutando por um mundo justo, de direitos consagrados na igualdade, que é o nosso sonho comum.

Lamentamos profundamente a barbarie como a que foi utilizada para eliminar esse grande lutador Zé Maria do Tomé, que deixa um lastro de coragem e decisão para nós
todos que aqui ainda permanecemos. O nosso Deus e a força dos Encantados, ancestrais indigenas presentes nessa região, ainda que aparentemente não revelados, mas certamente dando força aos que vão continuar essa luta tão bem descrita por vocês.
Não podemos estar presentes mas, daqui, acompanhamos esses momentos de dor e de muita força, de muita esperança nas flores que brotarão, nas vitorias que ainda vão
acontecer, resultado desse trabalho corajoso e ousado do companheiro Zé Maria do Tomé e sua comunidade.

Um abraço soilidário de todos nós da Missão Tremembé.
Maria Amelia

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Papa atual na visão de Leonardo Boff

"Bento XVI não consegue deixar de ser professor e não alcança ser pastor"

Crítico notório do atual papa, o ex-frade e teólogo brasileiro Leonardo Boff considera Bento XVI uma figura "de tensão e até de desunião".
A entrevista é de José Maria Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-04-2010. Eis a entrevista.

Como o sr. analisa o pontificado de Bento XVI?
Marcado por gestos de conflito e desunião: com os muçulmanos, com os judeus, com as Igrejas não católicas, com os seguidores de Lefebvre, com a introdução do latim na missa, com as mulheres, com os homossexuais e atualmente com o problema dos pedófilos. Quer dizer, cometeu vários erros de governo. Um professor como ele, de teologia acadêmica, numa universidade estatal da Alemanha, onde eu o escutei, não é talhado para dirigir, coordenar e animar uma comunidade de mais de 1 bilhão de pessoas. Ele não consegue deixar de ser professor e não alcança ser plenamente pastor. Falta-lhe quase tudo, especialmente carisma.

As denúncias de pedofilia causam um estrago irreparável para a imagem da Igreja?
A pedofilia sempre existiu entre o clero. Mas era tornada invisível. A Igreja apenas via o aspecto de pecado e não de delito. Nessa visão, apenas se vê o pecador. No delito se vê a vítima. Delito é crime que deve ser levado aos tribunais. Isso a Igreja sempre se negou a fazer, na falsa ideia de preservar seu bom nome. Isso é uma atitude farisaica e falta de misericórdia e justiça para com as vítimas. A opinião pública mundial e os vários processos nos EUA que puseram dioceses praticamente à falência levaram a Igreja a aceitar, muito a contragosto, a criminalização da pedofilia. Esse fato tem desmoralizado enormemente a instituição. Pouco vale o pedido de perdão e oferecimento de orações. Precisa-se fazer transformações profundas na disciplina e na formação dos candidatos ao sacerdócio.

Está correta a maneira de a Igreja, e particularmente o papa, encarar esse problema?
O Vaticano e os bispos em geral querem dissociar celibato de pedofilia. Ocorre que o problema de fundo é a sexualidade como é encarada nos seminários e na vida concreta dos padres. Sabemos que a sexualidade, como a mostraram Freud, Foucault e Ricoeur, possui uma natureza vulcânica. Não basta a razão intelectual para integrá-la no todo da vida humana. Ora, a pedofilia é um desvio de comportamento, portanto, ligado à sexualidade mal integrada. Isso é o que o Vaticano não quer, mas será obrigado a ver. Persiste em manter o celibato fora de discussão, mas não vai dar. Ela possui suas razões: celibato é um fator decisivo para o tipo de estrutura de Igreja que temos. Ela é uma sociedade religiosa total, autoritária, centralizadora e monossexual (só os homens contam entrar no serviço eclesial). Para ela é cômodo ter pessoas totalmente disponíveis que lhe entregam tudo, vida, afetos, família, para servir a seus propósitos, nem sempre os mais adequados para a maioria das pessoas sobre assuntos importantes como contraceptivos, aids e outros.

A onda de escândalos levaria a Igreja a mudar sua posição em relação esses assuntos?
Por mais escândalos que aconteçam, dificilmente a hierarquia da Igreja vai mudar. Ela é refém de uma doutrina que formulou sem qualquer diálogo com a comunidade cristã e sem maiores discussões com a comunidade científica. Pelo fato de a Igreja institucional ter colocado no centro de sua estruturação o poder sagrado (sacra potestas), sofre as consequências da lógica do poder, e este fecha as janelas e as portas para o amor, a solidariedade, a compreensão cordial e a compaixão. Não sem razão, o atual papa escreve uma encíclica sobre o amor sem mostrar qualquer amor.

Carta aberta aos bispos católicos do mundo

Carta aberta aos bispos católicos de todo o mundo

Hans Küng *

Tradução: ADITAL 16.04.10

Nos anos 1962-1965 Joseph Ratzinger - hoje Bento XVI - e eu éramos os dois mais novos teólogos do Concílio. Hoje, somos os mais anciãos e os únicos em plena atividade. Sempre entendi meu compromisso teológico como um serviço à Igreja. Por isso, movido pela preocupação com a crise de confiança que atinge essa nossa Igreja, a mais profunda que recordamos desde os tempos da Reforma, dirijo-me a vós com uma carta aberta, na comemoração do quinto aniversário do pontificado de Bento XVI. De fato, esse é o único meio de que disponho para entrar em contato com vocês.
Apreciei muito o convite do papa Bento, que, no início de seu pontificado, me concedeu uma conversa de quatro horas -apesar da minha posição crítica ao seu respeito- que se desenvolveu bem amigavelmente. Tive a esperança de que Joseph Ratzinger, meu colega na universidade de Tübingen, teria encontrado o caminho rumo a uma ulterior renovação da Igreja e um entendimento ecumênico, no espírito do Concílio Vaticano II. Infelizmente, minhas esperanças, bem como as de tantas/os crentes que vivem com compromisso a fé católica, não se realizaram. Tive a oportunidade de comunicar-lhe isso mais de uma vez através das correspondências que lhe enviei.
Sem dúvida, ele nunca deixou de cumprir com consciência os compromissos cotidianos do papado, e nos presenteou com três encíclicas sobre a fé, a esperança e a caridade. Porém, frente ao maior desafio de nosso tempo, a cada dia mais, seu pontificado apresenta-se como uma ocasião perdida, por não ter sabido captar uma serie de oportunidades:
- Faltou a reaproximação com as Igrejas evangélicas, sequer consideradas Igrejas no sentido próprio do termo: daí a impossibilidade de um reconhecimento de suas autoridades e da comum celebração da Eucaristia.
- Faltou a continuidade do diálogo com os judeus: o papa reintroduziu o uso pré-conciliar da oração para a iluminação dos judeus; acolheu na Igreja alguns bispos notoriamente cismáticos e antissemitas; sustenta a beatificação de Pio XII; e leva a sério o judaísmo enquanto raiz histórica do cristianismo; não como comunidade de fé que hoje também busca seu caminho de salvação. No mundo inteiro os judeus expressaram indignação pelas palavras do Pregador da Casa Pontifícia que, na liturgia da Sexta-Feira Santa, comparou as críticas dirigidas ao papa com as perseguições antissemitas.
- Com os muçulmanos faltou levar adiante um diálogo pautado na confiança. Sintomático nesse sentido é o discurso pronunciado pelo papa em Regensburg: mal aconselhado, Bento XVI apresentou o Islã com uma imagem caricatural, descrevendo-o como uma religião desumana e violenta e alimentando assim a desconfiança entre os muçulmanos.
- Faltou a reconciliação com os povos autóctones da América Latina: com toda seriedade, o papa afirmou que aqueles povos colonizados "desejassem" a acolher a religião dos conquistadores europeus.
- Desperdiçou-se a oportunidade de vir em socorro das populações da África na luta contra a superpopulação e contra o HIV, dando o aval à contracepção e ao uso de preservativos.
- Perdeu-se a oportunidade de se reconciliar com a ciência moderna, reconhecendo sem ambiguidade a teoria da evolução e aderindo sempre com as devidas diferenciações às novas perspectivas das pesquisas, por exemplo, sobre as células-tronco.
- Faltou, enfim, assumir, no interior mesmo do Vaticano, o espírito do Concílio Vaticano II como bússola da Igreja católica, levando adiante as reformas.
Este último ponto, queridíssimos bispos, tem um valor crucial. Este papa nunca parou de relativizar os textos do Concílio, interpretando-os em sentido regressivo e contrário ao espírito dos Padres Conciliares; chegando até a se contrapor expressamente ao Concílio Ecumênico que representa, com base no direito canônico, a autoridade suprema da Igreja católica:
- Readmitiu, incondicionalmente, na Igreja Católica os bispos tradicionalistas da Fraternidade de Pio X, ordenados ilegalmente fora da Igreja Católica que recusaram o Concílio em alguns pontos essenciais;
- Promoveu através de todos os meios a missa medieval tridentina e, ocasionalmente, celebra ele mesmo a Eucaristia em latim virando as costas aos fiéis;
- Não concretiza o entendimento com a Igreja Anglicana previsto nos documentos ecumênicos oficiais (ARCIC); ao contrário, procura puxar os padres anglicanos casados para a Igreja Católica romana, renunciando à obrigação do celibato;
- Potencializou, em âmbito mundial, as forças anticonciliares no interior da Igreja através da nomeação de altos cargos anticonciliares (por ex.: Secretaria de Estado, Congregação para a Liturgia) e de bispos reacionários.
O papa Bento XVI parece afastar-se sempre mais da grande maioria do povo da Igreja que já, por si, é levado a desinteressar-se do que acontece em Roma e, no melhor dos casos, se identifica com sua paróquia e com o bispo local.
Sei que muitos de vocês sofrem com esta situação: a política anticonciliar do papa tem todo o apoio da Cúria Romana, que procura sufocar as críticas entre os bispos e no seio da Igreja e busca, por todos os meios, desacreditar aos dissidentes. Em Roma, faz-se o esforço para dar crédito, com renovadas exibições de luxo barroco e manifestações de grande impacto midiático, a uma imagem de Igreja forte, com um "vigário de Cristo" absolutista, que reúne em suas mãos os poderes legislativo, executivo e judiciário. Mas a política de restauração de Bento XVI faliu. Suas aparições públicas, suas viagens, seus documentos, não serviram a influenciar no sentido da doutrina romana as idéias da maioria dos católicos sobre várias questões controvertidas e, em particular, sobre a moral sexual. Nem seus encontros com os jovens, pertencentes em grande parte a grupos carismáticos de orientação conservadora, puderam frear a fugas da Igreja, ou incrementar as vocações ao sacerdócio.
Em sua qualidade de bispos, certamente, vocês são os primeiros a perceber dolorosamente a renúncia de dezenas de milhares de sacerdotes que, desde o Concilio até hoje, se demitiram de seus cargos, sobretudo, devido à lei do celibato. O problema das novas vocações atinge não só os padres, mas também as congregações religiosas, as freiras, os leigos consagrados. A resignação e a frustração se difundem no meio do clero e, sobretudo, entre seus expoentes mais ativos; muitos sentem-se abandonados em suas necessidades e sofrem por causa da Igreja. Em muitas de suas dioceses vê-se claramente um maior número de igrejas desertas, de seminários e de presbitérios vazios. Em muitos países, com o pretexto da reforma eclesiástica, se decide por juntar muitas paróquias, muitas vezes contra sua vontade, para construir gigantescas ‘unidades pastorais’ confiadas a um pequeno número de padres sobrecarregados pelo trabalho excessivo.
E, por fim, aos muitos sinais da crise em andamento, junta-se o espantoso escândalo dos abusos cometidos por membros do clero contra milhares de adolescentes -nos Estados Unidos, na Irlanda, na Alemanha e em outros lugares-, acompanhado por uma falta de liderança, uma crise sem precedentes. Não se pode silenciar sobre o fato de que o sistema mundial de ocultamento dos abusos sexuais do clero respondesse às disposições da Congregação Romana para a Doutrina da Fé (pela qual era responsável, entre 1981 e 2005, o cardeal Ratzinger), que, no mais rigoroso silêncio, desde o pontificado de João Paulo II, reunia a documentação sobre estes casos. Em 18 de maio de 2001, Joseph Ratzinger divulgou para todos os bispos uma carta de tom solene sobre os delitos mais graves ("Epistula de delictis gravioribus" - Carta sobre os delitos mais graves), impondo ao caso de abuso o "segredo pontifício", cuja violação é castigada pela Igreja com severas sanções. É com razão, portanto, que muitos exigiram um pessoal ‘mea culpa’ ao prefeito de outrora, hoje papa Bento XVI. Este, porém, não acolheu a boa oportunidade da Semana Santa; ao contrário, fez declarar "urbi et orbi" (à cidade -Roma- e ao mundo), no domingo de Páscoa, sua inocência através do cardeal decano.
Para a Igreja Católica, as consequências de todos os escândalos divulgados são devastadores, como confirmaram alguns de seus maiores expoentes. A suspeita generalizada já golpeia indiscriminadamente inúmeros educadores e pastores de grande compromisso e de conduta irrepreensível. É vossa tarefa, estimadíssimos bispos, perguntar-se qual será o futuro de vossas dioceses e o da nossa Igreja.
Não é minha intenção vos propor um programa de reformas. Já fiz isso mais de uma vez, quer antes, quer depois do Concílio. Aqui quero limitar-me a apresentar-lhes seis propostas, as quais, estou convencido, são partilhadas por milhões de católicos que não têm voz.
1. Não calem. O silêncio frente a tantos gravíssimos abusos vos torna responsáveis. Ao contrário, toda vez que pensam que determinadas leis, disposições ou decisões vão ter efeitos contraproducentes, deveriam declará-lo publicamente. Não escrevam cartas a Roma para fazer ato de submissão e devoção, mas para exigir reformas.
2. Tomem as rédeas para iniciativas reformadoras. Muitos, na Igreja e no episcopado, se queixam de Roma; nunca, porém, tomam a iniciativa. Mas, se hoje nesta ou naquela diocese ou comunidade os paroquianos param de frequentar a missa; se a atividade pastoral não dá resultados; se falta abertura para os problemas e os males do mundo; se a cooperação ecumênica está reduzida ao mínimo, não se pode descarregar todas as culpas sobre Roma. Todos, desde o bispo até ao padre e o/a leigo/a, devem comprometer-se com a renovação da Igreja em seu ambiente de vida pequeno ou grande que seja. Muitas coisas extraordinárias nasceram nas comunidades e, em geral, no seio da Igreja, em nível pessoal ou de pequenos grupos. É vossa tarefa na qualidade de bispos, promover e sustentar tais iniciativas, assim como responder, sobretudo nesse momento, às justificadas queixas dos fiéis.
3. Agir colegiadamente. O Concílio decretou, após forte debate e contra a tenaz oposição curial, a colegialidade dos papas e dos bispos em analogia à história dos apóstolos: o mesmo Pedro não agia fora do colégio dos apóstolos. Mas no período pós-conciliar o papa e a cúria ignoraram esta fundamental decisão conciliar. Desde que, somente dois anos depois de Concílio e sem nenhuma consulta ao episcopado, Paulo VI promulgou uma encíclica em defesa da controvertida lei do celibato, a política e o magistério pontifício voltaram a funcionar segundo o velho estilo não colegiado. Na mesma liturgia o papa se apresenta como um autocrata, diante do qual os bispos, dos quais ele gosta de se rodear, são meros comparsas sem voz ou voto. Portanto, amaríssimos bispos, não podem agir só individualmente, mas comunitariamente com outros bispos, com padres, com as mulheres e os homens que formam o povo da Igreja.
4. A obediência absoluta se deve somente a Deus. Vocês todos, no momento da solene consagração à dignidade episcopal, juraram obediência incondicional ao papa. Todavia também sabem que a obediência absoluta deve-se não tanto ao papa, mas somente a Deus. Por isso, não devem ver aquele juramento como um obstáculo que os impeça de dizer a verdade sobre a atual crise da Igreja, da vossa diocese e do vosso país. Sigam o exemplo do apóstolo Paulo que se opôs a Pedro "abertamente, porque ele se tornara digno de censura" (Gal. 2,11). Pode ser legítimo fazer pressão sobre as autoridades romanas, em espírito de fraternidade cristã, quando elas não aderem ao espírito do Evangelho e de sua missão. Numerosas conquistas - como o uso das línguas nacionais na liturgia, as novas disposições sobre os casamentos mistos, a afirmação da tolerância, da democracia, dos direitos humanos, do entendimento ecumênico e de muitas outras coisas -, foram alcançadas graças a uma tenaz pressão de baixo.
5. Procurar soluções regionais: o Vaticano mostra-se, muitas vezes, surdo a justificadas exigências dos bispos, dos padres e dos leigos/as. Uma razão a mais para caminhar para soluções regionais. Como bem sabem, um problema particularmente delicado é constituído pela lei do celibato, uma norma de origem medieval que, com razão, é agora colocada em discussão em todo o mundo precisamente no contexto do escândalo suscitado pelos abusos sexuais. Uma mudança em contraposição a Roma parece praticamente impossível; mas, não é por isso que estão condenados à passividade. Um padre que depois de serias reflexões tenha amadurecido a decisão de casar não deveria ser obrigado a se demitir automaticamente de seu cargo, se pudesse contar com o apoio de seu bispo e da comunidade. Uma conferência episcopal sozinha poderia abrir a estrada a caminho de uma solução regional. Melhor seria, porém, visar uma solução global para a Igreja no seu conjunto. Por isso,
6. peça-se a convocação de um Concílio: se para chegar à reforma litúrgica, à liberdade religiosa, ao ecumenismo e ao diálogo interreligioso foi necessário um Concílio, o mesmo vale hoje frente aos problemas que se apresentam em termos tão dramáticos. Um século antes da Reforma, o Concílio de Constança tinha decidido a convocação de um Concílio a cada cinco anos, decisão que, porém, não foi atendida pela Cúria Romana, que, sem dúvidas, também hoje fará tudo que puder para evitar um concílio do qual pode temer uma limitação de seus poderes. É responsabilidade de todos vocês conseguir que se aprove a proposta de realização de um Concílio, ou pelo menos de uma assembléia episcopal representativa.
Frente a uma Igreja em crise, este é o apelo que dirijo a vocês, estimadíssimos bispos: vos convido a colocar na balança o peso de vossa autoridade episcopal, revalorizada pelo Concílio. Na difícil situação que estamos vivendo, os olhos do mundo estão dirigidos para vós. Inúmeros são os católicos que perderam a confiança em sua Igreja; e o único jeito para contribuir para restaurá-la é o de enfrentar honestamente e abertamente os problemas, para adotar as reformas necessárias. Peço-lhes, respeitosamente, que façam o que lhes corresponde; quando possível, em colaboração com outros bispos; mas, se necessário, também sozinhos, com apostólica ‘coragem’ (At 4,29.31). Deem um sinal de esperança aos vossos fiéis; deem uma perspectiva à nossa Igreja.
Saúdo-vos na comunhão da fé cristã.
[Fonte: La Repúbblica (diário italiano), 15 abril 2010].

* Catedrático emérito de Teología Ecumênica da Universidade de Tubingen (Alemanha) e presidente da Global Ethic

Ipea: negociações de mudança climática

Ipea divulga estudo sobre negociações de mudança climática
Comunicado n° 45 trata das perspectivas das negociações e dos impactos na política brasileira

Os avanços e os impasses nas negociações de mudança climática na 15ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 15), realizada no final de 2009, em Copenhague, e o prosseguimento das negociações em 2010 são tema de novo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo mostra o papel do Brasil como negociador e interlocutor entre grupos de países.

Intitulado Perspectivas sobre as negociações de mudança climática e seus impactos na política brasileira, o Comunicado do Ipea n° 45 será lançado em entrevista coletiva, na próxima quinta-feira, 22, às 10 horas, no auditório do Instituto em Brasília (SBS, Quadra 1, Bl. J, Ed. Ipea/BNDES, subsolo). Haverá transmissão online para todo o Brasil.

O texto também analisa a posição do Brasil nas negociações internacionais sobre mudança climática, as ações nacionais de mitigação, o novo marco regulatório sobre o assunto e a adaptação às mudanças do clima. Há, ainda, dados sobre emissão de gases de efeito estufa no Brasil e em outros países e sobre as metas do Brasil para a redução de emissões.

O Comunicado do Ipea n° 45 foi elaborado por técnicos Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) e da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset) do Ipea. A apresentação do estudo terá transmissão online pelos sites www.ipea.gov.br e www.agencia.ipea.gov.br. Jornalistas interessados podem participar da coletiva online e ter as perguntas respondidas ao vivo.

Cobertura online

O lançamento do Comunicado do Ipea n° 45 terá cobertura online pelo site www.ipea.gov.br. Jornalistas de todo o Brasil podem participar enviando perguntas para o e-mail coletiva@ipea.gov.br. As respostas serão dadas durante a coletiva de forma oral.

É necessário o cadastro antecipado pelo e-mail (coletiva@ipea.gov.br) e na mensagem deve constar o veículo de mídia, nome do jornalista e telefones para contato. O mesmo vale para as perguntas.

O Comunicado pode ser enviado por e-mail, de forma embargada, antecipadamente. A solicitação deve ser feita por e-mail para Isabela Vilar (isabela.vilar@ipea.gov.br).

sábado, 17 de abril de 2010

Os Exterminadores do Futuro

Fonte: Assessoria SOS Mata Atlântica, 15/04/2010

Fundação SOS Mata Atlântica apresenta novos passos da campanha "Os Exterminadores do Futuro"


Pela polêmica e reação que causou na sociedade e no Congresso, a campanha Exterminadores do Futuro, lançada em março pela SOS Mata Atlântica, está sendo ampliada para buscar um apoio ainda mais abrangente de diversos setores da população brasileira. “A campanha foi lançada para valorizar o patrimônio natural brasileiro e mostrar as ameaças ao Código Florestal e a toda a legislação ambiental brasileira com as propostas de alteração que tramitam no Congresso, que não estão sendo discutidas com toda a sociedade de maneira uniforme”, explica Roberto Klabin, presidente da Fundação. O cronograma de divulgação da lista de exterminadores, inicialmente previsto para maio, está sendo reformulado e será amplamente divulgado, e com antecedência, de modo que se possa garantir a transparência de todo o processo, bem como o direito de defesa dos parlamentares citados. “O Viva a Mata, evento que realizamos em maio, é um momento crucial para envolver as pessoas e explicar melhor nossos objetivos com esta iniciativa, por isso queremos que o público possa opinar e colaborar durante este período do Dia Nacional da Mata Atlântica”, acrescenta Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da ONG.

Neste cenário, a SOS Mata Atlântica propõe a retomada do diálogo com seriedade e, principalmente, num foro isento, onde representantes de toda a sociedade possam discutir as alterações propostas. “A SOS Mata Atlântica é contra a forma como essas alterações estão sendo encaminhadas, pois aparentemente a sociedade está participando das discussões, mas, de fato, não está, e este é um ano político complicado, em que há a campanha presidencial, por isso não é o momento de se definir um assunto tão importante e delicado para o futuro do Brasil”, acrescenta Klabin. “Há problemas nas convocações das audiências e na composição da Comissão Especial para Discussão do Código Florestal. Isso porque pequenos agricultores, que já têm tratamento diferenciado dado pela Lei da Agricultura Familiar, são induzidos e lotam auditórios país afora nas Audiências Públicas”, comenta Mantovani. Nelas, o Código Ambiental é apresentado como solução para as questões ambientais; dados distorcidos – que incluem na conta de restauração as propriedades com menos de 150 hectares, que têm tratamento diferenciado - são apresentados, e a discussão não acontece com todos os representantes da sociedade.

“O meio ambiente não é um entrave ao desenvolvimento econômico; ao contrário, a conservação dos ecossistemas, dos recursos naturais e dos serviços por eles prestados como polinização, combate à erosão do solo, garantia de água para a irrigação, entre outros, é totalmente necessária para a agricultura”, ressalta Klabin. Por isso, a Fundação SOS Mata Atlântica está à disposição, desde antes do lançamento da campanha, para dar continuidade ao diálogo sobre o Código Florestal. “Pedimos mais flexibilidade e menos dogmatismo, e a construção de uma solução negociada entre as partes que esteja amparada em argumentos técnicos e científicos”, explica Klabin. A SOS Mata Atlântica pede ainda que a legislação seja mantida tal como vigente até que se estabeleça um calendário de negociação e termos de referência sobre os temas em discussão, como reserva legal, áreas de proteção permanente, procedimentos de regularização de imóveis, instrumentos econômicos para a implementação da legislação florestal e ambiental, entre outros. “Também queremos a definição de um facilitador de comum acordo, com legitimidade e credibilidade para a condução dos processos”, complementa Klabin. Estas são as bases da proposta levada pelo presidente da instituição à audiência pública da Comissão Especial realizada nesta terça-feira (13 de abril), na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Para Miriam Prochnow, representante da Rede de ONGs da Mata Atlântica e coordenadora de Políticas Públicas da APREMAVI, o Código Florestal é também questão de segurança nacional. “A ocorrência, cada vez mais frequente, de tragédias como deslizamentos e enchentes chama a atenção. O Código não foi feito só para proteger animais e plantas mas, principalmente, a população. As áreas de preservação permanente, principalmente as localizadas em encostas e margens de rios, têm essa função específica. É temerário querer alterar o Código Florestal para alterar estas áreas”, explica.

Nova fase da campanha

Qualquer pessoa pode informar e cobrar de seus candidatos compromissos com a defesa da legislação ambiental e com a proteção do patrimônio natural do país, utilizando os documentos disponíveis no hotsite da campanha, como cartazes e adesivos. O site www.sosma.org.br/exterminadores também traz mais informações sobre a campanha e o trabalho que vem sendo desenvolvido, com notícias sobre as votações e audiências, as leis que estão em jogo e, no futuro, os critérios para formatação da lista.

A campanha não pretende denegrir a imagem ou difamar qualquer cidadão, mas sim alertar a população sobre a falta de diálogo quando o tema é o meio ambiente na formulação de leis. “Uma pessoa pode ter uma excelente atuação em outras áreas, mas se causa danos ao meio ambiente e a sociedade assim o reconhece, então esta pessoa pode se tornar um Exterminador do Futuro”, explica Mantovani. “Quem vai dizer isso são os eleitores. A lista depende da sociedade e só será divulgada após uma checagem com critérios que estamos formulando”.

Contra as conquistas da sociedade

Como uma das maiores ONGs ambientais do Brasil, a SOS Mata Atlântica sempre participou das discussões sobre políticas públicas, como na Assembléia Constituinte, ajudando a garantir o direito ao meio ambiente no artigo 225 da Constituição, ou das discussões sobre as alterações no Código Florestal (Lei 4771 de 1965). Setores mais avançados do agronegócio, ambientalistas e empresas, entre outros, vinham discutindo democraticamente no Congresso Nacional o projeto de Lei 6424, de 2005, de relatoria do deputado Marcos Montes (DEM-MG), com os apensos PL 6.840/2006 e PL 1.207/2007. “Este PL traz um novo texto ao Código Florestal e havia consenso da sociedade quanto à sua redação, que inclusive incorpora artigos previstos na Lei da Mata Atlântica, trazendo modernidade ao Código Florestal hoje vigente”, explica Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica.

No entanto, enquanto parte do movimento ambientalista, do governo e da sociedade estava com suas atenções voltadas para a COP15, no final de 2009, o projeto foi modificado e reencaminhado pelos deputados da bancada ruralista. O então relator, deputado Jorge Khoury (DEM-BA), foi destituído, e um novo projeto surgiu.

A Fundação SOS Mata Atlântica e outras ONGs ambientalistas (como Greenpeace, Instituto Socioambiental, Rede de ONGs da Mata Atlântica e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) conseguiram impedir a votação do Projeto de Lei na ocasião, mas uma semana depois a sessão da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável colocou este novo texto como ponto único da pauta. Novamente, com a pressão da sociedade, a votação foi cancelada. Essa manobra de alguns deputados para votar as alterações no Código Florestal às pressas deu fim ao diálogo, ocasionando a saída das discussões de algumas ONGs que não concordavam mais com o texto que passou a ser proposto.

Foi, então, constituída uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados com o objetivo exclusivo de discutir alterações no Código Florestal: reserva legal (RL) com plantações homogêneas passíveis de exploração, margens de proteção de rios mais estreitas, plantio em inclinações maiores, e outras. O problema é que, junto ao Código Florestal, passou a ser apresentada uma nova proposta para o Código Ambiental Brasileiro, que simplesmente desmantela todo o sistema nacional de meio ambiente e delega aos estados a função de legislar sobre o assunto. Estas alterações atentam contra a Política Nacional do Meio Ambiente e contra as conquistas ambientais da sociedade, além de serem nocivas ao meio ambiente, já que desguarnecem sua proteção e levam ao comprometimento de relevantes paisagens e da garantia de vida. Também afrontam claramente a Constituição Federal em seu artigo 225. “As leis ambientais precisam ser aprimoradas para fortalecer a governança e o papel do Estado, fundamentais para que as leis sejam aplicadas na prática e tragam benefícios para todos”, finaliza Sérgio Guimarães, presidente do Instituto Centro de Vida (ICV).

O Viva a Mata 2010 – mostra de iniciativas e projetos em prol da Mata Atlântica, que acontecerá entre os dias 21 e 23 de maio, na marquise e arena de eventos do Parque Ibirapuera, será um momento de mobilização importante para esclarecimento de dúvidas e recebimento de indicações da sociedade poucos meses antes das eleições. No domingo (23 de maio), a manifestação “O futuro é nosso e o voto também” trará à tona o debate construído pelas dezenas de ONGs parceiras da SOS Mata Atlântica presentes no evento e representantes de várias regiões.

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Crise mais grave: a ambiental ou a econômica?

‘A crise ecológica é mais grave que a econômica’.

Entrevista com Michael Löwy. O autor do Manifesto Ecossocialista Internacional propôs na Semana de Filosofia uma revolução social frente ao capitalismo. Michael Löwy, sociólogo e filósofo marxista franco-brasileiro, é professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e coautor do Manifesto Ecossocialista Internacional. Em sua intervenção de 06 de abril, na Semana Galega de Filosofia, falou sobre a crise do modelo capitalista de consumo associada à crise ecológica e defendeu a alternativa ecossocialista. A entrevista é de Alfonso González e está publicada no jornal espanhol La Voz de Galicia, 07-04-2010. A tradução é do Cepat.

Qual é o seu posicionamento em relação à crise do modelo capitalista?
Trato de colocar que as crises econômica e ecológica estão muito vinculadas e são aspectos de uma mesma crise fundamental da civilização ocidental capitalista e industrial moderna, que chegou a um ponto dramático. Para mim, a crise ecológica é mais grave, mesmo que menos aparente, que a financeira porque coloca em perigo a vida no Planeta. E se fazem necessário mudanças muito radicais.

O que o ecossocialismo propõe?
A necessidade de uma profunda mudança, revolucionária, não apenas das relações de propriedade, mas do próprio aparelho produtivo, do paradigma de produção e de tudo o que representa a civilização do capitalismo industrial moderno. A alternativa é uma sociedade ecossocialista, na qual é a população que decide as prioridades da produção e do consumo em função de suas necessidades sociais e do respeito aos equilíbrios ecológicos, não em função do benefício do capital.

Pode-se chegar a esse modelo nos países ocidentais com os atuais partidos socialistas ou de esquerda?
Mais que pelos partidos é preciso começar pelas pessoas, pela população, pelos trabalhadores. E não só nos países ricos. Na América Latina as lutas ecossociais estão mais avançadas e têm grande eco em comunidades indígenas que defendem as florestas do capital multinacional. Aqui na Europa é preciso começar por lutas locais concretas. Por exemplo, a luta por transportes coletivos gratuitos em vez do carro particular, que já está se levando a cabo em várias cidades. Ainda não é o ecossocialismo, mas é um primeiro ponto. Há uma dialética entre lutas concretas locais como essas e uma visão de conjunto mais ampla de transformação da sociedade.

As medidas que estão sendo adotadas pelos governos têm alguma serventia?
As políticas aplicadas pelos governos não creio que vão resolver a crise, são medidas restritas aos marcos da própria lógica do capitalismo neoliberal. Necessitamos de medidas mais radicais que enfrentem os interesses privados do capital e uma reorganização da economia. Mas isso, os governos não farão e os mercados também não.

O que procede, então, é outra revolução?
Procede uma transformação social radical e se se quer se pode chamar revolução. Agora, isso não significa que enquanto não houver uma revolução não possamos fazer nada. É preciso colocar, como dizia, medidas concretas em função dos interesses dos trabalhadores, que sejam sociais e ecológicas. Sabemos que os governos não vão tomá-las, mas se houver pressão social suficiente, se verão obrigados a fazer alguma coisa.

Marx ressuscitou?
A ideia de que Marx morreu é velha e, cada vez que o matam, ressuscita. Os economistas oficiais creem hoje que é interessante para entender a crise. Mas, para além de utilizá-lo para entender a crise, Marx faz uma análise e um diagnóstico de como funciona o capitalismo e a perspectiva de uma alternativa radical.

Se a mudança não se produzir, que futuro nos espera?
Os analistas sociais já têm dificuldade para entender o passado e o presente, e muito mais o futuro. O que podemos fazer são predições condicionais. Como diziam os profetas do Antigo Testamento, se não mudarmos, sobrevém uma catástrofe. Podemos prever que se seguirmos com este sistema, com os negócios de sempre, vamos ter uma crise ainda mais grave, econômica e ecológica. Temos que tomar consciência da necessidade de uma mudança de rumo, confiando na racionalidade dos seres humanos, sobretudo dos oprimidos e explorados, para que as coisas mudem.
(Ecodebate, 16/04/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Para que o Estatuto do Sindicato dos Jornalistas?

Mozarly Almeida lidera o Movimento Transformação Coletiva e faz aqui sua análise dos fatos ocorridos durante o 8º Congresso dos Jornalistas do Ceará


O quadro apresentado no Congresso Estadual dos Jornalistas foi desolador e ratificou o que já vínhamos discutindo internamente entre os integrantes do Movimento Transformação Coletiva. Hoje, a direção sindical não mais atende aos anseios da categoria. O esvaziamento no Cuca comprovou!
A despeito do esforço da entidade promotora do evento de propiciar a apresentação de alguns painéis com temáticas relevantes para todos, as redações não prestigiaram o Congresso. A ausência dos jornalistas dos dois grandes jornais da Cidade e dos veículos de radiodifusão, bem como número reduzidíssimo de assessores de imprensa ficaram evidenciados em, praticamente, todas as discussões.
Contrariando a prática da entidade de fazer suas assembleias gerais para eleição para delegado do Congresso Nacional dos Jornalistas na sede do Sindicato e em um horário compatível com a disponibilidade de um maior número de colegas, a gestão optou por realizar a assembleia com esse fim no segundo e último dia do Congresso, melhor explicando, início da manhã de domingo, na Barra do Ceará (Bairro da periferia de Fortaleza).
Como representante do Movimento Transformação Coletiva candidatei-me a delegada. Sabia da dificuldade de vitória, pois vislumbrava ampla maioria de estudantes e os poucos profissionais ligados aos atuais gestores do sindicato! Ainda assim, apresentei a candidatura e no momento da justificativa de minha candidatura a delegada ao Congresso da Fenaj, para convencimento da plateia, relatei minha militância sindical e compromisso com a causa, fui mais uma vez interrompida no direito de falar.
Em tom de protesto, denunciei à plenária e ao representante da Fenaj, Celso Schröder, que gestos como aquele contribuíam para a falta de representatividade a Assembleia, para o esvaziamento do evento como um todo, e para as desfiliações do Sindjorce. Enfim, enfatizei que, por isso, nosso movimento defendia mudanças.
Contudo, foi o gesto da atual presidente de arrancar o microfone das mãos da companheira Janayde Gonçalves que nos levou a nos retirar, em bloco, do auditório do Cuca. Na saída, e em nome do Movimento Transformação Coletiva, solicitei oficialmente ao representante da Fenaj, com o devido registro em ata, que a nossa Federação designasse um observador para as eleições do Sindjorce, previstas para julho próximo.
Desconheço estatuto de qualquer entidade associativa que impeça a livre expressão do pensamento de seus membros. Jamais vi em um congresso de qualquer categoria, tantas manobras para impedir que os presentes comunicassem suas posições. E olhe que, como jornalista, já fui assessora de vários sindicatos, já fiz cobertura de inúmeros eventos como o nosso recente congresso. Nunca imaginara que quem dirige uma entidade fosse capaz de arrancar violentamente o microfone das mãos de alguém que está falando! Primeiro, por educação; segundo, pelo princípio de livre expressão do pensamento em um congresso. Afinal, é para ouvir-se mutuamente que pessoas fazem congressos!
Vale lembrar que regras foram anunciadas indicando que só poderá votar ou ser votado quem estiver em dia com o pagamento das mensalidades da entidade, isso com base em um regimento interno. Contudo, não havia esta previsão sobre isso no regimento do congresso.
Também no estatuto não está escrito que, em eleição para a diretoria do sindicato, só votem quem entrou na entidade há três meses. É inaceitável a defesa do arbítrio, dizendo que esta possibilidade está em regimento interno. O regimento não pode ir contra os princípios democráticos do estatuto da entidade. E se os estatutos não trazem estes princípios, a entidade não pode ser chamada associação e, muito menos, sindicato. O mesmo vale para as normas de convivência em um congresso de categoria profissional.
Fica a reflexão: somos uma categoria sem direito a diploma e, ainda, cujo estatuto de nossa entidade representativa não é observado, uma vez que não traz essa norma. Não sou bacharel em Direito, mas não sou uma ignorante. Então, permito-me o questionamento: qual a função do estatuto do Sindjorce?
Por último, um alerta: se o estatuto está superado, que a diretoria convoque uma assembleia para reformulá-lo. Mas descumpri-lo, às véspera de uma eleição, jamais!
Mozarly Almeida

Jornalista, já dirigiu o Sindicato dos Jornalistas do Ceará como presidente interina.

Lançamento: Revista Emancipação Humana












Caros amigos (as) replico o convite do Instituto Filosofia da Práxis recebido através de minha amiga Rosa Fonseca.

Recebi este convite de Rosa da Fonseca, incansável militante do movimento social de Fortaleza. Em seguida, Carlos Guilherme repetiu o envio, acompanhado de um texto que lhe repasso.

Vale a pena participar deste e de outros momentos de reflexão que o Grupo Crítica Radical tem desenvolvido na cidade. Os elementos postos a discussão pelo grupo são extremamente pertinentes e determinantes para a construção de um novo olhar sobre a construção histórica da nossa realidade e sobre a nossa práxis socioambiental, elementos determinantes para a edificação de uma nova teoria crítica que articule de forma ética os conhecimentos e o potencial de ação dos que sonham com um mundo mais equânime na tarefa de sensibilizar e arregimentar a sociedade nos múltiplos espaços para a construção coletiva do hoje e do amanhã de fraternidade.

Será lançada nesta sexta-feira (16/04) às 19:00h, na Sala as Três Marias do Centro de Convenções do Ceará, em Fortaleza, a REVISTA EMANCIPAÇÃO HUMANA Nº 1, durante a IX Bienal Internacional do Livro.

Cheguem!!!

Carlos Guilherme

E agora, o texto da Rosa:

Olá companheiros(as)


Estamos enviando em anexo o convite para o lançamento da nossa revista "Emancipação Humana Nº 1, com 4 textos para ajudar nessa reflexão.

Dia 16 de abril - 19h - na Bienal do Livro
Local: Centro de Convenções - Sala as Três Marias

Um abraço.

Instituto Crítica Radical
Profª Rosa Fonsêca,
Maria Luiza Fontenele e
Instituto Crítica Radical

Jornalista reage à truculência em Congresso

O texto a seguir mostra como a falta de democracia impera até entre nós jornalistas que, a todo dia, denunciamos as intolerâncias dos outros. A autora, jovem jornalista, difundiu sua indignação via e-mail, portanto é uma manifestação pessoal dirigida inicialmente a seus amigos. Recebi autorização dela para publicar.


Janayde Gonçalves

No último fim de semana,10 e 11 de abril, fui ao Congresso Estadual de Jornalistas.
A valorização da profissão de Jornalista se faz com resistência e luta. E neste caminho prosseguimos em defesa do direito de ocupar o espaço político que nos cabe.
Os objetivos do evento eram: comemorar o dia do Jornalista, celebrar 57 anos do sindicato no CE, eleger delegados para o Congresso Nacional e votar pautas de interesse da categoria.

Talvez, muitos dos que estejam lendo essa carta só estejam sabendo disso agora.
Pois bem companheiros, quando iniciada a votação, as bandeiras começavam a se erguer e vozes de jornalistas que não faziam parte da atual gestão foram diversas vezes cerceadas pelo puro autoristarismo da mesa diretora e da presidente do sindicato. Pelo uso da força, até. Mesa essa votada por 26 delegados. Digam-me se 26 representam os mais de 2 mil jornalistas do Ceará?

Não é de hoje a precarizarização do movimento sindical em nossa categoria. Presenciamos uma gestão que mantém um equipamento que deveria ser representativo sob seu controle, a punho de ferro, com portas fechadas e da forma mais fechada possível. Eu ouvi falar do sindicato em 2003, recebi canais de comunicação da entidade nesse ano, quando entrei na faculdade, e somente agora em 2010, quando fui convidada a participar de um movimento que propõe uma transformação coletiva da atual conjuntura.

Fiquei estarrecida com o que me aconteceu, com o que presenciei no evento. O autoritarismo tomou conta do Congresso. Mesa diretora e Presidente do Sindicato tentaram impedir-me de pronunciamento. Débora arrancou o microfone de minha mão. A plenária se posicionou contrária à presidente, mas foram quase 20 minutos de discussão para a mesa autorizar que eu me pronunciasse.Toda a briga para que eu falasse por apenas dois minutos. Falta democracia no Sindicato. Como disse Daniel Fonseca: o Sindjorce hoje tem uma gestão despótica e monocrática.

Em seguida, Débora faz discurso de vítima, depreciou dois colegas, Daniel Fonseca e Helena Martins pela atuação de ambos na Enecos (eles já tinham saído do auditório).
Por fim desdenhou das únicas 3 pessoas que pela primeira vez, se posicionaram sobre as pautas, expuseram suas opiniões, naturalmente contrárias à dívida histórica que a atual gestão contraiu com a categoria e com os milhares de jornalistas que se formaram nos últimos 7 anos. Uma situação monocrática, de descaso e distanciamento de uma entidade que não é representativa.

Digam-me se se um congresso que possui 26 delegados, dos quais 21 são ligados a atual gestão, é legítimo? Lembrando que só uma diretoria compõe 18 nomes.. A presidente disse que as pessoas que se posicionaram contrariamente estavam ali para manchar sua imagem.

Eu senti um tremendo mal estar nesse encontro. Por essa situação, não posso me furtar de expressar a todos os amigos companheiros da profissão, minhas considerações sobre o Congresso Estadual dos Jornalistas, minha profunda tristeza, decepção, na minha primeira ida a um Congresso de Jornalistas do Ceará.

E imagino, meus companheiros, o que os afasta desses espaços. Mas convoco e saúdo os que têm coragem a congregarem esforços, contruir um movimento de alguma maneira, para mudar a situação da representação dos jornalistas no Ceará. Jornalistas ainda não sindicalizados, filiem-se e exerçam seu direito de voto, de voz.

Jornalistas sindicalizados, cheguem junto.

Jornalistas de redação não são “frouxos” como quiseram afirmar no Congresso.

A companheira Mozarly Almeida solicitou, oficialmente, ao representante da Fenaj presente na Plenária final do Congresso, no caso Celso Schröder, que a Federação Nacional dos Jornalistas designasse um observador para acompanhar as eleições previstas para fim de julho. Também ressaltou para a mesa que dirigia os trabalhos que gostaria que nosso pedido constasse em ata.

Nossa profissão é de uma belíssima função social. As contribuições que damos ao nosso estado são importantes. Não podemos deixar que os jornalistas sejam, a todo momento, minados, desarticulados e oprimidos, por interesses de um grupo tão pequeno.
Não podemos nos omitir, temos que tentar mudar essa situação. A crise é muito maior do que aparenta!

E nesse momento faço minhas a palavras de Mozarly Almeida: Temos que contribuir, para a defesa da categoria, porém em conjunto com os colegas de profissão. Para nós, o saldo maior será termos conseguido tirar as pessoas que compõem esta sofrida profissão da zona de acomodação e apatia, graças ao debate ideológico sobre os caminhos e a forma de atuação que acreditamos serem os mais viáveis para o Sindjorce.

Por isso, estamos no páreo e esperamos contar com o apoio e o reconhecimento dos colegas, que, como nós, acreditam que é possível a construção de uma representatividade forte e combativa, respaldada em suas ações e por jornalistas.

Janayde Gonçalves é jornalista recém-formada e integra o Movimento Transformação Coletiva. Este movimento catalisa a insatisfação da categoria ante o ambiente hostil capitaneado pelos patrões e que culminou com a desregulamentação do exercício profissional pelo Supremo Tribunal Federal, ato criticado até por altas autoridades do Judiciário