sábado, 5 de dezembro de 2009

Querem Colocar a Culpa no Trabalhador: em vão

Recebi um desses textos "melosos" com "cobertura" de administração de pessoal que recomendam que o trabalhador assuma quase que totalmente a responsabilidade por manter um bom clima na empresa.

A leitura do texto lembrou-me dois filósofos:
1. Jean Paul Sartre, ao dizer “estamos sós e sem desculpas”, atribuía ao indivíduo todas as suas vitórias e mazelas. Como se o mundo exterior não existisse e o indivíduo fosse um deus do Olimpo a decidir tudo sobre si, sobre tudo e todos a seu redor;
2. Ortega y Gasset contrapôs-se, escrevendo: “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Entre as circunstâncias estão a empresa, as decisões de governos, as opções dos colegas de trabalho da mulher, dos filhos, do cão criado em casa... (kkk)

Ponto para o artigo quando exalta a responsabilidade pessoal da qual ninguém pode escapar, mesmo quando apela para a sorte e similares. O artigo exagera, porém, ao colocar sobre os ombros dos empregados quase todas as responsabilidades pelo que ocorre de negativo e de positivo no ambiente.

Em alguns pontos o texto é dúbio. Deixa, portanto, o perigo de interpretações negativas para o bom relacionamento interpessoal. É o caso do trecho em que se refere a “pessoas negativas” que vivem fazendo “fofocas e intrigas”, se você concluir que toda pessoa que faz um comentário crítico é uma pessoa negativa e/ou fofoqueira. Pior, quando sugere no verbo inperativo: “opte em se aproximar daquelas pessoas que poderão de certa forma te (sic) trazer algum benefício”, o que pode (não é obrigatório) resvalar para a aproximação interesseira (relacionar-se só com quem me ajuda a “subir”). Essa relação instrumental impediria a amizade verdadeira em que todos crescem pela solidariedade da ajuda mútua.

É por aí, ou não, caetanamente.

Recebi a seguinte reação:

Fico mais com Ortega Y Gasset. Onde estagio, por exemplo, é impossível haver uma harmonia. Logo, as pessoas são separadas na hierarquia: Os trabalhadores da empresa, que vêem a grana cair na conta todo mês; os contratados, que fazem o serviço duro e se matam de trabalhar, e os estagiários, que pegam o resto que os contratados não dão conta.

Isso fora as bajulações, conduta de pessoas que querem se manter nos cargos, nas comissões, e também como contratadas (os contratados não tem qualquer segurança, com o agravante de que são terceirizados através de uma empresa de "recursos humanos" que os contrata para a empresa o que é, ao meu ver, picaretagem trabalhista.

O ambiente descrito no artigo só é possível em um local onde as pessoas ganhem bem e estejam inexoravelmente seguras sobre suas funções e posições, como naquelas repartições públicas clássicas - de servidores regidos pela lei 8112 com todas suas benesses. Aí elas não teriam "nada a perder nem a ganhar" nas relações interpessoais. Onde trabalho, algumas pessoas vivem de "vigiar" as outras, de tentar apontar torpezas dos outros para se beneficiarem. O puxa-saquismo é quase um talento, uma profissão. A impressão que tenho é de estar em um ninho de cobras. Claro que existem exceções, não essse comportamento se aplica a todos, vai ver eu apenas estou na empresa errada. rsrsrsrs.

Parece mais um desabafo, mas é essa a minha (única até então), "experiência profissional".

Minha resposta ao amigo que não identifico aqui:

Muito bom seu "desabafo". Fico mais interessado em conhecê-lo e dar-lhe um abraço de congratulações pela postura.

Para você não ficar com ideia ruim de Sartre: trata-se de um dos filósofos do século XX de quem mais gosto. Fiz filosofia também, não sei se lhe disse. Ele é muito bom por chamar a atenção para nossa responsabilidade pessoal sobre nossas escolhas e ações subsequentes. Com ele não tem essa de foi deus quem quis assim, foi a sorte, foram os outros os culpados. Se você fica debaixo da palmeira e ela cai sobre você, a culpa não é do raio que a atingiu, mas de você que resolveu estacionar lá. Ele é muito bom nesta perspectiva. Agora, claro: ele estava no mundo desenvolvido, onde todos têm (ou tinham) suas necessidades básicas resolvidas, podia levar este raciocínio ao extremo. Ortega chama a atenção para as “circunstâncias”, já que ele via a vida na perspectiva terceiromundista. Os dois se completam.

Tenha um bom dia e... abraço grande!

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