segunda-feira, 26 de abril de 2010

Jornalistas comentam cobertura da execução de José Maria

Reproduzo aqui e-mails que recebi, até porque concordo plenamente com seus conteúdos. Eles falam por si.

Ademir Costa

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Daniel Fonsêca
Data: 26 de abril de 2010 00:04
Assunto: Carta ao O POVO | Cotidiano
Para: Plinio , ombudsman.opovo@gmail.com, ombudsman@opovo.com.br, taniaalves@opovo.com.br, Rita Célia Faheina , ritacelia@opovo.com.br, rosa@opovo.com.br


Prezadas (os) colegas,

Faço questão de, mesmo passados três dias, registrar minha integral concordância com a carta enviada por Janaína de Paula. E adiciono: é um passo dado pelo jornal O Povo para fortalecer um postura que muito já o diferenciou do ponto de vista editorial - como a causa indígena, por exemplo. Precisa-se, mais do que nunca, de pessoas que cultivem sensibilidade, respeito e cuidado, presentes numa matéria sobre um fato denso como esse - pelo tema de que trata e por envolver a vida exemplar que foi a de Zé Maria.

Mais do que simplesmente repercutir uma morte violenta com marcas de pistolagem - o que facilmente seria enquadrado na editoria de Polícia -, o jornal optou por destacar o assassinato do líder Zé Maria como um fato do cotidiano, contando a história de um missionário de um novo mundo. Em vez de entrevistar inspetores, delegados e secretário, os repórteres (com destaque para Rita) foram conferir detalhes das redes, dos laços e das lutas construídos e vividos por Zé Maria.

Ao invés de apequenar Tomé, o "lugarejo acanhado" de que Janaína fala, o jornal O Povo o tornou grande como são os desafios daqueles que conduzem a vida como numa piracema, para replicá-la ao final de jornadas. Essa era a intenção deste grande Zé Maria e de tanto outros que, de Almofala a Batoque, de Caetanos de Cima a Curral Velho, de Xingu a Madalena, defendem, no mínimo, que sejam revelados, saindo de uma invisibilidade que tanto os oprime do ponto de vista simbólico - às vezes tão cruel quanto os ataques "objetivos".

O jornal O Povo acerta, ainda, ao referir-se a Zé Maria como "ambientalista", um lutador de causas sociais, um líder comunitário, como de fato era, e não como uma pessoa que podia ter inimigos por motivos sem fim, como costumam rechear as matérias policiais. Isso porque a questão ambiental, como foi evidenciado nos textos, é central na vida de Zé Maria, que já era uma referência para muitos que lidam diariamente com esses temas em nosso estado. Essa provavelmente foi a real causa do extermínio político havido em Limoeiro.

Se, de um lado, o jornal O Povo tem de ser reverenciado neste momento pela sensibilidade e extremo profissionalismo - com a sempre necessária sensibilidade -, fica a responsabilidade de sempre ter, na lide cotidiana com as matérias, a permanente possibilidade de seguir esse caminho. A invisibilidade a que são submetidos amplos segmentos sociais muitas vezes é mais nefasta do que abordagens que por vezes não agradam aos movimentos sociais. Porque estas pelo menos os mostram.

Parabéns Rita Célia, Rosa e Landry! Parabéns, Tânia! Parabéns, equipe do O Povo! Sigam assim, com as vibrações dos povos, das lutas sociais, das questões que afligem a muitas e muitos amiúde, do Cotidiano que revela a nós, colegas, militantes políticos e demais leitores (as), que vale a pena fazer jornalismo, que vale a pena lutar, que vale a pena viver como viveu Zé Maria.

É isso que esperamos, sinceramente, de todos (as) vocês.

Forte abraço,

Daniel Fonsêca
jornalista

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Janaina Paula
Data: 23 de abril de 2010 13:12
Assunto: Carta ao O POVO
Para: dasantigas1@gmail.com, taniaalves@opovo.com.br, fatima@opovo.com.br, juliana@opovo.com.br


Caros Editores,

Gostaria de parabenizar o Jornal O POVO pela excelente cobertura na edição de hoje da brutal execução do militante ambientalista da Chapada do Apodi, José Maria Filho. A manchete é precisa, o texto da Ritinha reproduz com sensibilidade a emoção que arrebatou aquela pequena capela, na comunidade do Tomé, o editorial do Valdemar Menezes tem a contundência necessária para que não nos dobremos a impunidade.

Deu saudades dos meus tempos de redação, dos dias em que eu acreditava que tecendo naquelas páginas as histórias de anônimos heróis, dos tantos zés, dos “ninguéns”, eu também faria a roda do mundo girar, girar mais aprumada. Hoje retomei esse sentimento ao abrir o jornal, como tantos que experimentei ao visitar na tarde de ontem, pela primeira vez, a Comunidade do Tomé. Um lugarejo acanhado que viu desfilar a fala inconformada da “igreja progressista”, o choro silencioso dos amigos e parentes, um certo estado de abandono daquele que se sente quando se perde alguém que passa pela vida imerso em intensidades.

Uma morte anunciada, a do Zé, anunciada por ele próprio: “se eu morrer e vocês derem continuidade à luta, morro feliz”. Ele queria nos dizer que mais vale uma vida bem vivida, que a morte em vida. Morrer na nossa própria pequenez e, pior, imersos na indiferença que nos consome e nos faz alheios ao mundo.

Espero que essa seja a primeira de uma série de matérias até que pistoleiros e principalmente os mandantes respondam por esse crime. E que a gente possa dar voz a tantos outros zés, para que não se veja a triste repetição de uma morte anunciada.

Janaina de Paula

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