domingo, 4 de abril de 2010

Deus e o Superacelerador de Partículas

Um amigo me mandou este texto:

A Recriação
Superacelerador de partículas reconstitui as origens do universo e reabre debate entre fé e ciência


A maior experiência já realizada sobre as forças fundamentais da natureza teve início ontem quando o superacelerador LHC, na Suíça, promoveu o choque de partículas subatômicas, reproduzindo as condições do universo logo após o Big Bang. O feito abre caminho para uma nova era da física, com a possibilidade da descoberta de outras matérias e, até mesmo, dimensões. Reabre ainda o debate entre fé e ciência ao recriar os primeiros momentos do Cosmos. Às 8h (horário de Brasília), os feixes de prótons que percorriam os 27 quilômetros do túnel oval subterrâneo do equipamento se chocaram a uma velocidade bem próxima à dá luz, produzindo diversas partículas, A experiência será repetida pelos próximos anos com energia cada vez maior. O objetivo é estudar o produto desses choques para elucidar enigmas como a composição de 95% do universo e a existência do bóson de Higgs, também chamado de "partícula de Deus", responsável por dotar de massa tudo o que existe.

Comentário meu:

JORNALISMO -- Todo o que vem da imprensa peca pelo exagero. Nós da imprensa ficamos ridículos, vez por outra, dada a nossa paranóia de escrever algo chocante. É o caso das expressões "recriação" e "partícula de Deus", por exemplo. Algo bombástico e pouco esclarecido, quando esclarecido. Fiz várias reportagens sobre questões científicas, em meus vinte anos na chamada grande imprensa. Difícil colocar em linguagem corrente os conceitos da ciência. Difícil, mas possível. Demanda uma boa conversa do repórter com suas fontes, leituras complementares, um pouco de reflexão para criar "a forma" de apresentar os conceitos, domínio do português, além de revisão do texto final.

Sim, revisão. Alguns jornalistas detestam ser humildes nesta hora. Em duas ocasiões, submeti meus textos às autoridades entrevistadas, para a supervisão quanto aos conceitos. Eram muito complexos. Foi bom para mim, pois confirmei que aprendera e corrigi o que escrevera errado; foi bom para meus leitores, pois receberam informações corretas. Meus textos sempre foram aprovados por minhas fontes, mesmo pelas que não os leram antes. Digo com uma ponta de orgulho: sem sequer um registro de reclamação.

FÉ E CIÊNCIA -- A fé tem por função fornecer valores que balizem a vida humana para um plano transcendente; já a ciência "explica" os fatos e fenômenos, físicos e/ou sociais. São perspectivas diferentes e complementares. Nem a fé vai explicar os fatos e fenómenos, nem a ciência vai fornecer valores que levem o homem a dar sentido à sua vida e a aspirar a um umbral transcendente pós-morte.

Fé e ciência têm algo em comum: fornecem ao homem coragem e esperança, na medida em que afastam o medo e a insegurança. Reduzir a religião à tarefa de explicar o mundo é delegar a ela uma tarefa que não lhe pertence. Querer que a ciência forneça todas as bases para o agir humano com segurança e esperança é superestimar o papel da atividade científica. Foi o que me ensinaram na disciplina "Filosofia da Religião". É o que constato. Para mim, o superacelerador pode explicar "como" a criação ocorreu. Não fundamenta, porém, "quem" acionou aquele maravilhoso mecanismo de criação. Para mim, este Quem é aquele ser a que denominamos Deus, qualquer que seja a representação religiosa que se lhe dê.

É por aí.

Ademir Costa

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