sexta-feira, 23 de abril de 2010

"MATARAM MAIS UM IRMÃO"

Assassinato de José Maria tem "caráter de execução"

A advogada Maiana Maia, que acompanha o caso do assassinato do trabalhador rural José Maria Filho, em Limoeiro do Norte, conversou na manhã desta quinta-feira (22/04) com o delegado José Fernandes. "Ficou bem claro o caráter de execução, principalmente pela quantidade de tiros (19), todos do peito para cima e muito certeiros", diz Maiana.

A advogada diz que existe muito medo na região, o que tem dificultado o processo de investigação. "Não houve ninguém para testemunhar ainda", diz. O promotor Alexandre Aragão, em conversa com Maiana e com o advogado Davi Aragão, que também assessora movimentos sociais, destacou a necessidade de haver grande repercussão em torno do assassinato de José Maria.

Muito provavelmente, de acordo com o promotor, essa foi a primeira execução relacionada com a questão socioambiental e trabalhista na região, já marcada por crimes de pistolagem envolvendo conflitos pessoais e familiares. José Maria era presidente da Associação dos Desapropriados Trabalhadores Rurais Sem Terra – Chapada do Apodi.

Segundo Mariana Maia, a necrópsia já foi realizada no município de Canindé, e o corpo já está retornando a Limoeiro do Norte. Às 16h desta quinta-feira (22), acontece a missa de corpo presente e, às 17h, o enterro. Também já estão a caminho da cidade vários ônibus de Fortaleza e de outros municípios do interior com lideranças de movimentos populares.

SAIU NO BLOG DO COLEGA JORNALISTA ELIOMAR DE LIMA


Movimentos sociais de Limoeiro do Norte (Vale Jaguaribano) divulgaram, nesta quinta-feira, nota de repúdio ao assassinato de José Maria de Tomé, líder comunitário desse município. Confira a nota:
UM GRITO DE DENÚNCIA, UMA NOTA CONTRA A VIOLÊNCIA: JUSTIÇA AO COMPANHEIRO JOSÉ MARIA FILHO
Um crime provoca indignação e perplexidade: o assassinato de Zé Maria, 44 anos, ocorrido neste dia 21 de abril de 2010. Ele era presidente da Associação Comunitária São João do Tomé, presidente da Associação dos Desapropriados Trabalhadores Rurais Sem Terra – Chapada do Apodi, liderança do movimento social – filho da comunidade do Sítio Tomé – Limoeiro do Norte – CE,. As razões do assassinato se encontram no bojo dos conflitos provocados pela presença do agrohidronegócio, instalado em meados da década de 1990 na região jaguaribana. Esses conflitos trouxeram uma realidade de profundas injustiças sociais para a nossa região. A comunidade de Tomé bem como outras que se localizam na Chapada do Apodi sofrem o descaso e o desrespeito dos órgãos públicos e a irresponsabilidade das grandes empresas que se fixaram na Chapada e que atentam contra o meio ambiente e a saúde da coletividade.
Desde o início, Zé Maria se envolveu nas diferentes lutas contra essas injustiças, estando presente no Grito dos Excluídos, no Fórum Regional e seminários contra os Agrotóxicos, discutindo a problemática do uso da água. Sua voz ecoou em todo o Vale do Jaguaribe através das emissoras de rádio denunciando as violações dos direitos humanos que vitimam as comunidades da Chapada do Apodi.
A sua solidariedade inconteste o impulsionava ao debate e a denúncia cotidiana. Assumindo a defesa dos interesses coletivos, o bravo companheiro levou a todos os locais e momentos significativos das lutas os problemas dos trabalhadores rurais sem terra da Chapada do Apodí, as angústias e incertezas de centenas de famílias que recebem água contaminada e os infortúnios de dezenas de famílias que moram em casa de taipa na Comunidade do Tomé.
Este envolvimento o fez vítima. Vítima de quem? De que? Vítima dos conflitos (terra, água, agrotóxico) gerados pelo modelo de desenvolvimento do agrohidronegócio e, também, da inoperância e da negligência dos poderes públicos em solucionar esses conflitos.
Nos capítulos de nossa história muitos foram os/as companheiros/as que tombaram vítimas da expansão do agronegócio, da ganância desenfreada dos senhores do capital e da virulência social dos poderosos. Dentre eles/elas podemos citar o ecossocialista Chico Mendes, Pe. Josimo defensor da reforma agrária, a sindicalista Margarida Alves e a missionária Ir. Dorothy Stang. Seja com o seu exemplo de vida, seja na forma como lhe ceifaram a vida, Zé Maria assemelha-se a todos/as eles/as. E assim como a luta e a memória dos bravos lutadores não foram apagadas com a violência perpetrada por seus assassinos, também não serão esquecidos os teus gritos contra o agrotóxico, a tua defesa pela vida. É na Campanha da Fraternidade deste ano de 2010 que nos inspiramos para continuar a defesa dos direitos humanos, atentando para o ensinamento de Jesus: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro ( Mt. 6, 24).
É com essa determinação que os movimentos e instituições que assinam esta nota vêm a público se solidarizar com a família do companheiro e com toda a Comunidade do Sítio Tomé, repudiar todas as formas de violência, exigir a apuração rigorosa do crime e a punição dos culpados.
Limoeiro do Norte, 21 de abril de 2010.
CÁRITAS DIOCESANA DE LIMOEIRO DO NORTE
NÚCLEO TRAMAS – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
RENAPE – REDE NACIONAL DE ADVOGADO POPULAR
MAB – MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGEM
CPT – COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – DIOCESE DE L. DO NORTE
PASTORAIS SOCIAIS – DIOCESE DE LIMOEIRO DO NORTE
MST – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM-TERRA
FAFIDAM – FACULDADE DE FILOSOFIA DOM AURELIANO MATOS

Categoria(s): Ceará, Direitos Humanos, Ecologia e Meio Ambiente, Reforma agrária por Eliomar de Lima

REAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO MISSÃO TREMEMBÉ

Aos prezados companheiros de Limoeiro do Norte e de todo Vale do Jaguaribe,
que nos enviam essa Nota com a comunicação de mais uma violência nessas terras já marcadas pela força dos que se julgam donos da lei, do poder de mando nessa e
noutras regiões do nosso Ceará, do nosso Nordeste, do nosso Brasil.

Essa região foi onde aconteceu a luta de resistência indígena nos idos do século XVIII e XIX, e onde foram trucidados os lutadores daquela época. Eles foram silenciados mas não perderam a guerra, pois estão vivos através dos seus parentes, dos novos lutadores que continuam firmes, resisitindo, lutando por um mundo justo, de direitos consagrados na igualdade, que é o nosso sonho comum.

Lamentamos profundamente a barbarie como a que foi utilizada para eliminar esse grande lutador Zé Maria do Tomé, que deixa um lastro de coragem e decisão para nós
todos que aqui ainda permanecemos. O nosso Deus e a força dos Encantados, ancestrais indigenas presentes nessa região, ainda que aparentemente não revelados, mas certamente dando força aos que vão continuar essa luta tão bem descrita por vocês.
Não podemos estar presentes mas, daqui, acompanhamos esses momentos de dor e de muita força, de muita esperança nas flores que brotarão, nas vitorias que ainda vão
acontecer, resultado desse trabalho corajoso e ousado do companheiro Zé Maria do Tomé e sua comunidade.

Um abraço soilidário de todos nós da Missão Tremembé.
Maria Amelia

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