sábado, 16 de janeiro de 2010

O Haiti é Aqui -- e Lá Também

Reflexões que recebi sobre o Haiti. Umas fazem paralelo com acontecimentos do e no Brasil. A voz de um pesquisador da Unicamp que trabalha naquele país é uma das mais abalizadas. Eles com a palavra:

Prezados amigos,

A percepção de que o Haiti é um laboratório foi a primeira reflexão que me veio, diante das primeiras imagens da situação de total ausência de um estado legítimo naquele país. O Haiti é hoje um laboratório de experimentação de uma sociedade que no lugar do Estado tem um arranjo institucional imposto e que está dando mostras da sua ineficácia e perversidade.

Nós no Brasil conhecemos um pouco desta realidade, quando, no inicio do ano, vimos que a ocupação desordenada de encostas resultou em mortes que poderiam ser evitadas.

Em um momento em que o povo cubano está sendo incluído na lista de Estados qualificados pela administração estadunidense de patrocinadores do terrorismo, não podemos deixar calar o exemplo cubano que, mesmo sob condições de imensa dificuldades, enfrentou a temporada de furacões em 2008 com um saldo de 07 mortes. E nem deixar de divulgar como a sociedade cubana está se preparando para uma possível nova temporada de catástrofes naturais.

Conforme noticiado no Granma Internacional " 30 mil pessoas foram evacuadas em 12 de janeiro com prontidão, disciplina e cooperação pelo Conselho de Defesa Municipal (CDM) em Baracoa, diante do possível perigo de tsunami. A mobilização foi decretada com o sismo de 7 graus, às 16h53, ocorrido na terça-feira, dia 12, na localidade de Carrefour, a 15 quilômetros de Porto Príncipe, capital do Haiti. Depois da evacuação do CDM, os moradores da beira-mar de Baracoa e das zonas litorâneas de Cabacú, El Turey e Mabujabo foram deslocados em menos de uma hora para as áreas mais elevadas da cidade, segundo declarou à AIN o primeiro secretário do Partido em Baracoa, Eudis Romero Suárez ".

O exemplo cubano também deve ser ressaltado na ajuda humanitária enviada por este país aos haitianos, precisamente identificada pelo chanceler Bruno Rodriguéz Parrilla na presença de "403 colaboradores cubanos, deles 344 trabalham no setor da saúde, como médicos e paramédicos”, e o envio de "mais ajuda de emergência para a irmã nação caribenha, consistente em “medicamentos e material sanitário, bem como um grupo adicional de médicos que viajará a essa nação".

Solidariedade ao povo haitiano, a Cuba e toda América Latina!

Míriam


Oi companheirada,

Senti uma dor enorme quando vi os acontecimentos do Haiti. E, ao mesmo tempo fiquei indignada pensando que nada conseguimos fazer quando o Brasil foi enviado para liderar as tropas da ONU para reprmir as lutas do povo haitiano. Neste inicio de ano ja sofri e me indignei contra a violencia da Faixa de Gaza e sua impunidade. O que estes dois fatos tem a ver? E fiquei pensando como nada conseguimos fazer e nem mostrar a relacao de tudo isto com o capitalismo, a exploraçao, a discriminaçao. Este pequeno texto abaixo, de um professor da Unicamp, ajuda nesta reflexão. http://lacitadelle.wordpress.com/



Haiti: estamos abandonados

A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.

O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia.

O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?

A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.

Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?

Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.

Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.

A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia [UTF-8?]– o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.

A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel [UTF-8?]– resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.

Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem. Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.
Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu à luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.

Otávio Calegari Jorge
Pesquisador da Unicamp no Haiti

(13 13UTC Janeiro 13UTC 2010, 23:39
Arquivado em: HAITI)

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