segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Presentes de Aniversário

José Lemos* A ocasião do nosso aniversário, além de ser um feriado particular, é um dia para reflexões. Ficamos no dilema: comemoramos por mais um ano vivido, ou lamentamos por sabermos que temos, de fato, um ano a menos na nossa breve trajetória por aqui? Na medida em que os anos vão passando, e nos tornamos mais maduros, passamos a refletir, com mais acuidade, acerca da nossa função neste planeta. Afinal para que viemos para cá? Viemos apenas para procriar, acumular riquezas, buscar nos destacar como profissionais? Seria tudo tão simples e fugaz assim? Não acredito! A natureza foi criada com muita sabedoria. Tudo nela tem uma razão de ser. Nada está colocado neste planeta por acaso. Tudo tem uma função bem definida. Nós, seres humanos, não entraríamos nesse projeto para tão pouco. Os vegetais, de todos os portes, por exemplo, tem a responsabilidade de prover o oxigênio que é necessário para a maioria dos seres vivos que existem no planeta. Através da fotossíntese, são os únicos seres capazes de operarem o milagre da vida na terra. Mas além desta função, por si só da maior relevância vital, os vegetais formam o manto verdejante sobre o nosso planeta, produzem frutos que alimentam diferentes espécies animais, inclusive os humanos. Provêem beleza através do verde que espraiam e das suas flores, de várias cores e tons. Muitas dessas flores não se contentam apenas em ser belas. Emitem aromas que contagiam outros sentidos, alem do olfato. Os animais, de diferentes tamanhos, também têm múltiplas funções. Dentre elas destaca-se a de serem polinizadores e disseminadores das sementes. Com isso espraiam em raios inimagináveis as espécies vegetais. Junto com os ventos e com as águas, esses seres proliferam e multiplicam a vida na nossa nave. Os mares também têm funções fundamentais no equilíbrio sinérgico que se processa no planeta. Não é por acaso que ocupam a maior superfície terrestre. São os movimentos das marés, devidamente influenciados por vários elementos, as fases da lua são alguns deles, que fazem com que os ventos aconteçam e que tornam mais amenas as temperaturas no planeta. As evaporações das águas dos oceanos viram nuvens, condensam, se transformam em chuvas que, deslocadas pelos ventos, se difundem em diferentes locais. Recarregam os aqüíferos de superfícies e subterrâneos, irrigam a vegetação, e ajudam a fomentar a vida. Tudo perfeitamente sincronizado. E nós, seres humanos, que papel temos em toda essa cadeia sinérgica? Do estágio primitivo em que vivíamos no começo de tudo, avançamos para a domesticação de animais e plantas. Trazendo-os para perto de nós. Isto facilitou a nossa vida, mas também contribuiu para nos transformar nos maiores depredadores do planeta. Nós, que nos jactamos de sermos os seres mais inteligentes, cometemos atrocidades que não se observa no mais feroz dos animais silvestres. Contudo, é assim que procedemos. Usamos “Armas, Germes e Aços”, (titulo do excelente livro de Jared Diamond), para cometer atos atrozes contra outros animais, destruir florestas, e subjugar outros seres humanos. Em casos extremos há gente que destrói vidas humanas. Outros “matam por amor”, e até em nome de Deus, como se isso fosse possível. Seguramente não foi para isso que o Criador nos colocou ao lado de seres tão nobres como os mares, os vegetais e os demais animais. Não foi para exercitarmos a inveja, o egoísmo, o apego a poderes e às riquezas materiais, que viemos prá cá. Até porque tudo isso ficará quando passarmos. E passaremos bem depressa. Ódio, cobiça, desrespeito aos outros seres vivos, inclusive os outros humanos, são práticas que desenvolvemos, mas que seguramente não estavam no escripit de Quem planejou a convivência para este nosso planeta azul. È neste mundo que eu vivo e completo mais um ano de vida neste sábado. Eu tenho, como não poderia ser diferente, todos os defeitos inerentes à espécie humana. Procuro, ao longo da minha trajetória, policiar-me para ser menos egoísta, menos invejoso, mais humano. Tento buscar a sabedoria e a grandeza da humildade. Dentre os presentes que eu quero ser merecedor neste dia, o mais importante é o usufruto pleno da minha saúde física e mental, o que, felizmente, está acontecendo. Ter vigor para o exercício da profissão que escolhi: a de Professor-Pesquisador. Poder, através dela, contribuir para que a vida humana no planeta, e a minha própria, seja de utilidade. Quero amar, com todas as forças, as pessoas que me amam. Quero ter a capacidade de respeitar aqueles que não gostam de mim. Contribuir para que pessoas fora do meu circuito familiar possam usufruir de vida mais digna. Este é o “pacote” de presentes que eu quero ganhar neste sábado. Dia em que fico um ano mais velho. ========= *Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Escreve aos sábados para o Jornal “O Imparcial”, de São Luís do Maranhão, Brasil. Publicado aqui com a autorização do autor, a quem desejo "zilhões" de felicidades em todos os "mais 200 anos" vindouros.

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