segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

SAI NA MARRA ANIMA CARNAVAL NO BAIRRO ELLERY







A animação era geral. Tipos com fantasias exóticas, pais com os filhos, juventude predominante, mas presença massiva também de crianças e adolescentes. Assim foi a exibição de sábado, 12, do bloco Sai na Marra, no bairro Ellery, em Fortaleza. Mesmo quem ficou em casa participou da alegria, quando o bloco passava em sua rua: acenando do jardim ou gingando na sacada do primeiro andar, familiares davam "sua força" aos foliões. Longe de ser um carnaval à antiga, a manifestação mostra um novo carnaval com a irreverência dos cearenses e as mazelas sociais da cidade que parece ter crescido além da conta.
O bloco é uma iniciativa dos moradores para congregar o bairro em momento lúdico. Está dando certo. A fórmula foi alcançada pela aliança da Associação de Moradores com o Movimento Pró-Parque da Av. Sargento Hermínio, os Defensores da Paz e outras forças sociais, com apoio da Prefeitura de Fortaleza, polícia e órgãos de apoio à cultura. Sai na Marra já tem oito anos, no próximo sábado arrasa novamente a partir das 17 horas, mas haverá uma novidade naquele dia: pela primeira vez, às 16 horas, 150 crianças desfilam no Sai na Marrinha, acompanhadas de seus pais ou responsáveis.
Antes de o bloco sair da pracinha do bairro, houve homenagem a José Francisco Rocha - Mestre Zé Pio - guardião da memória de vários grupos de Bumba-Meu-Boi de Fortaleza. Em 2004, ele foi contemplado com o título de Mestre da Cultura Popular Tradicional. Atualmente, Mestre Zé Pio coordena O Boi Ceará, grupo fundado em 1943 pelo mestre Assis, no Carlito Pamplona. O corso sai ali pelas 19h, acompanhado por uma banda que executava marchinhas tradicionais: "Minha jangada vai sair pro mar...", "Ei, você aí, me dá um dinheiro aí...", "Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é...?". Dificuldade: os foliões cantavam, no máximo, os respectivos refrões. É que as marchinhas de carnaval estão ficando na categoria de música folclóricas, caindo no esquecimento, como tantas outras manifestações culturais de nosso povo.

TIPOS exóticos pululavam no bloco, com predominância para jovens vestidos de mulher, figuras bizarras, uma tradição no carnaval cearense. Em meio a tanta gente, apenas um senhor da terceira idade envergava fantasia "a rigor", digna dos velhos carnavais. Nas demais, predominavam improvisações a partir de roupas do dia-a-dia. A maioria das pessoas, em trajes comuns, queria mais era se divertir. Um casal muito jovem, talvez 20 anos cada, levava nos braços o filho de poucos meses. É a nova geração de foliões formando sucessores, penso.

MÚSICA axé emitida por com carro de som animava a multidão nas paradas estratégicas do bloco. De um lado, permitia aos foliões se "abastecerem" de alimento e álcool nas versões cachaça, batidinha e assemelhados. De outro, os integrantes da bandinha descansavam os pulmões para enfrentar nova etapa. Em uma dessas paradas, o filho de sete anos, de um dos integrantes, executou batidas de tarol, estreando na banda. Já um grupo de adolescentes coreografou a música eletrônica como se tivesse ensaiado antes aqueles passos todos.

A festa empolga, pela participação crescente de pessoas, à medida que o cortejo percorre mais ruas do bairro. As brincadeiras espontâneas, o sorriso largo dos brincantes, os cordões que se formavam ziguezagueando por entre a multidão, tudo isso me fez lembrar o tradicional "baile das crianças" de que tanto participei na minha infância de Caxias do Maranhão. Nem todos entram no bloco, claro. Símbolo da apartação é o casal na entrada da "mansão". Impecavelmente vestidos, ele porta um copo de wisky na mão protegida por lenço de papel. Passa a manifestação, ele sorve um gole, como a afirmar não pertencer "ao canelau". Se bem que o bloco é integrado por muita gente classe média.

O consumo de álcool é uma constante, antes e depos da "largada". De adulto, todos achamos até normal. Ainda não consigo ver como natural a familiaridade dos adolescentes com as bebidas alcoólicas. No cortejo, algumas garrafas foram quebradas, apesar do apelo para que o líquido fosse transferido para recipientes plásticos providenciados pelos organizadores. Entretanto, tudo transcorreu de forma tranqüila, nenhum incidente no percurso.

NEM TUDO é brincadeira. Os comerciantes não deixam seus postos. Vai longe o tempo em que comércio fechava sábados à tarde. Em meio à folia, pais e filhos pequenos trabalham vendendo bebidas, alimentos ou objetos referentes ao carnaval. Um garotinho recolhe latas de cerveja. Pergunto-lhe a idade: "nove anos", mas tem corpo de seis. Lá na frente, uma mãe trabalha da mesma forma com a filha que aparenta no máximo 10 anos. No meio, uma adolescente bem vestida também recolhe material reciclável. Impossível ficar alegre frente a estes quadros.

Para a harmonia geral, muito contribuíram os voluntários das entidades, o espírito carnavalesco que perpassa os brincantes, as orientações do som de apoio. Na retaguarda, uma equipe trabalhava duro, documentando os fatos em fotos e vídeo.

Um comentário:

  1. gosto muito do sai na mara. a cada ano melhor mais.parabens para os organiçadores.
    beijos.

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