quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Energia Limpa

Por
Zacharias Bezerra de Oliveira
Jornalista
Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará
Bolsita do CNPQ

Artigo Publicado originalmente dia: 06/09/2007
Fonte: Jornal do Meio Ambiente-18/12/07

(Parêntese para uma Nota do Editor: o debate que se segue é muito interessante.
Causa-me sempre perplexidade o emprego da força nuclear para a geração de energia elétrica. Em 2001 entrevistei o coordenador, por nosso país, do acordo Brasil-Alemanha. Perdão, mas não me lembro o nome dele. Ele não sabia a destinação segura para o lixo nuclear. Até hoje, ninguém sabe. É uma bomba de efeito retardado. Se é assim, por que continuar montando esta bomba? Ademir Costa, editor do blog)

Com estupefação leio na Revista do Meio Ambiente (Edição 011, 2007, p. 17) que a Eletronuclear pretende iniciar estudos para definir o local de instalação da quarta usina nuclear do país, segundo anunciado por ocasião do Energy Summit 2007, no Rio de janeiro, pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício (que não se perca pelas três primeiras letras de seu nome) Tolmasquim. Mas o pior de tudo isso é que o local escolhido para sujar o planeta com lixo nuclear é o Nordeste semi-árido. Terra de ventos e de sol em abundância o semi-árido nordestino tem capacidade potencial de gerar energia limpa para abastecer toda a região.

Ora, senhor presidente da EPE, senhor ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, senhor Presidente da República Federativa do Brasil, aqui no Ceará, o Parque de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade Federal do Ceará (Padetec) está desenvolvendo projeto com células solares utilizando corantes fotoexcitáveis (http://www.padetec.ufc.br/novapagina/outros/natucelteoria.php). Por que não investir na alternativa de energia limpa e abundante no Universo, em vez de trazer centrais nucleares e lixo atômico ou carvão para entupir o ambiente de CO2? Por que não instalar parques de captação de energia eólica ao longo da costa brasileira e aproveitar o potencial do vento que sopra na região?

Não será pelo custo econômico, pois este nunca pode ser comparado ao custo ambiental que as energias sujas trazem para o planeta. Mesmo se as células solares convencionais de silício, que convertem a luz em eletricidade pelo efeito fotovoltaico na junção de semicondutores, apresentam dificuldades na fabricação que limitam o uso em escala industrial, elas poderiam ser utilizadas em escala menor em fábricas, condomínios ou pequenos municípios. As células solares com os corantes fotoexcitáveis (CSCF), porém, segundo o sítio do Padetec na Internet, utilizam “o processo de absorção da luz e a separação de cargas (buracos e elétrons) ocorrem em duas etapas e, devido à facilidade de construção, oferecem a possibilidade de redução drástica nos custos da energia solar”. Além do que, o Padetec informa outras vantagens das células CSCF:

• Permitem a construção de módulos transparentes que possibilitam o seu uso em janelas, fachadas, painéis, iluminação de tetos, automóveis etc.;

• Trabalham usando condições variadas de iluminação devido a sua habilidade de usar corantes que são saturados a baixa energia luminosa;

• São menos sensíveis ao ângulo de incidência da radiação luminosa a podem usar luz refratada e refletida;

• São menos sensíveis a nebulosidade;

• Podem operar em condições variadas de temperatura podendo operar com boa performance em temperaturas acima de 70oC onde as células convencionais de silício perdem rapidamente a eficiência.

• São produzidas em instalações simples por processos não poluentes, não exigindo os ambientes especiais e caros requeridos na fabricação das células fotovoltaicas convencionais.
(http://www.padetec.ufc.br/novapagina/outros/natucelteoria.php)

Para quem quiser mais informações sobre esta pesquisa iniciada em 1980, na Escola Politécnica Federal em Lausanne (Suíça), favor acessar o sítio do Padetec informado acima. O trabalho foi desenvolvido pelo grupo de pesquisas em produtos naturais da UFC, inicialmente no Departamento de Química Orgânica e Inorgânica, Laboratório de Produtos Naturais e presentemente no Padetec. O objetivo do grupo é colocar o produto no mercado em curto espaço de tempo. Cabe mais uma vez a pergunta: Por que as instâncias governamentais Federal, Estadual, Municipal e Institucional não encampam este projeto como alternativa de produção de energia limpa para a região?

No momento em que a Assembléia Geral das Nações Unidas elegeu 2008, como o Ano Internacional do Planeta Terra, com a finalidade de promover e incentivar o desenvolvimento de programas sustentáveis e manutenção da vida está na hora do Governo do Brasil acordar para a necessidade de retirar o país do caminho de Samarra, no qual há “aceleração do crescimento feito à custa da devastação da natureza e da exclusão das grandes maiorias” (Boff, 2007, Edição 011, RMB, Ponto de Vista, p. 32). O Planeta Terra com certeza será salvo da catástrofe, mas a vida que existe nele pode sucumbir sem a mudança radical de quem consome e de quem produz. Portanto, nada de termelétricas, de siderúrgica movida a carvão, o mineral mais poluente do Planeta, venha ele de onde vier, nem tão pouco de energia nuclear. Vamos investir em parques eólicos, células solares fotovoltaicas ou fotoexcitáveis e potencializar a geração de energia limpa.

Resposta de Leonam dos Santos Guimaraes, Assistente do Diretor-Presidente da ELETRONUCLEAR - Eletrobrás Termonuclear S.A.

De: Leonam dos Santos Guimaraes [mailto:leonam@eletronuclear.gov.br]
Enviada em: terça-feira, 15 de janeiro de 2008 09:49
Para: VILMAR Sidnei Demamam BERNA
Assunto: Artigo do Sr. Zacharias Bezerra de Oliveira na "Revista do Meio Ambiente"

Prezado Vilmar,

Tendo lido a opinião do Sr. Zacharias Bezerra de Oliveira no texto “O Nordeste não precisa de energia nuclear por que tem energia limpa para dar e vender”, publicado na “Revista do Meio Ambiente”, permita-nos levar à sua apreciação e a dos leitores da revista algumas considerações:

O uso da energia, em particular da eletricidade, constitui um requisito fundamental para o desenvolvimento de qualquer cidadão, sociedade, país e da própria humanidade. Os índices de consumo per capta de eletricidade no Brasil se encontram entre os menores, quando comparados com uma longa lista de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Certamente nosso IDH (índice de desenvolvimento humano) é afetado negativamente por esta realidade, e também apresenta grande margem de melhoria. Isto se reflete em todos os aspectos da vida do cidadão brasileiro, incluindo saúde, educação, segurança, longevidade, prosperidade, enfim, qualidade de vida e felicidade.

Como conseqüência, o país precisa não apenas suprir energia para o crescimento marginal da economia e da população, quanto buscar dar saltos de geração-transmissão-distribuição-consumo visando reduzir a margem frente aos países competidores que, num mundo global, essencialmente são todos os outros. Este crescimento precisa atender outros requisitos: segurança no abastecimento, custos acessíveis, proveniência do interior de nossas fronteiras, viabilidade econômica e ser amistosa para com o meio ambiente.

Tendo em vista a extensão do país e a sua população de quase duas centenas de milhões de habitantes, as quantidades de eletricidade necessárias são acentuadas e os longos percursos de transmissão também significativos. Em particular, o Nordeste brasileiro exalta todas estas dificuldades: baixo consumo per capta de eletricidade, grande população, defasagens sociais significativas em relação a outras regiões e grandes extensões. O rio São Francisco, a principal fonte de eletricidade da região, já se encontra quase totalmente aproveitado, não permitindo as expansões necessárias.

A estratégia para a solução deste problema reside na utilização de “todas“ as fontes viáveis de eletricidades sob aspectos técnico, econômico e ambiental. Hidroeletricidade, energia térmica proveniente do carvão, óleo, gás natural e nuclear e as fontes alternativas renováveis (eólica, solar, biomassa) constituem o conjunto de possíveis soluções, considerando o atual estágio tecnológico da humanidade – note-se que o uso de uma delas não exclui, em absoluto, o uso das demais: não há solução única!. Cada uma delas apresenta vantagens e desvantagens, porém algumas desvantagens são quase intransponíveis, dificultando ou mesmo eliminando a alternativa. Entretanto, sempre que justificável sob aspectos de desenvolvimento econômico, social, ambiental e político, todas as alternativas podem e devem ser usadas.

Tanto quanto as demais, a energia nuclear apresenta uma série de vantagens e desvantagens, porém, cada vez mais, esta alternativa vem reduzindo desvantagens e ampliando as vantagens. Como se trata de uma alternativa complexa sob aspectos tecnológico e econômico, e frente à inevitável associação da geração nuclear civil com os eventos da Segunda Guerra Mundial, a percepção pública é afetada. Cabe a nós da indústria nuclear zelar por sua excelência técnica, econômica e ambiental, ao mesmo tempo em que buscamos esclarecer aspectos importantes junto ao público. A aceitação e sustentação públicas são aspectos fundamentais para o desenvolvimento da indústria de geração nuclear e só será plenamente atingida através de sua participação em todas as etapas dos empreendimentos. Portanto, entendemos que a resposta à sua reportagem se constitui numa oportunidade para nós.

As principais dúvidas são relativas ao risco ambiental e a viabilidade econômica e foram ressaltadas em seu texto. Como todo empreendimento humano, risco sempre estará presente, portanto a busca da sua eliminação é inócua. Mas se o risco não pode ser eliminado, ele pode ser controlado em níveis tão baixos que o justifique frente ao conjunto de aspectos positivos provenientes da atividade. Sobre esta questão, o atual estágio das usinas nucleares geradoras de eletricidade já reduziu riscos ambientais a níveis extremamente baixos e dentro do campo de tolerabilidade (abaixo de um evento a cada 100 mil anos). Por exemplo, o risco de um acidente nuclear com grave liberação de radioatividade em usinas semelhantes às de Angra é estimado um a cada 10 milhões de anos. Por outro lado, durante operação normal, a emissão de poluentes e gases causadores do efeito estufa é praticamente inexistente. A solução da questão do combustível nuclear usado é mais política do que técnica e econômica. Portanto, sob uma ótica de risco, conseqüências tanto de acidentes quanto decorrentes da operação normal de uma usina nuclear são aceitáveis e desprezíveis.

Quanto ao aspecto econômico, a indústria nuclear é essencialmente uma atividade de escala, de tal modo que seus custos de produção são muito baixos, e, portanto, há uma convergência favorável de escala e baixos custos, justificando pesados investimentos de capital na construção de novas unidades. Quanto às outras fontes de eletricidade, também apresentam prós e contras, porém dada a grande e urgente necessidade de novas fontes de geração no país, somos partidários da idéia de utilização de todas, submetidas à prioridades de viabilização econômica.

Tendo em vista o atual estágio das diversas fontes de eletricidade possíveis de serem usadas no Nordeste brasileiro, a limitação de recursos para investimento, as limitadas oportunidades de aproveitamento hidroelétrico, a natureza dispersa da produção da biomassa, o estágio preliminar de desenvolvimento tecnológico de algumas fontes renováveis (com grande impacto no investimento necessário) e não minimizando a questão das grandes quantidades de energia necessárias, muito além da capacidade de geração renovável eólica e solar, observadas as limitações tecnológicas atuais, consideramos que a instalação de usinas nucleares de última geração no Nordeste brasileiro contribuirá para o desenvolvimento da região e do país, e que os benéficos econômicos, sociais e ambientais decorrentes serão vultosos, mensuráveis e justificarão a opção.

Vale lembrar que não estamos sós na opção nuclear, pois 17% de toda a eletricidade gerada no mundo são provenientes de usinas nucleares e que fóruns internacionais, inclusive da ONU, apontam a energia nuclear como parte da solução energética do planeta.

Finalmente, sugerimos que, apesar dos esforços globais cada vez mais intensos para limitar emissões nocivas ao meio ambiente, caso conseqüências negativas venham a ocorrer no futuro sobre o planeta, os países com as economias mais fortes apresentarão as melhores condições de limitar as conseqüências sobre seus cidadãos. Sob esta ótica, conciliar proteção ambiental com desenvolvimento econômico constitui uma medida de controle de risco necessária.

Com nossa resposta esperamos estar contribuindo com informações para um debate que deve ser nacional, em torno das grandes e urgentes necessidades energéticas do país, e do qual, esperamos, emergirá uma solução integradora, de consenso e que representará o melhor para o interesse e segurança nacionais.

Atenciosamente,

Leonam dos Santos Guimarães
ELETRONUCLEAR - Eletrobrás Termonuclear S.A.
Assistente do Diretor-Presidente
Rua da Candelária, 65 / 10º Andar - Centro
Rio de Janeiro - CEP 20091-020
(21) 2588-7036 È (21) 9625-4626 Fax: (21) 2588-7212

leonam@eletronuclear.gov.br

Vilmar Berna, da "Revista do Meio Ambiente" intermedia o debate e manifesta sua opinião

De: VILMAR Sidnei Demamam BERNA [mailto:vilmar@rebia.org.br]
Enviada em: terça-feira, 15 de janeiro de 2008 13:03
Para: Leonam dos Santos Guimaraes
Cc: Everton Carvalho ; zachariasbezerradeoliveira@yahoo.com. br; Mário Moura INB
Assunto: RES: Artigo do Sr. Zacharias Bezerra de Oliveira na "Revista do Meio Ambiente"

Prezado Leonam,

Muito obrigado por mais esta contribuição ao debate sobre energia, do qual todos os brasileiros deveriam ter acesso. De todos, no setor Nuclear, você tem dado um bom exemplo ao não ‘fugir’ do debate fora das esferas do setor, muito pelo contrário, motivo de meu reconhecimento e aplausos.

Nós, da REBIA e da Revista do Meio Ambiente estamos tentando fazer a nossa parte, tornando acessível os diversos pontos de vista sobre o assunto para fora do setor nuclear, procurando tratar o tema e suas divergências de forma séria, e, como a imparcialidade não existe em comunicação, procuramos manter abertos os espaços para as diferentes correntes de opinião, sempre buscando o alto nível dos debates.

Assim como temos mantido aberto este espaço democrático para as opiniões dos defensores da Energia Nuclear, também o faço para os que são contrários. Acho que esta é a nossa missão e, neste sentido, continuamos abertos a parcerias com o setor Nucelar que possibilitem a manutenção e a ampliação do debate democrático destes temas, seja através da Revista e do Portal do Meio Ambiente, seja através de Encontros e eventos.

Particularmente, estou encaminhando cópia desta nossa mensagem para o Zacharias, que como já escreveu antes, não consegue compreender a opção pelo nuclear num Nordeste cheio de sol e ventos o ano todo. No mínimo é um contra-senso político abandonar ou não priorizar o investimentos em energia solar e eólica nestas circunstâncias, preferindo investir numa Usina Nucelar Nordestina, que significará enormes investimentos que poderiam estar sendo feitos em energia solar e eólica.

Um abraço fraterno e ecológico do

Vilmar

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