quarta-feira, 7 de novembro de 2007

POR UMA UTOPIA DE PAZ

Há 15 bilhões de anos, com o “big-bang” ou grande explosão, iniciou-se um processo de fusões e complexificações de elementos do universo do qual resultaram as estrelas, as supernovas, as galáxias, os sóis, os planetas com seus satélites, os quarks, os 100 diferentes átomos de pesos diversos, que entram na composição de todos os seres materiais do universo, os microorganismos, os peixes, as lesmas, os animais e, por fim, os humanos. Esta é uma explicação atual da origem do cosmos e da vida, fundamentada na teoria da grande explosão, de Georges Lamaître, complementada pela teoria do universo inflacionário, de Alan Guth.
A partir desses pressupostos, o universo não estaria acabado, mas em expansão e evolução permanentes. No homem, a evolução tomou consciência de si mesma e agora rege seu destino, para o bem ou para o mal. Assim é que, nos últimos 50 anos, a humanidade produziu mais objetos que nos anteriores 50 mil anos. O homem desceu às regiões abissais da Terra, projetou-se, por seus artefatos, para outros planetas do sistema solar e já reúne condições de sair dele.
Antes o homem se identificava com a natureza ao seu entorno. Porém, particularmente nos últimos quatro séculos, foi demarcando limites e conquistando independência frente às forças naturais. Os conhecimentos da matéria e o domínio dos sistemas vivos e daqueles tidos por inanimados garantiram-lhe vida mais longa e a superação de empecilhos a seu conforto, o encurtamento de distâncias, a aproximação de povos e línguas, a miscigenação de culturas.

Em seus avanços, a humanidade desenvolveu uma tal ideologia de autonomia e reino sobre os elementos naturais que, hoje, vê-se ameaçada por sua volúpia dominadora. Justamente agora que compreende melhor as razões de sua presença sobre a Terra, caso não se dobre aos imperativos da ética, está prestes a eliminar a vida do planeta.

A ciência da ecologia se expande, apontando para a humanidade caminhos de sobrevivência pacífica não somente com os seus semelhantes, mas com todos os seres vivos e com os ditos inanimados, pois humanos e natureza gozam de uma igualdade intrínseca: todos vêm da mesma explosão-expansão.

A capacidade de orientar-se por valores justifica à espécie humana o título de “homo sapiens”. Ao afastar-se do pitecantropus erectus, mais se transforma em ser moral, com preocupações práticas. É então que a ética passa a orientar o agir humano. Entretanto, sendo o homem uma síntese das forças cósmicas, é natural que nele se revolvam, também, tendências de destruição. Razão por que, com freqüência às vezes desconcertante, nele eclodem comportamentos de fera (“homo demens”), cujos registros pontuam a História.

Para não poucos analistas, o homem entrou em rota de colisão com a vida, pois construiu a civilização neotécnica de consumo conspícuo, em que a riqueza é o norte de indivíduos e nações, grassa a competição, o egoísmo é adotado como ética privada, prevalece a filosofia do naufrágio ou o ‘salve-se quem puder”. Há, porém, quem veja neste começo de milênio que ora se celebra, um ponto de inflexão no qual se torna possível aplicar o conhecimento a favor da solidariedade e da preservação da vida. A disseminação da telemática – hoje a serviço de uma globalização desumana – estaria na origem desse processo.

A humanidade dispõe, hoje, de um crescente conhecimento sobre os sistemas que regem a vida sobre a Terra. Religiões e profetas, filósofos, cientistas e o testemunho de comunidades ancestrais fazem apelos para a convivência pacífica entre os viventes, de modo a se considerar nosso planeta como ser vivo, a cujo destino estão irremediavelmente associadas nossas próprias vidas. De Francisco de Assis, o Homem do 2º Milênio, ainda ecoam os versos que apontam para a paz ecosférica: “Irmão vento, irmão sol, irmã lua, irmão lobo tu és meu irmão...”. Uma utopia a nos fazer crer que da sabedoria ecológica e da responsabilidade ética surgirá o homem novo, irmão do universo.

O autor, Ademir Costa, é membro da ong Movimento Proparque.
Para conhecer a ong, visite a página www.movimentoproparque.blogspot.com

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