sábado, 9 de fevereiro de 2008

FRATERNIDADE E DIREITO À VIDA

Católicas criticam campanha da CNBB

Para o grupo Católicas pelo Direito de Decidir, a Igreja pode atravancar o andamento dos projetos de lei que abordam a legalização do aborto no Brasil. Ontem (7.2.2008), enquanto a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançava oficialmente em Belo Horizonte a Campanha da Fraternidade deste ano, com o lema “Fraternidade e direito à vida”, o movimento Católicas pelo Direito de Decidir divulgava um manifesto abordando pontos que considera contraditórios nas orientações da Igreja Católica. Entre eles, estão a condenação do uso de preservativos – preconizado pela Organização Mundial de Saúde para deter o avanço da Aids e salvar vidas - e a condenação das pesquisas com células-tronco embrionárias – que poderiam ajudar muitas pessoas a ter uma vida melhor, de acordo com o grupo.

Para a ginecologista e obstetra Neila Dahas, a campanha, que condena o aborto, poderá atravancar o andamento dos projetos de lei que tratam sobre a legalização da prática no Brasil. “Não acredito que a Igreja tenha o direito de influenciar o Estado, já que o país tem um Estado laico e para cuidar da saúde existe um ministério que tem a competência para tomar decisões”.

Editorial – Em editorial, o jornal Meio Norte comenta a posição contrária à interrupção não-natural da gravidez e ao uso de células embrionárias em pesquisa. Embora, para o periódico, a Igreja esteja impondo um pensamento único a todos os seus fiéis, a iniciativa abre oportunidades para um debate mais amplo e democrático a respeito dessas questões. “A discussão certamente sairá dos espaços sagrados para a mídia e outros fóruns, ajudando a diminuir dúvidas ou a consolidar posições contra ou a favor. É neste ponto que a Campanha da Fraternidade cumprirá um papel positivo”, explica.

[O Liberal (PA); Estado de Minas (MG); O Tempo (MG); Tribuna da Bahia (BA); Jornal Pequeno (MA); Correio da Paraíba (PB); Estado do Maranhão (MA); Correio da Bahia (BA) – 08/02/2008] FONTE: http://www.andi.org.br/

HÁ CONTRADIÇÕES NO
"DIREITO DE DECIDIR"

Ninguém é obrigado a ser cristão. Jesus disse ao jovem rico: "se queres ser perfeito, vem comigo." Aqui está o radical direito de decidir. Tomada esta decisão, as outras são decorrência. A beleza do cristianismo está na adesão livre à pessoa de Jesus.

Por
Ademir Costa
Jornalista Amigo das Crianças pela Agência de Notícias dos Direitos da Criança
Cristão

De saída, fique claro: sou a favor da vida e contra o aborto. Não por ser homem, mas por considerar a vida em si o valor máximo. A Igreja se coloca contra o aborto como qualquer grupo de brasileiros pode se colocar a favor ou contra. Aqui não cabe a lenga-lenga da separação Estado-Igreja. O Estado não só deve como precisa sofrer pressões de todos os grupos que compõem o povo brasileiro. E as igrejas cristãs e outras religiões, no Brasil, podem e devem pressionar para que sejam adotados medidas, leis, regulamentos que reflitam o pensamento da maioria dos brasileiros representados no Congresso Nacional.

A questão, quanto a aborto, é outra. Reconheço que a mulher tem direito a usar seu corpo. O homem também, claro. Direitos usados de forma desigual ao longo do tempo, por questões culturais, machismo, é verdade. Vamos, então, usar o corpo com coerência. Fica combinado: o homem não força a mulher, prevalecendo-se de ser mais forte. Relação sexual, só de comum acordo. Para usar bem o corpo, cada um conheça o seu, estude, tenha acesso aos meios de evitar a concepção indesejada. E estaremos no melhor dos mundos. Só engravida quem quiser.

Os métodos contraceptivos não abortivos sejam usados por todos. Caia o preço da camisinha, todos, meninos e meninas sejam educados quanto ao correto uso da pílula anticoncepcional. Quem quiser e estiver na idade, faça ligadura de tompas ou vasectomia. Estes métodos só envolvem o casal. Se houver alguma conseqüência negativa, algum efeito colateral, o casal seja advertido, de modo a entrar na jogada consciente do benefício a conseguir e das irreversibilidades dos métodos, quando for o caso. Exemplo: quer casar depois e fez vasectomia ou laqueadura de trompas?

Quaisquer métodos abortivos são antiéticos porque envolvem uma terceira vontade, a da criança. Ela é uma vida, uma pessoa, possuidora de dignidade pelo fato de estar viva, portadora de direitos reconhecidos pela constituição brasileira. Este é o argumento radical -- de raiz, não em sentido pejorativo. A vida humana é o valor máximo e começa no momento da concepção. Este é o argumento radical inicial. Se você discorda deste argumento, a partir daqui nenhum outro argumento vai convencer você.

Se a vida não tem valor, tudo o mais é secundário e qualquer argumento será usado para confundir e fugir o foco principal de que a vida é um valor. Para tergiversar, levantam-se questões como: a partir de quando há uma vida? No momento do encontro das células masculina e feminina? Um dia após a relação? Quando se forma o sistema nervoso? E por aí vai...

Vamos aos argumentos secundários: interessante é argumentar qua a mulher tem direito ao uso do corpo. E se em seu seio estiver uma menina? Esta não teria direito a seu corpo? Se a mãe da grávida atual tivesse cometido aborto, hoje ela não estaria exercendo seu direito de decidir. O direito de decidir começa na educação doméstica calcada no dar valor à vida. Inclui decidir pensando nos três: pai, mãe e filho/a. O que é bom para os três é ético. A decisão que elimina um dos três (o pai também) é antiética. Por ferir a dignidade da vítima e, também, a dos algozes (pais).

A HIERARQUIA DA IGREJA PISA EM FALSO, a meu ver, quando não educa os fiéis para o respeito à vida e quer impor a toda a sociedade o não-uso da camisinha. Aqui seus opositorres têm razão: os usuários da camisinha podem estar se protegendo da Aids e, assim, salvando suas próprias vidas. E mais: evitando conceber uma terceira pessoa, para abortá-la no dia seguinte ou alguns meses depois...

A hierarquia diz que o uso da camisinha é antiético. E pode ser, mesmo, mas nem sempre. É antiético, se cada um só pensa em si, não há compromisso de solidariedade entre os dois (casamento, no caso cristão) e há a busca egoista do prazer à custa do outro. Pode ser ato ético o uso da camisinha se, de acordo com os valores do casal, os dois querem ter prazer, sim, mas não querem filhos e estão conscientes disso, usam o preservativo com esta responsabilidade; e mais: um está tão preocupado com o outro que não deseja repassar nenhuma doença. Havemos de convir que, embora essas condicionantes ainda não satisfaçam o ideal cristão, chegam perto dele. Melhor que nada. Os dois estão agindo conforme sua consciência que não é uma consciência formada nos marcos do cristianismo. E demonstram, com esta atitude, encarar as conseqüências pessoais e sociais do sexo.

Então, que a hierarquia ensine aos fiéis o comportamento ideal para os cristãos e até para toda a humanidade, conforme os preceitos cristãos. Quem é cristão que siga sua consciência cristã, e será livre. Quem não for cristão e achar bonita esta postura, venha para as igrejas cristãs. Ninguém é obrigado a ser cristão. Jesus disse ao jovem rico: "se queres ser perfeito, vem comigo." Aqui está o radical direito de decidir. Tomada esta decisão, as outras são decorrência. A beleza do cristianismo está na adesão livre à pessoa de Jesus. O dever da hierarquia é anunciá-lo com dogmas claros, mas com base no conhecimento científico atual. Para não ser obscurantista.

Ao governo cabe, também, papel crucial: ensinar a toda a sociedade, pelo sistema educacional e pela grande mídia, o usufruto do sexo com responsabilidade. Alertando a todos que sexo tem conseqüências pessoais e sociais. Se, porém, a sociedade quiser aderir simplesmente ao princípio epicurista do prazer pelo prazer, valerá tudo (milhões já estão no vale-tudo). Parece que estamos saindo de uma sociedade com valores predominantemente cristãos para uma sociedade de valores mais seculares, pagãos, para usar um termo forte. O cristianismo surgiu no império romano e o converteu. Os fiéis do Cristo, hoje como ontem, continuarão fiéis a Ele. Agora com outra missão: evangelizar a nova Roma.

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