domingo, 25 de dezembro de 2011

Diálogo sobre transformação da sociedade

Troquei mensagens com um amigo acerca de nossa intervenção para melhorar a sociedade. A conversa foi boa e tocou em pontos como método de trabalho, melhor hora de agir, concepções de pessoa humana e de sociedade, diferenças religiosas. Veja em que você concorda. Meu amigo acha que primeiro vem a transformação pessoal Concordo com você neste aspecto, mas acho que não é ao mesmo tempo. Talvez quase ao mesmo tempo. Ou então: a coletividade representa a média dos esforços pessoais. Digo que na vida tudo tem de ser feito ao mesmo tempo Meu grande, A natureza nos dá modelos de processamento de várias realidades de vida e na vida. Dela podemos tirar lições para nosso mundo pessoal e social, sem dúvida, e é nisso que o ambientalismo atual aposta. A planta depende do meio [solo, ventos, luz e outros elementos], recebe do solo nutrientes e carbono, devolve oxigênio e material que aduba. Tudo ao mesmo tempo, agora. Entretanto, ela tem um tempo para processar elementos, florir e amadurecer os frutos. Na mesma planta, há ciclos de processamento simultâneo e outros que começam em uma e terminam em outra estação. Só algumas árvore dão frutos o tempo todo. Precisamos de sabedoria para distinguir o que devemos processar continuamente daquilo que demanda fazer, tipo uma coisa hoje, outra amanhã. Opto por mudanças simultâneas no pessoal e no social, pois enquanto construímos torres aprendemos a construir e aperfeiçoamos as técnicas da construção. Isso de modo genérico. Há coisas, entretanto, que só fazemos bem em fases posteriores. Com cinco anos eu não faria o discurso que pronunciei há pouco... mas faria um no nível daquela idade. Em resumo: prefiro fugir da tentação de nada fazer, alegando estar em preparação, argumentando que primeiro devo me transformar, para depois ajudar na transformação do mundo. Neste caso, prefiro encarar que ocorre tudo ao mesmo tempo, agora. Meu interlocutor continua a discussão Resumindo minha opinião a respeito das últimas discussões: Na verdade, eu não sou dono de nada, apenas das minhas virtudes e dos meus vícios. As pessoas apenas administram temporariamente os recursos de que julgam ser donas. Eu posso, em razão dos meus esforços, honestamente, aumentar a quantidade de recursos administrados, para benefício principalmente dos outros. A riqueza e a pobreza são duas grandes provações. Elas testam muitas virtudes e vícios. Algumas pessoas pensam que valem pelo que têm. É uma ilusão! Nós valemos pelo que somos! Minhas palavras: É isso mesmo, Amigo! As relações humanas têm suas leis, frutos de comportamentos e aceitos socialmente, “naturalizados” pela repetição. A sociedade nos transmite certas crenças de que esses são comportamentos certos e dignos de serem imitados. Assim, os Silvios Santos da vida podem nem se dar conta de que comandam uma engrenagem pela qual sugam riquezas do trabalho mal pago de seus semelhantes. Também nós trabalhadores podemos achar natural os gerentes de um grande banco ou de outra empresa qualquer [os ceos] ganharem “os tubos”, quando não precisam de tanto para sua sobrevivência. Nós nem sempre percebemos que os gerentes de hoje são os capatazes dos tempos da escravidão à moda antiga e que estamos em outro sistema escravagista. Em tal sistema, a “folga” alguns e o “aperto” de bilhões de seres humanos nos parecem algo natural, mas não é: são frutos da sociabilidade econômica engendrada por nós nos 3 últimos séculos... Podemos ser pessoalmente virtuosos, mas estamos em um sistema iníquo, no qual, às vezes saboreamos com prazer pratos que nossos algozes prepararam com nossos próprios cérebros => Hanibal [kkk]. Alegre-se, porém, porque isso não é uma maldição dos deuses e podemos construir uma sociedade melhor – de dentro da “matrix”, transformá-la. Feliz Natal! Provocação de meu amigo: Acho que você está com uma visão um pouco dicotômica, com relação a patrões e empregados. Todos temos nossas culpas e responsabilidades, em qualquer posição social que estejamos. Cabe a nós superá-las, não só lutando por um mundo melhor, mas sendo pessoas melhores. Meu "discurso": Amigo, prepare-se. Essa conversa vai ser longa. kkk Também não há dicotomia entre “lutar por um mundo melhor e ser pessoas melhores”. Até porque somos seres integrais e integrados no meio em que vivemos. Como disse alguém, “quem se eleva, eleva o mundo”, ou seja, quanto melhor a pessoa, melhor o meio a seu redor, pois ela “irradia” melhorias no ambiente em que está. Estamos de acordo nisso. Esta é a parte pessoal da análise do mundo real em que vivemos. Enquanto humanidade, criamos realidades que nos oprimem, muitas das quais nasceram com a finalidade de nos libertar de certas amarras. Exemplo rápido: criamos a democracia para nos livrar da tirania monárquica. Quem disse que os presidentes dos EUA não são tiranos atuais? Ou seja: a democracia criou seu contrário. Eles jamais admitirão isso, e tentam nos passar como real a ilusão de que eles são modelo de democracia. Conclusão: há uma tirania real que tentam nos passar [isso é pura ideologia] como o melhor dos mundos. Precisamos fugir dessa armadilha. O mesmo se aplica à economia: conjunto de relações de exploração em que uns instalam empresas que só funcionam “bem” se outros vendem seu trabalho por um preço abaixo do valor. É assim que funciona, mesmo que o dono e o empregado sejam, individualmente, santos e bem intencionados. O “sistema” criado por nós funciona assim, por mais que isso nos seja repulsivo. Há motivo de esperança, sim: porque poderemos criar outro sistema, até a partir desse, assim como a borboleta evolui da lagarta. Entretanto, só chegaremos à borboleta, se admitirmos a realidade lagarta. Não inventei isso, porque isso existe, da mesma forma como não criei a dicotomia patrão-empregado, iníqua como ela é. Ela é assim, independente de minha vontade de que ela não o seja. Agora: como superá-la sem admiti-la? Os donos do sistema querem fazer o trabalhador crer que a bomba atômica é uma bolinha de árvore de natal, porém isso é pura ideologia. Precisamos sair da ideologia [mundo das aparências] e enfrentar o real como ele é, por mais que isso nos doa. Para ficar bem claro: admitir este real não significa demonizar os empresários e angelicar os empregados. Ambos podem estar no mesmo patamar, tentando superar essa realidade; como podem estar se explorando mutuamente, a ponto de o oprimido de hoje ser o tirano de depois de amanhã e vice-versa. [como você disse, Todos temos nossas culpas e responsabilidades]. Outra possibilidade: ambos serem vítimas nesta “canoa furada”, sem o saber, e, por nem saberem, se satanizarem mutuamente. Outra hipótese: sabem, mas fingem que não é com eles. Na perspectiva da superação desse estado de coisas, temos algumas responsabilidades irrefutáveis: contribuir para que outros se dêem conta do mundo real; testar experiências que construam um mundo novo; fazer tais testes sem violência; contribuir para que quem se torna consciente do mundo real não degringole para a violência, o que acontece com certa freqüentemente, até porque a violência aparece como solução fácil. Ter a sabedoria de não condenar por antecipação os violentos, estes muitas às vezes em reação àquela outra violência institucionalizada, mas em vez da condenação, tentarmos descobrir o que está por trás da violência dos violentos, se não é aquela violência maior, para tentarmos extingui-la e “converter” os violentos de ambos os lados, pois todos dois tanto causam como sofrem violências. Não é meu papel convencer você. Estou convencido de que algo precisa ser feito e estou fazendo, mas com a humildade de admitir que posso até estar fazendo errado, e, ao mesmo tempo, com a esperança de estar fazendo o que precisa realmente ser feito para melhorar o mundo, o que é tarefa coletiva: para melhorar o mundo, o amor de todo mundo, grita um grupo de Fortaleza. Palavras de meu amigo: Nós somos imperfeitos por que o sistema é iníquo? Ou o sistema é iníquo por que somos imperfeitos? De qualquer forma, se mudarmos os homens mudaremos o sistema. Pode ser que a revolução comece de dentro pra fora. A revolução moral preceda a revolução social, política e econômica. Minha opinião: Eu gostaria de ouvi-lo mais acerca de meu longo discurso. Quando você entra nesse plano de sistema criado por Deus, a discussão para, os argumentos emudecem. Eu ainda gostaria de ouvir suas concordâncias, sugestões e discordância dentro do sistema criado pelo homem, como forma de instigarmos nossa mente, criatividade, no sentido de ajudarmos "a mudar o sistema iníquo e aceitar o sistema perfeito". É por aqui mesmo. Também acredito que "As mudanças podem ser graduais, mas acontecem. Que trabalhemos pelas mudanças necessárias e que sigamos com fé no futuro". Opinião de meu interlocutor: O sistema criado pelos homens é iníquo. Mas o sistema criado por Deus é perfeito. Aquele está dentro deste. Ter consciência disto ajuda a mudar o sistema iníquo e aceitar o sistema perfeito. O que precisa ser feito será feito. As mudanças podem ser graduais, mas acontecem. Que trabalhemos pelas mudanças necessárias e que sigamos com fé no futuro. Minhas palavras a respeito: Do ponto de vista cristão, como de várias religiões, o homem é um ser apartado de seu Criador e tudo o que ele inventa tem a marca dessa alienação. Joio e trigo formam o todo, individual e social se influenciam mutuamente. É o mesmo que a nova visão de mundo proposta para as ciências chama de holismo, daí as ações precisarem ser ao mesmo tempo de transformação social e individual. Agostinho Neto, aquele revolucionário de Angola compreendeu isso, ao escrever que “não basta que a nossa luta seja justa e pura; é necessário que a justiça e a pureza estejam em nossos corações”. Juntos aí o social e o pessoal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário