sexta-feira, 26 de março de 2010

Ato público em defesa do Titanzinho! 26/03/10















Movimentos sociais realizam ato contra construção de estaleiro

A comunidade do Serviluz e movimentos sociais de toda a cidade se manifestam em ato público nesta sexta-feira, 26, a partir das8h, na Praça das Docas, no bairro Serviluz. O protesto reúne aquelas e aqueles que serão atingidos diretamente pela construção do estaleiro e marca a luta em defesa do bairro, contra a construção da obra. Para os organizadores, esta é uma oportunidade de a população expressar, de fato, sua opinião. Muitos dos debates acerca do estaleiro não têm considerado a fala da própria comunidade, sendo balizados pelas discussões entre a Prefeitura Municipal de Fortaleza e o Governo do Estado do Ceará.

Exemplo disso é a alegação de que o empreendimento gerará empregos para a comunidade do Titanzinho. O morador do bairro Pedro Fernandes, que acompanhou a visita ao estaleiro existente em Pernambuco, defende que esse argumento já não convence a população. “Nós sabemos que a comunidade terá, no máximo, pouco mais de 10 empregos, o que é muito pouco para a gente. Em Pernambuco, há uma realidade diferente da nossa, apesar de que também houve muita exclusão. Lá é bem afastado da população urbana, poucas pessoas concorreram às vagas e, ainda assim, tiveram que contratar pessoas do Japão, porque tinha que ter especialização. Em Fortaleza, a concorrência vai ser muito maior, talvez mais de 1 milhão de pessoas concorrendo a 1200 empregos.”, afirmou. Pedro destacou que o ato também reivindicará a participação de representantes da comunidade na reunião que ocorrerá entre a prefeita e o governador, anunciada para o próximo dia 29, na qual será debatida a obra.

Durante o ato, também será denunciada a remoção de populações que está sendo empreendida pela Prefeitura de Fortaleza e pelo Governo do Estado, sob a alegação de que são necessárias para a realização das obras de infraestrutura para preparar a cidade para a Copa do Mundo de 2014. Segundo nota do Comitê Popular da Copa, que também está organizando o ato deste dia 26, “o projeto de construção do Estaleiro Promar na praia do Titanzinho é um pequeno ensaio de como será feita a remodelação da cidade pelos capitalistas: grandes empreendimentos – como o ‘Aquário Ceará’, de 250 milhões de reais, e a construção de uma ponte sobre a área de preservação ambiental do Cocó – que beneficiará alguns poucos e passará por cima de tudo e de todos”.

Dessa forma, o ato contra a construção do estaleiro será uma oportunidade para se trazer à tona o debate sobre o modelo de cidade que está sendo forjado pelos grandes empresários e pelos governos, em contraposição àquele formulado e defendido pelos movimentos sociais e pelo povo fortalezense. Espera-se, ainda, que seja um instrumento de pressão sobre o poder público e de publicização da opinião da comunidade do Titanzinho.

Serviço: Ato contra o estaleiro

Data: Sexta-feira, 26 | Horário: 8h

Local de concentração: Praça das Docas (Serviluz)
Mais informações:

Helena Martins - 8793.4091
Pedro Fernandes (Serviluz Sem Fronteiras) - 8775.9305
Sérgio Farias (Movimento dos Conselhos Populares) - 8627.6919

Eis o bonito texto do jornalista e professor Oswald Barroso sobre o Titanzinho:


O QUE ME CONTARAM SOBRE O TITANZINHO

Contaram-me que os moradores do Titanzinho darão graças a Deus quando o estaleiro der um fim à sua praia porque, sendo pobres e analfabetos, pouco estão ligando para a paisagem, embora ali o mar tenha peixes fartos e as melhores ondas para surfar de todo o Brasil. Pouco se importam também, disseram-me, que um paredão se instale entre eles e a praia, porque se pode passar muito bem sem jogar bola ou mesmo sem correr pela areia, tomar uma cerveja, olhar a lua, o pôr do sol, fazer qualquer coisa, desde que se tenha grana no bolso, emprego seguro, como promete um bom estaleiro. Contaram-me, inclusive, que eles concordam, até mesmo, em dissolver a comunidade se for necessário, empestada de funkeiros, ladrões e traficantes. Um estaleiro os livraria dos bandidos e vagabundos.

Em outra ocasião, deram-me o exemplo de um estaleiro que, chegando numa praia parecida com aquela, gerou emprego e renda, transformando de tal modo a vida do povo que muitos de seus habitantes, em pouco tempo, já possuíam carro e casa própria. Pareciam arautos de Deus, reunidos em uma assembléia do Olimpo, esses que falavam envergando paletós. Munidos de números e palavras técnicas, despejavam argumentos, demonstravam absoluta convicção no que diziam, embora alguns deles fossem ainda muito jovens. Como se tratava de grave questão e houvesse resistência, pois afinal não se condena todo dia uma praia com sua cultura ao desaparecimento, a maioria lavou as mãos e passou a responsabilidade aos técnicos. Caberia à ciência, essa nova religião, a palavra final. Os órgãos responsáveis pelo meio-ambiente dariam a palavra final. Assim estaria garantida a assepsia e a neutralidade da decisão, embora não estivessem esquecidas de todo as manchetes nos jornais dando conta de casos graves de corrupção comprometendo decisões e laudos técnicos dos citados órgãos.

No sábado fui visitar o Titanzinho. Ver para crer, ouvir com meus próprios ouvidos. Levei uma caderneta e uma máquina fotográfica. Voltei a ser repórter. Fui direto ao assunto. Anotei primeiro o que estava escrito em um muro de frente à praia. Tinha tudo a ver: “Contaram-me que os peixes não se importam de serem pescados, pois tem o sangue frio e não sentem dor. Mas não foi um peixe que me contou isso.” Havia um recital de poesia promovido pelo Grupo Chocalho com a participação de rappers locais. Alguns contaram em versos a história das lutas dos moradores para não serem despejados do Bairro Serviluz. Outro falou a propósito da ameaça da instalação do estaleiro na praia do Titanzinho: “Querem arrancar um pedaço do meu coração!”

As pessoas comentavam desconfiadas as promessas de emprego e renda advindas do estaleiro. Anotei uma fala: “- Quando construíram este porto aqui, com todas essas empresas, também prometeram emprego para o povo do bairro.” A propósito, o estaleiro citado acima, gerador de tantas maravilhas, fica em Pernambuco, em zona rural bem distante do Recife, local apropriado, portanto, longe dos centros urbanos, lugar bem diferente de um “santuário” da cultura praieira, como o Titanzinho.

Isso mesmo, o povo do Serviluz não abre mão de sua praia, foi o que lá me disseram. E eu digo: o Titanzinho é um patrimônio natural e cultural da cidade. É chão sagrado, é mar sagrado, onda de Tita Tavares e de outros Titãs. É patrimônio de Fortaleza. Nós não abrimos mão dele, nem por trinta bilhões, quanto mais por trinta tostões. Que as máquinas do dinheiro vão ranger noutro lugar.
Oswald Barroso

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