domingo, 21 de março de 2010

Alto consumo de água em Fortaleza

Manoel Filho

17/3/2010

Antes mesmo do período esperado, a escassez de água em Fortaleza começa a preocupar, como resultado do recorde de consumo registrado em fevereiro, quando foram utilizados 11 milhões de metros cúbicos para suprir a demanda. Ao longo dos 38 anos de operações da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), nunca houve um consumo semelhante, fruto das altas temperaturas e das condições de aridez.

A Capital não dispõe de fontes hídricas próprias que atenda à necessidade populacional do abastecimento de água potável expandido por quase todo o perímetro urbano, incluindo sua região metropolitana. Fortaleza só tem água para consumo de seus 2,5 milhões de habitantes graças aos sistemas Pacoti-Riachão e Gavião, reforçados, nos últimos tempos, pelo Açude Castanhão. Ainda assim, a partir de setembro de cada ano, começam a surgir falhas no sistema de distribuição, prejudicando os consumidores residentes em regiões altas que coincidem com o final das redes de água.

A demanda exagerada, detectada em fevereiro, pode se repetir neste mês de março, que persiste quente e seco, numa advertência clara da necessidade de mobilização da população para exercer o consumo responsável. Tradicionalmente, a estação das chuvas no Ceará se concentra entre fevereiro, março e abril. Mas neste ano, seguindo as linhas mais pessimistas dos prognósticos da Funceme, os registros pluviométricos são inexpressivos nestes dois primeiros meses, delineando mais um período de escassez de chuva.

Pelos dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), em janeiro, os grandes açudes públicos mantinham 79,4% de sua capacidade de reserva consolidados. Em fevereiro, caiu para 77,6% e, na primeira quinzena de março, para 73,9%. Este é outro indicativo preocupante porque, além da elevação do consumo, as perdas provenientes da evaporação estão se elevando.

A água represada no Ceará corresponde a 13 bilhões de metros cúbicos. Bem administrada, por via de adutoras disseminadas pelas áreas mais secas, daria para eliminar, de vez, a figura comprometedora do mais que centenário combate às secas representada pelo carro-pipa. E já estão identificados 70 municípios carentes desse recurso esdrúxulo, mas o único capaz de, nas atuais circunstâncias, chegar aos grotões.

Desta vez, todas as regiões do Estado encontram-se em pé de igualdade diante das evidências da estiagem prolongada, exigindo ações preventivas dos três níveis de gestão pública numa atuação para evitar o desespero dos grupos mais frágeis economicamente. A agenda eleitoral precisa abrir espaço para o anúncio de medidas objetivas para garantir o abastecimento, de gerar ocupação aos contingentes liberados das atividades agrícolas e de acomodá-los em suas áreas de origem, evitando o êxodo rural.

A intervenção nessa realidade comporta planejamento de caráter permanente. A seca faz parte do semiárido e há 400 anos se manifesta, de forma sazonal, desmantelando a produção primária e agravando as condições psicossociais dos nordestinos. Este ensinamento não foi aprendido.

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