sábado, 31 de março de 2012

Um Projeto para São Luís do Maranhão


José Lemos*

Em 1987 realizou-se em Oslo, Capital da Noruega, um encontro que reuniu Chefes de Governos, técnicos e pessoas credenciadas. O evento foi patrocinado pelas Nações Unidas e tinha como objetivo discutir o destino da humanidade. Foi um evento que produziu um documento seminal e que se transformou numa espécie de divisor de águas para o conceito de “Desenvolvimento Sustentável”.

O documento produzido foi chamado de Nosso Futuro Comum na edição em português ou “Relatório de Brundtland” em homenagem à Primeira Ministra da Noruega (Sra. Grö Brundtland). Dentre outras idéias interessantes, aquele documento apresentou um rol de oito sugestões que os países deveriam seguir para alcançar o desenvolvimento sustentável. Aquele desenvolvimento que é solidário com as futuras gerações, que são as dos nossos filhos, netos, bisnetos...

Das oito sugestões que foram apresentadas no Relatório, eu gostaria de destacar uma para justificar a continuidade das reflexões que havia começado na semana passada, visando contribuir para a redução do caos urbano em que se transformou a nossa São Luis. Estou me referindo ao que o Relatório chama de “controle da urbanização desordenada das cidades”. Este é o problema maior de cidades como São Luis. Como fazer isso? Colocando um enorme muro cheio de arame farpado e pondo homens fortemente armados em locais estratégicos para evitar que a população rural, tangida pela fome e pela apartação social, adentre na cidade? Óbvio que não pode ser assim, embora existam alguns lugares do mundo em que se freia a imigração através de instrumentos grotescos como este.

A urbanização desordenada das cidades se resolve com a promoção do desenvolvimento rural. E isso é muito mais simples e barato do que alguém que desconhece a realidade rural possa imaginar. As unidades agrícolas familiares são, a um só tempo, unidades de produção, unidades de consumo e unidades de afeição com o ambiente. As famílias rurais têm um apego muito grande com o espaço onde nasceram, foram criadas e vivem. Não sairão dali na primeira dificuldade. Somente sairão no “último pau de arara”, como Gonzagão diz em uma das suas mais belas canções com apelo social. Isso facilita muito, pois quaisquer medidas que minimamente atendam essas populações já resolvem.

A desorganização urbana de São Luis é decorrência exatamente do descaso que os sucessivos governos dedicam à principal vocação do estado, que é a produção agrícola. Um estado que tem apenas 6,2 anos de escolaridade média, que tem 20% de analfabetos e que tem o menor PIB per capita do Brasil que, alem disso, é pessimamente distribuído, não pode pensar em ancorar-se na geração de empregos urbanos nos setores de serviço e de transformação. Esses empregos são escassos e caros para serem gerados. Alem disso estão fora do alcance da população migrante por uma razão singela: está despreparada para eles.

Então o caos urbano de São Luis não será solucionado, enquanto perdurar a atual falta de prioridade ao desenvolvimento rural do Estado. Portanto, não se resolverão os problemas da cidade apenas com ações do governo local. Até porque, se a cidade apresentar sinais de avanços, e a zona rural continuar como está, será pólo de atração de contingentes migratórios despreparados. Não haverá recursos que bastem para resolver os problemas, como já vemos. As ações devem integrar governo do estado com prefeituras de todos os 217 municípios para viabilizar o desenvolvimento rural sustentável no interior.

O trânsito caótico de São Luis precisa encontrar soluções que não devem apenas ser de médio e longo prazo. Mas de curto prazo. A sugestão que fiz na semana passada de construção de linhas de metrô, aproveitando o antigo leito da RFFESA, é uma alternativa exeqüível de médio e longo prazo. As linhas se estendendo até Santa Rita ou, idealmente, até Miranda, que é cidade “entroncamento”. Transferir para Santa Rita a Estação Rodoviária de ônibus intermunicipais e interestaduais, retirando-os de circulação na cidade. Em Miranda seria construído um grande terminal de cargas, onde os grandes caminhões as deixariam para serem transportadas para São Luis por um comboio que teria apenas esta finalidade, fazendo uma viagem por dia. Assim, os grandes caminhões não entrariam em São Luis, o que também contribuiria para desafogar o corredor de entrada da cidade.

De curto prazo as administrações do estado e do município precisam entrar em acordo para acabar com aquelas “preferenciais” nos viadutos da Cohama e da Cohab. Ali estão dois pontos de estrangulamento que não acontecem no viaduto do Trabalhador. Aqueles dois viadutos precisam urgentemente de alças de escapamento. Com alças o trânsito naquela artéria fluirá de forma intensa. Sem elas a situação tende a agravar-se devido ao aumento do numero de veículos circulando em vias mais congestionadas.
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*Professor Associado III na Universidade Federal do Ceará. Escreve aos sábados para O Imparcial, jornal de S. Luís. Publicado aqui mediante permissão do autor.

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