Autor(es): Roberta Jansen
Cientistas, governos e ONGs criticam a falta de foco e
de uma agenda consistente
O mais importante evento ambiental antes da Rio+20
começou ontem em Londres com críticas à falta de foco da conferência que será
realizada no Brasil em junho. Batizado de Planeta sob Pressão, o evento reúne
alguns dos maiores especialistas do mundo em meio ambiente. Nas palestras de
ontem, não houve otimismo. O representante do Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação em Londres, Carlos Joly criticou duramente, na abertura da reunião,
os preparativos do Brasil.
— Esperávamos mais dos documentos e da agenda oficial —
afirmou. — Entendo que não é uma conferência ambiental, e sim calcada em três
pilares, social, econômico e ambiental. Mas o que está acontecendo é que clima
e biodiversidade, por exemplo, estão de fora da conferência. Falta ciência.
Estamos perdendo espécies num ritmo sem precedentes. Somos um dos países de
maior biodiversidade, e não discutiremos isso na Rio+20. Não teremos os pilares
econômico e social sem o ambiental. Joly
afirmou ainda que falta peso político à conferência. Segundo ele, dos 60 chefes
de Estado que já confirmaram presença, a grande maioria é da América Latina e
da África.
— Os mais importantes (neste tema) não estão lá, os que
têm peso político, como EUA, União Europeia, China, Japão. E essa será uma
oportunidade única, não podemos esperar mais 20 anos. O representante do ministério disse que o
rascunho do documento é vago demais.
— O Brasil tem um corpo diplomático reconhecido por sua
capacidade de negociação e articulação — disse. — Como anfitriões, deveríamos
nos colocar mais presentes, ter um papel diferenciado, liderando mudanças.
Precisamos de um esforço conjunto para evitar um fracasso. Por exemplo, se os
chefes de Estado estiverem lá e concordarem que o planeta tem limites que
devemos considerar, entender e respeitar, já é meio caminho andado. Mas, sem
isso, fica muito difícil.
Do outro lado do Atlântico, as expectativas não eram
melhores. Na terceira rodada de negociação informal, em Nova York, os países em
desenvolvimento, reunidos no chamado G-77, grupo do qual o Brasil faz parte,
temiam que o calendário apertado de reuniões preparatórias resulte num
documento generalista, desperdiçando a oportunidade política de criar uma
coordenação multilateral sobre o tema e de se implementarem ações concretas em
escala global. Por acreditar que não há tempo para costurar consenso, o grupo começou
a pressionar o comitê executivo da Rio+20 por mais rodadas de negociação. Apesar
disso, o secretário-executivo da comissão brasileira da Rio+20, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, está
otimista. Ele acredita que já há convergências importantes.
Chegou ontem às mãos do secretário-executivo da Rio+20,
Sha Zukang, uma carta-denúncia contra a exclusão dos direitos humanos do
documento final que será apresentado na conferência, em junho, no Rio. Uma
cópia da carta também foi entregue ao secretário-geral das Nações Unidas (ONU),
Ban Ki-moon, e a negociadores na organização. A retirada de temas considerados fundamentais,
como o direito à água potável e ao saneamento adequado, era um temor que acabou
se confirmando.
Intitulado "Rights at risk at the United
Nations" (Direitos em risco nas Nações Unidas), a carta, assinada por
representantes globais da sociedade civil e movimentos sociais de todo o mundo,
denuncia que, "de forma alarmante", a ONU estaria sendo usada como
plataforma para atacar direitos que, por definição, deveria defender. Os
tópicos excluídos do documento incluem desde
o direito à alimentação e à nutrição adequada até promover acesso à terra especialmente a mulheres, povos indígenas e
outros grupos vulneráveis.
Fonte: O Globo
Data: 27/03/2012
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