sábado, 29 de agosto de 2009

Da Ameaça do Automóvel à Saída do Automobilismo

O artigo provoca reflexão sobre a qualidade de vida nas cidades e propões que andemos de bicicleta e a pé, sempre que possível. É o AUTOmobilismo.

Carlo Tursi


Nas grandes cidades do Brasil e do Planeta a situação do trânsito está perto do estrangulamento, sobretudo nas horas do “rush”. A cada ano cresce, de forma assustadora, o número de veículos em circulação, agravando ainda mais um cenário urbano que caminha para o colapso. Enquanto em muitas metrópoles o fluxo do trânsito praticamente pára por algumas horas do dia, gerando engarrafamentos quilométricos, uma considerável parte da população, por ora usuária de transportes coletivos, almeja ardentemente tornar-se proprietária de um automóvel, em um futuro próximo. Se este sonho se realizar, as cidades brasileiras viverão seu pior pesadelo...
O número excessivo de automóveis em circulação é uma das principais causas das altas taxas de monóxido de carbono no ar dos grandes centros urbanos, o que constitui séria ameaça às vias respiratórias de seus habitantes. Além do mais, a sempre crescente frota de carros potencializa o aquecimento da cidade e da própria atmosfera do Planeta, contribuindo para o perigoso efeito “estufa”. Até para os cientistas mais sóbrios decorrerão deste quadro conseqüências climáticas catastróficas, caso não haja uma drástica redução da emissão de gases.
O uso indiscriminado do automóvel, até para locomoções de curta distância, está tornando os motoristas acomodados e obesos. Obriga-os a compensar sua falta de movimentação e exercício físico em academias caras, onde devem derramar litros de suor percorrendo caminhos fictícios na esteira. Entre todas as máquinas e aparelhos que – supostamente – aumentam nossa qualidade de vida, o automóvel se apresenta como o mais pernicioso, pois proporciona ao motorista uma sensação de poder e prazer que o vicia, fazendo-o esquecer-se do poder e prazer de automover-se. O resultado é uma civilização do elogio ao menor esforço possível, à moleza e à preguiça físico-mental.
Que saída temos?
Trocar veículos poluentes por não poluentes ou menos poluentes é insuficiente, embora seja o começo de uma reação. Proponho algo mais radical, mais fundamental: o princípio do a u t o m o b i l i s m o, aplicado ao ser humano. Enquanto o ciclismo é praticado apenas como um esporte ou hobby compensatório por inveterados motoristas, o automobilismo humano conclama para a adesão aos valores do automover-se, automotivar-se e automobilizar-se que pretendem fazer frente a toda uma civilização de dependência tecnológica, em que o ser humano se tornou “apêndice da máquina”, até mesmo seu escravo. O mundo necessita, mais do que nunca, de pessoas automovidas, automobilizadas e automotivadas. Sobram indivíduos que precisam estar atrás do volante de um veículo possante para se sentirem “capazes”, como sugerem os comerciais de carros na TV; ainda raros são aqueles que se comprazem em sua própria força e iniciativa, ao locomoverem-se. Um “automobilista” prefere a escada ao elevador, jamais se serve de um microprocessador para espremer uma laranja e ojeriza escovas de dente elétricas. Sente prazer em ver sua destreza e potência aumentar a cada esforço que faz, a cada desafio que vence. Acredita santificar-se com o seu próprio suor. Considera controles remotos e outros artifícios que nos poupam a automovimentação invenções diabólicas (o diabo sempre esteve interessado em evidenciar o fracasso e a pouca estatura do ser humano...). Para o automobilista, a bicicleta é o meio de transporte genial que permite fazer uso da roda e da tração, sem emitir gases tóxicos nem barulho, e que – pelo menos nas grandes cidades e nos horários de pique – ainda consegue ser mais rápido do que o automóvel!
Felizes os/as que trocam o automóvel pela bicicleta, sempre quando puderem, pois a eles/elas pertence o futuro da Terra!
V i v a o a u t o m o b i l i s m o h u m a n o!

Um comentário:

  1. Concordo plenamente em como a bicicleta é saudável para o ser humano e para o meio ambiente. Mas tem um aspecto que vale lembrar: O automóvel também traz a sensação de ''segurança'' para quem dirige.Tenho certeza que nos grandes centros urbanos as pessoas mais favorecidas economicamente entram em pânico ao pensar em pedalar. Elas se sentiriam alvos mais fáceis para assaltantes. Vejo o problema do transporte intimamente relacionado com nosso atraso social e cultural. Bom, é pra mostrar que passei por aqui, espero ter tempo de comentar outros posts.Abraço, Ademir!
    Ass- Israel

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