domingo, 26 de outubro de 2008

Greve dos Bancários Sugere que a Categoria é Descartável

Os que trabalhamos em bancos voltamos ao trabalho dia 24, após 17 dias de greve – nem todos, claro. Algumas considerações a meu ver pertinentes:

Apresentei e foi aprovada pela assembléia a sugestão de o Sindicato dos Bancários do Ceará promover um debate, estudo, mesa redonda, seminário ou evento similar sobre "que nova greve poderemos fazer, no atual ambiente tecnológico". Vale destacar que esta idéia eu já apresentara na greve de 2003 e repetira inúmeras vezes que fui a eventos no sindicato. Como não houve resposta, apresentei a idéia novamente e a assembléia aprovou jogar para depois da greve a discussão.

Por novo ambiente tecnológico entenda: internet, terceirização, auto-atendimento, interdito proibitório, lei de greve que impõe funcionamento de "percentual" de serviços. Mais: o velho "assédio". E, ao fim, a punição de pagar os dias parados. Em outras palavras: neste contexto, exercer o direito de greve mais parece um "rito formal e caduco". Pode-se fazer greve, desde que empresários e população não sintam falta de banco.

O ambiente mudou, o patronato afiou as garras e criou novas armas, porém nós ainda fazemos a greve dos anos 1980, útil para um ambiente tecnológico hoje ultrapassado. Parafraseando Chico Buarque, podemos concluir que "de tão usada, a faca já não corta" (Cálice).

Sugiro aqui fazermos uma "tempestade de idéias" com o objetivo de descobrirmos nova forma de fazer greve. Conversemos por e-mail. Quem quiser, use este blog ou meu e-mail ademircosta@ibest.com.br. Desta forma, você não corre risco por uso do e-mail da empresa. Quando (e se) o sindicato chamar para a discussão, já teremos acumulado alguma reflexão coletiva a respeito.

Nossas entidades ainda precisam "radicalizar a democracia" interna. Vi em prática nesta campanha salarial a velha máxima dos coronéis nordestinos: "para os amigos, pão; aos inimigos, pau".

Apenas 10 colegas podiam falar em cada assembléia. Cada investida da oposição recebia uma "cortada" vilenta da mesa diretora dos trabalhos. Quase tudo que vinha da assembléia era rejeitado pela mesa. Sentia-se uma barreira intransponível, pois a mesa estava com uma estratégia da qual não queria arredar. Lamentável. Penso, entretanto: se o Movimento de Oposição Bancária (MOB) atual estivesse no poder seria diferente? Lembrete: o sindicato de hoje é dirigido por membros do MOB de 20 anos atrás... (do qual fiz parte, embora como estrela de centésima grandeza. KKK!)

Há discurso novo no pedaço: alguns personagens novos disseram velhas verdades sem recorrer à agressão pessoal, indo mais à raiz dos problemas, dispensando chavões fáceis. Ainda bem! Esse pessoal promete.

Reflexão minha: o sindicalismo precisa colocar em primeiro plano o interesse dos trabalhadores. Jamais ceder à tentação de atender "também" a outros objetivos, embora nobres, mas que tiram o foco da questão sindical ou a enfraquecem. Nosso desatrelamento de partidos e de governos tem de ser a linha mestra do sindicato. Sempre.

Rola a suspeita ou acusação de que a CUT e seus sindicatos estariam demasiadamente alinhados com o governo Lula. É a isso que me refiro. Uma certa aproximação é compreensível. Lula é (ou foi?) o representante dos movimentos sociais do Brasil nas duas últimas décadas e de uma geração de sindicalistas. Esta geração sentiu-se "chegando ao poder" com Lula. A esta geração pertencem muitos da diretoria atual de nosso sindicato. Ainda assim, e principalmente após algumas "mancadas" de seu mandato, é necessária uma certa distância em relação ao governo, para criticá-lo, para pressioná-lo e trazê-lo para o lado dos trabalhadores.

Este tema é instigante. Quem quiser, opine. São idéias para discussão.

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