sábado, 6 de setembro de 2008

Água e Saneamento São Bens Vitais

Por
José Lemos
Professor Associado na Universidade Federal do Ceará. Autor do Livro “Mapa da Exclusão Social no Brasil: Radiografia de Um País Assimetricamente Pobre”. lemos@ufc.br.


No “Corão”, livro sagrado dos muçulmanos, está escrito: “Através da água nós proveremos a vida para tudo”. Na Bíblia dos cristãos também são constantes as passagens que mostram a importância da água para a vida. O Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU (RDH) de 2006, um documento de 420 páginas, tem metade do seu conteúdo dedicado para avaliar, analisar e mostrar a importância do acesso à água e ao saneamento para o desenvolvimento humano. Na pagina 6 desse relatório lê-se a seguinte passagem: “água e saneamento estão entre os mais poderosos instrumentos de medicina preventiva disponíveis para os governantes reduzirem doenças infecto-contagiosas. Investimentos nestas áreas eliminam doenças como diarréia, cuja prevenção significa salvar vidas”.
Há uma forte relação entre exclusão social e falta de acesso à água e ao saneamento. A ONU estima que das 6,7 bilhões de pessoas que hoje povoam o mundo, dois (2) bilhões não tem acesso a esses serviços. Esta entidade prevê que 30% da população da terra não terá água de qualidade em 2025 e que 1/3 não terá instalações sanitárias adequadas. As maiores carências estarão nos grotões da África, Ásia e América Latina.
Nos locais onde não tem água, são as mulheres e as crianças que a buscam nas mais diversas e longínquas fontes. Em Moçambique e em Uganda, as mulheres chegam a alocar até 15 horas diárias do seu tempo na busca de água para as suas casas. É bastante comum as mulheres caminharem até 10 quilômetros semanais nesses paises em busca de água durante os períodos de estiagem. As crianças pobres que precisam buscar água para prover as necessidades das suas famílias têm um custo adicional que é o de não poderem freqüentar a escola, porque no horário das aulas estão se deslocando para a fonte de coleta de água, como se depreende do depoimento de uma menina de 10 anos de idade no local chamado de El Alto que fica na Bolívia: “naturalmente que eu gostaria de estar na escola. Eu quero aprender a ler, escrever e também gostaria de estar lá com os meus colegas. Mas como eu poderia? Minha mãe precisa de mim para apanhar água e o local onde se busca água apenas funciona de 10 a 12 horas. Tenho que chegar cedo para conseguir um bom lugar na fila, porque muitas pessoas vêm para cá em busca de água” (RDH, 2006).
Este depoimento, que arrepia pela sua dureza, também poderia ser dado por uma criança do Maranhão ou do Ceará. Da Paraíba ou de Alagoas. Do Piauí ou da Bahia. Poderíamos ouvi-lo em qualquer rincão deste Nordeste. A falta de instalações sanitárias dignas é coadjuvante. Não dispor delas significa conviver com promiscuidade e com doenças. Assim, as famílias que moram nos domicílios mais pobres sem saneamento e água limpa estão mais vulneráveis a vários tipos de doenças.
Nos períodos de estiagem, em que as populações do Nordeste são abastecidas pelos carros-pipas, as populações pobres, que precisam recorrer a essa fonte de abastecimento, têm uma despesa extra com a compra da água. Na estiagem do ano passado (2007), por exemplo, no município de Salitre no Ceará, um dos mais carentes desse Estado, o preço de um vasilhame de 20 litros de água chegou a ser comprado por R$ 10,00. Ou seja, os pobres ainda têm que despender parcela significativa da pouca renda que auferem para comprar água a preços exorbitantes em épocas de maiores dificuldades.
Atualmente no Brasil estima-se que 16% da população, ou 30,4 milhões de pessoas, não tenham acesso à água encanada, e 30%, ou 57 milhões de brasileiros não disponham de destino adequado para os dejetos diários. As regiões mais carentes, em termos relativos, são o Nordeste, com 51% da população sem saneamento adequado; e o Norte, onde a ausência de saneamento penaliza 48% da população. Nessas regiões também estão os maiores contingentes populacionais com privações de água de qualidade. Paradoxalmente na região Norte, onde estão os maiores reservatórios de água doce do planeta, 44% da população não têm acesso à água de qualidade nos domicílios. No Nordeste este percentual é de 25%. O desdobramento dessas carências mostra que elas são muito mais acentuadas nas áreas rurais de todo o Brasil. O mapeamento também sinaliza que em estados como Alagoas, Piauí, Maranhão, Paraíba, Acre, Rondônia e Ceará as situações são muito mais difíceis. Não é por acaso que esses estados lideram o ranking brasileiro detendo os maiores percentuais de socialmente excluídos e possuindo os menores padrões de desenvolvimento humano. Prover saneamento e água de qualidade para uma população em crescimento contínuo é o grande desafio deste milênio no mundo. No Brasil e no Nordeste o desafio não é menor.

Publicação simultânea com O Imparcial, de São Luís do Maranhão.

Um comentário:

  1. eu quero sobre o disionario das vitais por que eu nao acho nada disso poriso eu presiso me da uma dica por favor eu quero sobre agua me ajudi e pra minha tarefa de escola me ajude me ajude

    xau obrigada pele sua prensensa

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