segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ainda comentando a fala de Ratzinger


O Papa está no seu direito de orientar os fiéis e a ação dos bispos. Sua fala foi inoportuna, por não respeitar o tempo de eleição no Brasil. Quis substituir o papel dos leigos. Na Igreja Católica, a hierarquia dá os princípios gerais, mas cabe aos leigos a ação política em partidos e movimentos sociais. O Papa sai desmoralizado pela enxurrada de votos em Dilma, se era o que queria evitar.

Por: Ademir Costa

EcoAmigos, ainda comentando a fala de Ratzinger: na pessoa, está tudo misturado: fé, ciência, convicção e opinião, admiração e horror, grandeza, honradez e baixaria, dedicação, esforço, vontade de acertar.

Assim, o Papa meteu-se na eleição por ser seu dever orientar também na questão política e por julgar ser oportuno o momento. Acho que não foi oportuno e eu disse isso sábado, 30, neste blog, antes do texto de Boff e do pronunciamento do Papa. A Igreja Católica tem uma bem fundamentada postura quanto à ação política: a hierarquia dá os princípios gerais, os fiéis militam nos partidos e movimentos concretos. A fala do Papa foi genérica, mas feita na hora indevida. E isso não foi por acaso, penso eu.

O pronunciamento do Papa, em si é bom. Ruim foi a hora. Creio que influenciaram nessa decisão o fato de os bispos conservadores desejarem uma palavra do papa, de leigos como Alkmim serem religiosos beatos influentes e uma mirada errada da diplomacia do Vaticano. No meu entender, o Papa falaria disso em outra oportunidade, passada a eleição. Por cabeça própria ou por sopro de assessores, ele deu o passo na hora errada. Sei que é direito do Papa -- e até dever -- posicionar-se sobre o tema, doa a quem doer. Porém ele não tinha uma faca no peito, poderia falar amanhã ou no próximo mês.

Dizemos que o Papa não erra quando define questões de fé. Mas aqui, no meu entender, ele errou no plano político. A eleição de Dilma que eu dava como certa em meu texto no blog confirmou-se. O Papa ficou "desmoralizado", se é que queria dar uma prova de poder mudar o rumo da decisão ou se é que o povo entendeu que era essa a intenção do Sucessor de Pedro. (Ficaram desmoralizados os estrategistas da "bomba"). Acho que ele não é desinformado e já sabia o desfecho eleitoral. Tanto que diz na sua fala que é preciso dizer o que deve ser dito, sem buscar aplausos, o que também é correto -- caso semelhante: foi o que Plínio fez, embora soubesse não ter chance de ganhar a eleição.

Este Papa é ortodoxo, como um Papa deve ser, mas sem coragem para o avanço. Portanto, acho que ele não está preocupado com o capital internacional, mas com a defesa cega da pureza de conceitos da moral vigente. Ele é incapaz de ver a moral como algo que evolui, levando em conta as circunstâncias. Com sua fala, passou como trator sobre a circunstância eleitoral desfavorável a ele. Daí ter sido esmagado pelos votos dos brasileiros que preferiram acreditar que Dilma não é aborteira (aliás, essa questão do aborto já saíra de pauta). É o que me parece.

Taí: a "bomba" que todos temíamos antes da eleição, para beneficiar Serra (Lembra da nota de Marilena Chauí? E das que se seguiram?), foi o discurso do Papa. Que acabou se revelando um traque.
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