segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sobre o Desmonte de uma Falácia

Acerca do post "Desmonte de uma Falácia", recebi e-mail com o seguinte comentário e com uma nota de jornal. Publico minha resposta e os dois textos, abaixo:

MINHA RESPOSTA

Amigo,
Obrigado pelo comentário.
A única falácia desmontada pela carta de D. Demétrio, no meu entender, é a de que a CNBB (entendida como a cúpula nacional da entidade representativa de todos os bispos católicos) teria recomendado não votar em A ou B, quaisquer que fossem os motivos.

No mais, fica claro que:
• a orientação foi do regional Sul I (um "departamento", digamos assim, da entidade nacional);
• foi calhordice distribuir a nota em cima da hora, com intenção clara de influenciar nos votos, quando a entidade nacional havia decidido não interferir no pleito;
• cada bispo é autônomo em seu território (diocese). Isso é claro desde sempre, por questões teológicas de explicação desnecessária aqui;
• o "debate" sobre aborto a que se refere a CNBB é dos bispos entre si ou entre os bispos e seu rebanho, jamais seria de público em uma campanha eleitoral (por minha militância como leigo em organismos da Igreja, sei que tal debate tem regras para não degringolar em bagunça, especialmente no ambiente emocional de uma eleição. Em geral os bispos são bem prudentes nestas coisas. Neste caso, não se trata de um dogma de fé mas de uma questão pastoral de implicações éticas (valor humano) e moral (valor de costume religioso). Assim sendo, amanhã, mas bote amanhã nisso, a hierarquia pode até fechar com uma posição diferente da atual em vigor. Na década 1960, Paulo VI deixou em aberto a questão dos anticoncepcionais na encíclica Populorum Progressio e até pediu ajuda aos cientistas. Aborto, união civil homoafetiva, sacerdócio para as mulheres, casamento de padres, uso de células-tronco, fertilização "in vitro" e assemelhados são temas a requerer muuuito "debate" na Igreja -- KKK. De um lado, porque alguns mexem com a dignidade intrínseca da pessoa (ex: aborto), de outro, pelos tempos atuais, de conservadorismo e de falta de debates internos na Igreja.

Discordo de que "a questão do aborto perpassa a política e a ideologia de grupos que disputam o poder". Posso até ser simplista, mas entendo como puro oportunismo esta discussão pelos dois em disputa pela presidência, se é este "o poder" a que você se refere.

E oportunismo também pelos setores das igrejas (inclusive da minha católica) que vieram meter o bedelho na eleição com a desculpa farisaica de que estão defendendo a fé, porque não estão. Para serem coerentes com a motivação de fé, deveriam não interferir, já que nenhum dos lados é radical (no bom sentido da palavra) na defesa da fé cristã. E com razão, até porque são candidatos à presidência, não são a papa ou papisa!! KKK

Talvez estes grupos de igreja estejam disputando "o poder" representado por mais "fiéis". Só que fiel mal formado e mal informado não passaria de massa de manobra -- neste caso, pura "calhordice" à la Ciro Gomes. O que seria lamentável.

Abração.
Ademir Costa

COMENTÁRIO RECEBIDO:

Caro Ademir, há controvérsias. A carta de d. Demétrio apenas confirma o quanto a questão do aborto perpassa a política e a ideologia de grupos que disputam o poder. Não há falácias, nem desmonte de jogo sujo porque o tal "jogo sujo" existiria em todas as correntes de pensamento. Aliás, elas nào sáo nem boas nem más, são divergentes. Nào há pureza de um lado e maldade de outro. A própria CNBB diz que os bispos estào, sim, livres para fazerem o debate sobre o aborto. E é claro que uma entidade como a CNBB jamais poderia ser favorável a tal ato, guardadas as devidas exceçòes - em caso de violencia sexual que resulte em gravidez e quando póe a vida da màe em risco. O resto é "calhordice" como bem faz questào de frisar o 'zaratustra' Ciro Gomes. Por fim, eis matéria desta sábado (9) no Estadão.
Abraços,
beto almeida

NOTA ANEXADA À MENSAGEM ACIMA

CNBB libera bispos para fazer debate sobre aborto
Segundo secretário-geral da entidade, d. Dimas Lara Barbosa, eles têm 'o direito e o dever de orientar seus fiéis sobre temas da fé e da moral cristã'
Leonencio Nossa, Estadão.com.


Um dia depois da campanha de Dilma Rousseff pedir direito de resposta a supostas ofensas de um padre num programa de TV da Igreja Católica, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi para os holofotes avisar que os religiosos estão liberados para participar da polêmica sobre aborto, tema de destaque na campanha eleitoral.
"Na sua diocese, o bispo tem o direito e o dever de orientar seus fiéis sobre temas da fé e da moral cristã. Eles são livres para fazer o que acharem que seja melhor", afirmou d. Dimas Lara Barbosa, secretário-geral da CNBB. Em entrevista na sede da instituição, ele ponderou que a CNBB não entrará no debate.
A entidade divulgou inclusive nota assinada por sua cúpula para reafirmar que não indica candidatos e "lamentar" que os nomes da instituição e da Igreja Católica tenham sido usados e manipulados ao longo da campanha.
D. Dimas ressaltou que os bispos, em especial, nunca foram impedidos pela CNBB de participar do debate. O religioso disse que a Santa Sé e o Direito Canônico não preveem mordaça aos bispos.
E evitou comentários diretos sobre a atuação do padre José Augusto, que numa homilia transmitida pela emissora Canção Nova, da Igreja Católica, pediu aos fiéis para não votarem na candidata do PT.
O secretário-geral da CNBB, no entanto, disse que todos têm direito à liberdade de ação e pensamento.
A uma pergunta se o debate em torno do aborto não está ofuscando discussões mais relevantes sobre educação e saúde, ele respondeu: "Eu acredito que o segundo turno está apenas no seu início e os candidatos não vão certamente se ater apenas a esse tema".
Ontem, durante o dia, sites ligados à Igreja Católica divulgaram informação atribuída ao jornal Valor Econômico de que o Planalto pediu aos bispos da CNBB o fim das hostilidades e comunicou que o governo poderia reavaliar o acordo com o Vaticano.
Lula e a própria Dilma, então ministra da Casa Civil, estiveram no Vaticano, em novembro de 2008, para costurar o acordo com o papa Bento XVI.
Na entrevista na CNBB, d. Dimas apenas ressaltou que a Igreja Católica tem papel importante na educação e na saúde do País.
A crise envolvendo a Igreja Católica e o Planalto vai além do tema do aborto, dizem representantes da CNBB. Os bispos se sentem desprezados pelo governo, que estaria dando atenção para lideranças evangélicas.
A CNBB também reclama da política do governo para a reforma agrária. O governo não teria cumprido promessas antigas. Os bispos não escondem a mágoa. Na entrevista, d. Dimas disse que a Igreja não tem candidato. Mas, diferentemente de outros tempos, deixou claro que não tem simpatia por uma candidatura

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