domingo, 4 de janeiro de 2009

Mudança de Paradigma

De: João Bosco Nogueira
Professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
e-mail bosco54321@yahoo.com.br
extraído doJornal O Povo, 03 Jan 2009.
Publicado aqui com autorização do autor.

Mudança de paradigma: eis uma expressão recorrente no século passado, e tema de muitas discussões. No rastro, outras tantas, como reestruturação, reengenharia, redesenho, etc, muito comuns no mundo da administração, ora como anúncio de saudáveis mudanças, ora como modismo ou invencionice do mundo das empresas, ou ainda, como meio de dourar a linguagem da dominação. É chegada a hora de se utilizá-la com adequação e sinceridade, para se falar de uma mudança séria e inadiável.
E que paradigma deve substituir qual paradigma? Filósofos e cientistas credenciados, como I. Kant e F. Capra, nos dão esta indicação: é preciso mudar o modelo civilizatório racional-materialista-positivista reinante por um novo, que inclua outras dimensões da vida, como a espiritualidade, e a compreensão da complexidade da vida, a das pessoas, a das demais criaturas e a da própria Terra, sem o que o futuro da humanidade se compromete.
Um novo paradigma se contrapõe à lógica fragmentada mecanicista, cartesiana e positivista que impregnou os modelos científicos, econômicos, políticos, sociais e culturais do Ocidente, principalmente. O atual paradigma de civilização, a rigor, tem origem no Racionalismo que deformou o humanismo inicialmente libertador, como em Thomas Morus e Erasmo de Roterdã, dando-lhe uma feição arrogante e reducionista, reforçada depois pelo Positivismo.
A crise que aí está não é, na origem, de natureza econômica, e muito menos a maior, que certamente ainda está por vir. É, antes de tudo, uma crise do atual paradigma civilizatório, que faz da economia e dos valores materiais sua centralidade. Por isso, sua solução não se dá apenas pela via econômica. Doravante, ou se muda de paradigma ou nada se muda, para ameaça da humanidade. Sem essa compreensão, o governo Obama não trará mudanças significativas aos Estados Unidos, e muito menos ao resto do mundo, pois a crise é outra, e como diz Capra, é uma crise de compreensão, donde a necessidade de se mudar de paradigma.

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