José Lemos*
Em 1987 realizou-se em Oslo, Capital da
Noruega, um encontro que reuniu Chefes de Governos, técnicos e pessoas
credenciadas. O evento foi patrocinado pelas Nações Unidas e tinha como
objetivo discutir o destino da humanidade. Foi um evento que produziu um
documento seminal e que se transformou numa espécie de divisor de águas para o
conceito de “Desenvolvimento Sustentável”.
O documento produzido foi chamado de Nosso
Futuro Comum na edição em português ou “Relatório de Brundtland” em homenagem à
Primeira Ministra da Noruega (Sra. Grö Brundtland). Dentre outras idéias
interessantes, aquele documento apresentou um rol de oito sugestões que os
países deveriam seguir para alcançar o desenvolvimento sustentável. Aquele desenvolvimento
que é solidário com as futuras gerações, que são as dos nossos filhos, netos,
bisnetos...
Das oito sugestões que foram
apresentadas no Relatório, eu gostaria de destacar uma para justificar a
continuidade das reflexões que havia começado na semana passada, visando
contribuir para a redução do caos urbano em que se transformou a nossa São
Luis. Estou me referindo ao que o Relatório chama de “controle da urbanização desordenada
das cidades”. Este é o problema maior de cidades como São Luis. Como fazer isso?
Colocando um enorme muro cheio de arame farpado e pondo homens fortemente armados
em locais estratégicos para evitar que a população rural, tangida pela fome e
pela apartação social, adentre na cidade? Óbvio que não pode ser assim, embora
existam alguns lugares do mundo em que se freia a imigração através de
instrumentos grotescos como este.
A urbanização desordenada das cidades
se resolve com a promoção do desenvolvimento rural. E isso é muito mais simples
e barato do que alguém que desconhece a realidade rural possa imaginar. As
unidades agrícolas familiares são, a um só tempo, unidades de produção,
unidades de consumo e unidades de afeição com o ambiente. As famílias rurais
têm um apego muito grande com o espaço onde nasceram, foram criadas e vivem.
Não sairão dali na primeira dificuldade. Somente sairão no “último pau de
arara”, como Gonzagão diz em uma das suas mais belas canções com apelo social.
Isso facilita muito, pois quaisquer medidas que minimamente atendam essas
populações já resolvem.
A desorganização urbana de São Luis é
decorrência exatamente do descaso que os sucessivos governos dedicam à
principal vocação do estado, que é a produção agrícola. Um estado que tem
apenas 6,2 anos de escolaridade média, que tem 20% de analfabetos e que tem o
menor PIB per capita do Brasil que, alem disso, é pessimamente distribuído, não
pode pensar em ancorar-se na geração de empregos urbanos nos setores de serviço
e de transformação. Esses empregos são escassos e caros para serem gerados.
Alem disso estão fora do alcance da população migrante por uma razão singela:
está despreparada para eles.
Então o caos urbano de São Luis não
será solucionado, enquanto perdurar a atual falta de prioridade ao
desenvolvimento rural do Estado. Portanto, não se resolverão os problemas da
cidade apenas com ações do governo local. Até porque, se a cidade apresentar
sinais de avanços, e a zona rural continuar como está, será pólo de atração de contingentes
migratórios despreparados. Não haverá recursos que bastem para resolver os problemas,
como já vemos. As ações devem integrar governo do estado com prefeituras de todos
os 217 municípios para viabilizar o desenvolvimento rural sustentável no
interior.
O trânsito caótico de São Luis precisa
encontrar soluções que não devem apenas ser de médio e longo prazo. Mas de
curto prazo. A sugestão que fiz na semana passada de construção de linhas de
metrô, aproveitando o antigo leito da RFFESA, é uma alternativa exeqüível de
médio e longo prazo. As linhas se estendendo até Santa Rita ou, idealmente, até
Miranda, que é cidade “entroncamento”. Transferir para Santa Rita a Estação Rodoviária
de ônibus intermunicipais e interestaduais, retirando-os de circulação na
cidade. Em Miranda seria construído um grande terminal de cargas, onde os
grandes caminhões as deixariam para serem transportadas para São Luis por um
comboio que teria apenas esta finalidade, fazendo uma viagem por dia. Assim, os
grandes caminhões não entrariam em São Luis, o que também contribuiria para
desafogar o corredor de entrada da cidade.
De curto prazo as administrações do
estado e do município precisam entrar em acordo para acabar com aquelas
“preferenciais” nos viadutos da Cohama e da Cohab. Ali estão dois pontos de
estrangulamento que não acontecem no viaduto do Trabalhador. Aqueles dois
viadutos precisam urgentemente de alças de escapamento. Com alças o trânsito
naquela artéria fluirá de forma intensa. Sem elas a situação tende a agravar-se
devido ao aumento do numero de veículos circulando em vias mais congestionadas.
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*Professor Associado III na
Universidade Federal do Ceará. Escreve aos sábados para O Imparcial, jornal de S. Luís. Publicado aqui mediante permissão do autor.
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